Tony Neves, em Roma
O Papa Francisco partiu para o Pai nesta Segunda-Feira de Páscoa. Esteve internado de 14 de fevereiro a 23 de março, com uma pneumonia bilateral. Regressou ao Vaticano e foi fazendo algumas aparições públicas onde não dava para esconder a sua extrema fragilidade.
Na Catequese para a Audiência Geral da Quarta Feira, 26 de fevereiro, escreveu: ‘o idoso Simeão vê a morte não como fim, mas como cumprimento e plenitude, espera-a como ‘irmã’ que não aniquila, mas introduz na verdadeira vida que ele já anteviu e na qual acredita’.
A sua Homilia para Quarta Feira de Cinzas (5 de março) é profética: ‘aprendamos, por meio da oração, a descobrir-nos necessitados de Deus ou, como dizia Jacques Maritain, ‘mendigos do céu’, para alimentar a esperança de que, nas nossas fragilidades e no fim da nossa peregrinação terrena, nos espera um Pai de braços abertos’.
Marcou o mundo a sua intervenção oral para a Praça de S. Pedro, durante a recitação do Rosário, na noite de 6 de março: “Agradeço de todo o coração as orações que fazem pela minha saúde desde a Praça, acompanho-vos daqui. Que Deus vos abençoe e que a Virgem vos guarde. Obrigado.”.
O Cardeal Tolentino Mendonça diria, na Praça de S. Pedro, no Domingo, 8 de março: ‘Que as nossas orações e o nosso afeto estejam próximos ao Papa e que, ao mesmo tempo, nos possamos tornar cada vez mais dispostos a acolher o Magistério da fragilidade e do sofrimento que estamos a receber neste momento do Santo Padre’, ressaltando que o Magistério de Francisco é ‘precioso’ e ‘nos torna responsáveis por acompanhar e cuidar dos doentes, dos pobres e de todos aqueles que sofrem’. Em seguida, o entregou a Maria, ‘guardiã e mestra da esperança que permaneceu fielmente aos pés da cruz de Jesus’: Ela ‘nos ensina a arte de compartilhar fraternalmente o peso da cruz’.
Para o Angelus do domingo 16, dia em que é publicada a primeira foto com o Papa, Francisco escreveu: ‘Partilho com vocês estes pensamentos, pois estou passando por um período de provação e me uno a tantos irmãos e irmãs doentes: frágeis, neste momento, como eu. O nosso físico está fraco, mas, mesmo assim, nada nos impede de amar, de rezar, de nos doarmos, de sermos uns para os outros, na fé, sinais luminosos de esperança. Quanta luz brilha, nesse sentido, nos hospitais e locais de cura! Quanto cuidado amoroso ilumina os quartos, os corredores, as clínicas, os locais onde se realizam os serviços mais humildes! É por isso que gostaria de convidá-los, hoje, a se unirem a mim para louvar o Senhor, que nunca nos abandona e que, nos momentos de dor, coloca ao nosso lado pessoas que refletem um raio do seu amor.’.
A manhã de Páscoa mostrou, pela última vez, ao mundo, um Papa frágil, mas com vontade de celebrar a Ressurreição de Cristo. Desejou ‘Boa Páscoa’, abençoou o povo e, deu uma volta completa à Praça de S. Pedro, beijando crianças e abençoando a multidão ali concentrada em grande número e em festa. Passou junto a mim e guardo dele o último sorriso.
Os Espiritanos tiveram a alegria e a honra de serem recebidos no Vaticano pelo Papa Francisco a 8 de maio de 2023. O último momento desta audiência foi particularmente feliz, pois ele deslocou-se até nós para fazermos uma foto coletiva que ficará para a nossa história. Sempre sorridente, apesar das evidentes dificuldades de locomoção. Depois da foto e de uma enorme salva de palmas, ele deixou a belíssima e histórica ‘Sala del Consistório’, no Palácio Pontifício, onde fomos recebidos nesta audiência papal. Regressamos a casa felizes e empurrados para a Missão que se torna cada vez mais urgente e atual. Ainda ecoam nos meus ouvidos e guardadas no coração as palavras do Papa: ‘o vosso carisma, aberto e respeitador, é particularmente precioso hoje, num mundo em que o desafio da interculturalidade e da inclusão é vivo e urgente, dentro e fora da Igreja. Por isso vos digo: não renunciem à vossa coragem e à vossa liberdade interior, cultivai-as e que eles sejam a imagem de marca do vosso apostolado’.
Na sua autobiografia, ‘Esperança’, recentemente publicada em simultâneo em mais de 100 países, o Papa Francisco, termina o capítulo 20, intitulado ‘o teu bastão e a tua vara dão-me segurança’ com esta frase: ‘quando estamos um pouco mais cansados, o Senhor sabe mesmo levar-nos ao colo’ (p.280).
‘Como está a viver a Páscoa?’ – perguntou um jornalista quando o Papa terminou a visita à prisão, na Quinta Feira Santa. A resposta surpreendeu e ganhou novo sentido hoje: ‘Vivo-a como posso!’.
Ontem, nas suas últimas palavras oficiais, lidas da varanda da Basílica de S. Pedro, o Papa deixou-nos um testamento difícil de cumprir: ‘Na Páscoa, ‘chega até nós um anúncio sem precedentes: o amor venceu o ódio. A luz venceu as trevas. A verdade venceu a mentira. O perdão venceu a vingança. Isso não significa que o mal não desapareceu da história, mas já não lhe pertence o domínio’.
Sim, Deus levou-o ao colo, ele está nos braços do Pai. Que descanse na Paz dAquele que tanto amou e serviu.
21.04.2025
Tony Neves, em Roma