LUSOFONIAS – Nhô S. António e Nhô S. João de Cabo Verde!

Tony Neves, na Cidade Velha, no Tarrafal e na Calheta

Aterrei na Praia em noite de sábado e, logo na manhã seguinte, levaram-me até à Cidade Velha para a celebração da Missa na Igreja da Senhora da Conceição, lá onde pregou o P. António Vieira no Natal de 1652! Os poucos kms que separam a capital atual da primeira capital percorrem-se depressa, pois a estrada é boa. Mas dói ver tanta secura na paisagem que nos cerca até chegar às ruínas da velha catedral, destruída pelos corsários há mais de três séculos. Dali fomos até à Capela de S. Martinho para celebrar S. António. Fomos acolhidos por um mar de gente em festa que animou e participou na Eucaristia. No fim, as grandes panelas de comida tradicional foram benzidas e todo o povo comeu, bebeu e dançou, tudo em honra deste santo popular, nascido em Lisboa, falecido em Itália, venerado e invocado no mundo inteiro!

Calor forte e carreiros de montanha a pique marcaram a minha primeira celebração de S. João em Cabo Verde. A festa, celebrada a 22, levou-me da Praia até ao Tarrafal e, dali até Mato Mendes, no interior da Serra da Malagueta. Depois, como o jipe não desce nem trepa montanhas, fomos a pé até à Lagoa, com subidas e descidas a pique (ai de quem tivesse vertigens!) e, uma vez chegados à ribeira seca, precisamos de mais de uma hora a andar em cima de pedras! A paisagem é esmagadora, quando olhamos para as rochas que nos circundam, mas o que mais impressiona é a secura da paisagem, toda ela pintada de castanho até que venham as primeiras chuvas, sabe lá Deus quando!

Para explicarmos bem o investimento de tempo feito para viver esta festa, basta dizer que saímos de casa às 8h e tal e começamos a Missa pelas 13 h e bastante! E há quem diga que a Ilha de Santiago é muito pequena!

A primeira paragem foi na casa da família do P. José Cabral e da Irmã Carla, nascidos ali na Lagoa. Depois, avançamos um pouco na montanha e chegamos a casa da família da Juíza da Festa, donde partimos em Procissão com o andor do Santo. O ponto de chegada foi a Capela de S. João onde teve lugar uma Missa muito animada, com o povo ao ar livre, a rezar e respirar os ares da montanha, sempre acompanhados pelo zurrar dos burros que, espantados com tanto movimento e ruído, fizeram-se ecoar naquele vale profundo!

Acabada a Missa, lá pelas 14h30, todos receberam um ‘bastão de S. João’, que muito jeito me fez para me amparar no resto do caminho. Voltamos à casa da primeira paragem, onde a todos esperavam grandes panelas com os pratos típicos, desde a feijoada à sopa, passando pelo couscous e outras iguarias. Eram já umas boas 4 da tarde, quando decidimos fazer a viagem de regresso a Mato Mendes, que me pareceu ainda mais longa e difícil. Mas trepamos e chegamos sãos e salvos, voltando a passar no Tarrafal e fazendo a estrada litoral que atravessa a Calheta de S. Miguel, Santa Cruz de Pedra Badejo, Milho Branco, entrando na cidade pela Avenida do Aeroporto Nelson Mandela. Eram mais de 20h quando tomei um bom duche e pude esticar um pouco as pernas…

A segunda festa de S. João foi no dia deste santo popular. Desta feita, aconteceu na Paróquia da Calheta de S. Miguel, numa comunidade confiada à sua proteção, que abrange dois bairros da cidade, ambos situados junto ao mar, na estrada que liga Praia ao Tarrafal: Ponta Verde e Jamaica. A Igreja está em construção, mas uma multidão de gente participou na Procissão pelas ruas do bairro, a que se seguiu a Missa solene. Depois, peregrinei de casa em casa para um almoço que quase me rebentava, tal a quantidade de famílias que me ‘obrigaram’ a entrar e a comer! Aqui mais uma vez, senti no coração a tão falada ‘morabeza’, essa imagem de marca do povo caboverdiano que podemos tentar traduzir por ‘hospitalidade’ em doses industriais!

Regressei à Praia pela estrada litoral, aproveitando o caminho para partilhar com o P. Saturnino Afonso as marcas em mim impressas nestes dias. E tive a alegria de encontrar diversas famílias de Espiritanos, uns que vivem e trabalham em Cabo Verde e outros que são missionários fora de portas. Estes encontros são sempre uma festa, ritual que repito todas as vezes que piso terras da ‘morabeza’ e da ‘sodade’!

Tony Neves, na Cidade Velha, no Tarrafal e na Calheta

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Agência ECCLESIA

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