LUSOFONIAS – Missão em dezoito cantos de França

Tony Neves, em Chevilly-Larue / Paris

Encontrei a França com muitos desafios. Não vim cá resolver nada, pelo que eles continuam à procura de respostas. A cidade de Paris estava, à minha chegada, cheia de lixo pelo chão, às toneladas. E havia manifestações de rua que terminavam a partir tudo, dando corpo ao Movimento Social Nacional Interprofissional que pretendia bloquear a decisão do governo aumentar o número de anos a trabalhar até alcançar a reforma. A decisão foi tomada, o desagrado de muitos saiu à rua e as greves multiplicaram-se. Além do lixo amontoado, as greves sentiram-se nas manifestações violentas e nos transportes e bloqueios de estradas.

Mas Paris tem ainda outro grande desafio pela frente: organizar os Jogos Olímpicos, num tempo em que a guerra na Ucrânia ditou o afastamento de atletas da Rússia e da Bielorrússia. Sabendo nós que a Rússia tem grandes aliados (China incluída), tudo isto ainda vai dar muitas voltas e não sabemos o que está para vir.

Vim a França para a visita canónica aos Espiritanos que se espalham por 18 Comunidades, um pouco por todo o país. Lá exercem a sua Missão, muito diversificada segundo cada um e cada contexto. Há comunidades que são mais administrativas, ao serviço do governo e animação da Congregação, como é o caso da Casa Mãe, no centro de Paris. Há outras que respondem mais pela difusão da Espiritualidade, como é o caso da Comunidade Poullart des Places, em Rennes, terra natal do fundador que dá o nome, ou em Saverne, terra natal do outro fundador, o P. Francisco Libermann. Outras ainda estão ao serviço de paróquias, todas elas em contexto de periferia pobre e arriscada, seguindo o carisma fundacional: Ozanam (Rennes), St Yves (Nantes), Blanc-Mesnil e Fontennay aux Roses (Paris), Lille ou Fameck, Servimos um santuário de S. José, com compromissos ecológicos à escala da Diocese (Allex). Temos uma comunidade ao serviço de um projeto educativo na Alsácia (Blotzheim) e bastantes outras ao serviço da Fundação de Auteuil, obra confiada à Congregação faz 100 anos. São 7 mil os funcionários em dezenas de casas, com muitos milhares de jovens que ali tentam a sua última oportunidade académica. A maioria destes educandos tem problemas familiares, físicos, psicológicos, académicos, em suma, sociais. Os Espiritanos investem fortemente nesta missão de alto risco, como se vê nas estatísticas da Província francesa. Há ainda a salientar a aposta na Formação de futuros missionários, quer em Paris, quer em Lille. Tive a alegria de participar em alguns momentos do Encontro Europeu dos Estudantes Espiritanos, realizado em Paris e Rennes, de 3 a 9 de Abril. Finalmente – e dada a elevada média etária de muitos missionários com longos percursos por terras de África, Américas e Ásia – há três grandes comunidades que acompanham anciãos: a Abadia de Langonnet (Bretanha), o Seminário de Chevilly (Paris) e a Comunidade de Wolxheim (Alsácia). Há ainda Espiritanos que partilham casa e vida com dezenas de outros padres, Irmãs e leigos numa casa que é propriedade das Espiritanas, nas periferias de Paris – Nogent-sur-Marne. Em ligação com as Comunidades, há dezenas de Leigos Associados e membros de Fraternidades, que partilham a Espiritualidade e a Missão dos Espiritanos.

Depois de passar em cada uma das Comunidades e falar com cada um dos confrades e leigos associados, Chevilly-Larue acolheu a Assembleia de Páscoa. Foi um tempo forte de partilha, encontro, celebração, reflexão e discernimento em grupo. O futuro é promissor, mas há desafios a que é urgente ir respondendo, desde a falta de jovens e envelhecimento óbvio, até à necessidade permanente de ir construindo comunidades interculturais e intergeracionais. Também é fundamental reestruturar o património construído e capitalizar o seu contributo para a missão, ajustando-o aos novos tempos que hoje se vivem.

Deixei Paris, após visita à comunidade das Irmãs Espiritanas que vivem num bairro social em St Michel, próximo da Prefeitura de Créteil, a cerca de 20 estações de Metro do centro de Paris. Foi bom sentir como vive uma Comunidade Religiosa num bairro habitado por gente que veio de mais de 60 países, com muitas expressões religiosas e culturais.

Aterrei em Madrid onde inicio já a ‘Volta à Espanha Espiritana’. Não vou guardar só para mim a riqueza de tantos encontros e de uma Missão tão feliz e tão plural.

‘Hasta luego!’.

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Agência ECCLESIA

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