Tony Neves, na Praia – Cabo Verde
A Diocese de Santiago foi criada no remoto ano de 1533! Poucas décadas antes, em 1460, Diogo Gomes e António da Noli atracaram na Ilha que hoje alberga a capital. Este é o ano oficial do início da descoberta de 10 ilhas que, na altura, não eram habitadas. Depressa começou o povoamento e, menos de cem anos depois, já Santiago era sede de Diocese! Estamos a falar das Ilhas de Cabo Verde, claro. E chamam-se assim porque, no Senegal, em frente, está o cabo Verde!
A história Espiritana começa aqui muitos séculos mais tarde. Em 1850 já há planos para enviar missionários a estas Ilhas. Mas a data que interessa para a nossa história é 1941. O Padre Faustino Moreira dos Santos, português a trabalhar em Angola, é nomeado Bispo de Cabo Verde. Parte de Lisboa para S. Vicente, de barco, e leva com ele três Espiritanos. Dali rumaram a S. Nicolau, Ilha onde estava o Paço Episcopal. Assim se dava início a uma nova era da história da Igreja em Cabo Verde.
Foram chegando novos Padres e Irmãos às Ilhas e, em 1946, a Casa Geral, em Paris, criou o Distrito Espiritano de Cabo Verde, dependendo de Portugal. Durante décadas, sucederam-se os missionários nas Ilhas de Santiago, Maio, Boavista e até chegaram a ter comunidade em Santo Antão.
À hora da independência, o Papa Paulo VI nomeia como 33º Bispo de Santiago o P. Paulino Évora, Espiritano que também trabalhava em Angola. Assim, a 21 de abril de 1975, é nomeado o primeiro Bispo cabo-verdiano da história. Foi um dinâmico e criativo organizador da Diocese que seria dividida em duas, com a criação da nova Diocese do Mindelo, em 2003. Seis anos mais tarde, D. Paulino torna-se emérito, sucedendo-lhe o atual Cardeal Arlindo Furtado, também ele formado pelos Missionários do Espírito Santo.
Foram muitos os Espiritanos que trabalharam nestas Ilhas, alguns em contextos muito complicados, por razões climáticas (fomes frequentes), sociais (desemprego, pobreza generalizada, emigração massiva…) ou políticas (basta lembrar o Tarrafal e o tempo do partido único). Sucederam-se os Superiores do Distrito até que o Capítulo Geral de Bagamoyo (Tanzânia, 2012) decidiu acabar com os Distritos e, desta forma, ligar todas as Circunscrições diretamente ao Conselho Geral em Roma. Assim, desde aí, há o Grupo Espiritano de Cabo Verde, que elegeu o P. João Baptista Frederico, cabo-verdiano, como seu primeiro Superior Maior.
Os tempos foram correndo e a Igrejas locais, nas Dioceses de Santiago e Mindelo, foram ordenando sacerdotes que assumiram, progressivamente, a animação das Paróquias espalhadas pelo país. Assim, os Espiritanos foram passando o testemunho e hoje estão apenas na Ilha da capital, tendo a Casa Principal na cidade da Praia e a responsabilidade pastoral de quatro Paróquias: Ribeira Grande – Cidade Velha, S. Tiago de Pedra Badejo, S. Lourenço dos Órgãos e Calheta de S. Miguel. O Superior do Grupo é, atualmente, o P. Saturnino Afonso, que fez o estágio missionário em Moçambique e foi missionário no Paraguai.
Cada três anos, os Espiritanos reúnem-se em Assembleia capitular para avaliar o caminho feito, lançar as bases dos próximos tempos e eleger o Superior e o seu Conselho. São hoje 25 os Espiritanos professos de Cabo Verde ou nomeados para trabalhar neste país lusófono. Trata-se de uma realidade muito plural, no que diz respeito a idades, culturas, formações e proveniências. Também constitui uma grande riqueza o facto de haver caboverdianos a trabalhar ou estudar em diversos países do mundo, desde o Brasil a Moçambique, da Bolívia e EUA a Portugal.
A Assembleia Espiritana está a acontecer na Praia nesta segunda quinzena de junho. Como convidados estão todos os membros do Grupo, de origem ou para aqui nomeados. Por isso, o ‘Plateau’ é o ponto de convergência de todos e ali se tomarão decisões para os próximos quatro anos. Haja abertura ao Espírito, haja discernimento…pois são desafiantes os nossos tempos e os novos que aí vêm, havendo questões missionárias a que é preciso responder com inspiração e coragem profética.
De Roma à Praia, por Lisboa, foi o meu rumo de viagem. Uma vez chegado à capital, tenho já a alegria de sentir o palpitar desta Igreja e deste povo que vive no meio de um mar sempre agitado. Aqui, as ondas da pobreza, provocadas por um clima semi-desértico, são contrariadas pelas vagas fortes da fé e da coragem de um povo que nunca cruza os braços e enfrenta todas as tempestades…
Prometo partilhar as alegrias e tristezas, as angústias e as esperanças destes missionários e deste bom povo com quem viverei os próximos dias.
Tony Neves, na Praia – Cabo Verde