LUSOFONIAS – Nos calores deste Congo Brazzaville

Tony Neves, em Brazzaville

É quente esta República do Congo, cuja capital é Brazzaville. Habituamo-nos a citar o Congo como a antiga colónia belga com a capital hoje chamada Kinshasa. Mas essa é outra, é a República Democrática, que no tempo de Mobutu se chamou Zaire. Estamos situados…

Aterrei em Brazzaville vindo de Libreville, capital do Gabão. A temperatura estava uma brasa. Entrei na terra onde os Espiritanos chegaram no longínquo 1865. As Missões, nesta antiga colónia francesa, foram criadas e desenvolvidas por Padres e Irmãos da Congregação do Espírito Santo. Aqui se escreveram (e  continuam a escrever) páginas significativas da história da Igreja e da Missão.

O equador atravessa o país que tem 342 kms 2 de superfície e apenas 5,3 milhões de habitantes, porque parte do território é floresta. O francês é a língua oficial, mas o povo fala também lingala e kikongo. A independência foi em 1960, tendo uma história sofrida, pois os primeiros 30 anos foram de ditadura e, quando a democracia quis dar os primeiros passos, começou uma violenta guerra civil que vitimou o povo até quase ao início deste milénio. O lucro com o petróleo trouxe uma enorme prosperidade a uma pequeníssima elite, mas não beneficiou a população congolesa, permanecendo profundo o fosso entre ricos e pobres.

Voltemos à Missão Espiritana. Foi criado um Distrito, dependente da França. Em 1999, tornou-se uma Região da recém-fundada Província da África Central (PAC). É Província do Congo Brazzaville a partir de 2 de outubro de 2010. Hoje são mais de 70 Espiritanos nascidos e crescidos nestas terras congolesas, estando a maioria em missão fora de portas, como é tradição da família Espiritana. As Comunidades neste país são multiculturais, com Padres e Irmãos naturais dali e outros vindos de fora. Os Espiritanos sentem a honra e a responsabilidade de serem os fundadores da Igreja no Congo, onde continuam a desempenhar cargos de responsabilidade e a fazer uma opção clara pelas populações mais pobres e descartadas.

Atravessado pelo equador, este país faz fronteira com Cabinda e tem o Maiombe e outras áreas florestais ainda hoje habitadas por populações indígenas com que os Espiritanos vivem e trabalham, como acontece com os Likouala e os Sangha. Há um investimento enorme no acompanhamento de crianças e jovens com especiais dificuldades, como o ‘Espaço Jarrot’, o Centro Sala Ngolo e as Escolas ORA. Os Espiritanos estão presentes e intervenientes em sete locais, espalhados pelo país: Brazzaville, Pointe-Noire, Dolisie, Madingou, Lékana, Impfondo e Bétou.

Para mim, o Congo-Brazzaville tinha apenas dois rostos, o dos dois Espiritanos com quem vivo em Roma: o P. Alain Mayama (nosso Superior Geral, eleito em 2021) e o do Irmão Jean Claude Kibinda (ecónomo-Geral adjunto), nascido e crescido no Mayombe, nas vizinhanças de Cabinda. O Irmão Jean Claude tem já um longo percurso missionário, tendo passado boa parte da vida missionária a trabalhar nos Camarões. Assegura em Roma muitas responsabilidades como número 2 do Economato Geral, mas também é responsável pela beleza do parque-jardim da Casa Geral, cada vez mais ‘Laudato Si’, com muitas flores e, nas últimas semanas, com a plantação de uma dúzia de árvores citrinas, com laranjeiras, limoeiros e tangerineiras. O P. Alain Mayama é o primeiro africano eleito como Superior Geral desta Congregação missionária que conta com mais de 320 anos, pois foi fundada em Paris em 1703. Nascido em 1971, é um jovem Padre com um vastíssimo curriculum missionário. Fez a sua Profissão Religiosa em 1999 e foi Ordenado Padre em 2000. Foi nomeado para os Camarões onde exerceu responsabilidades na formação de futuros espiritanos da África Central. Enviado aos Estados Unidos para estudos Superiores, ali se doutorou, apostando também, nesse período, na Pastoral da Saúde, como Capelão de Hospital em Detroit. Regressou à África Central, como formador em Libreville, no Gabão. Foi eleito Superior Provincial do Congo Brazzaville em 2011, mas o Capítulo Geral de Bagamoyo (Tanzânia) elegeu-o Conselheiro Geral em 2012. Veio para Roma, aqui passou os dolorosos tempos de covid e, no Capítulo Geral de 2021, novamente realizado em Bagamoyo, abriu uma nova página na história desta Congregação, ao ser o primeiro africano a ser eleito Superior Geral, cargo que exerce.

É este país, este povo e estes missionários que estou a abraçar pela primeira vez e com quem quero fazer caminho nos próximos dias. Estas visitas são sempre uma graça pela riqueza dos encontros, das partilhas, da Missão que por aqui acontece num dia a dia sempre novo e desafiante.

Tony Neves, em Brazzaville

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Agência ECCLESIA

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