LUSOFONIAS – Missão com ‘Gente de Primavera’

Tony Neves, em Roma

Domingo é o Dia Mundial das Missões. Há 99 anos, decorria o ano 1926, o Papa Pio XI instituiu o Dia Mundial das Missões, a ser celebrado anualmente no penúltimo domingo de outubro. O Papa Paulo VI, em 1963, escreveu a 1ª Mensagem com o objetivo claro de motivar a vivência deste Dia Missionário Mundial.

Os três Documentos Missionários mais marcantes da história da Igreja no século XX foram o Decreto ‘Ad Gentes’ do Concílio Vaticano II (1965), a Exortação Apostólica ‘Evangelii Nuntiandi’ do Papa Paulo VI (1975) e a Encíclica  ‘Redemptoris Missio’ do Papa João Paulo II (1990). Mas há que confessar que, cada um à sua maneira, todos os Papas valorizaram esta dimensão missionária e apelaram para o seu aprofundamento e consequente compromisso.

Ainda coube ao Papa Francisco publicar a Mensagem para este ano, com um tema focado no Jubileu que a Igreja vive intensamente à escala do planeta: ‘Missionários de Esperança entre os povos’. O convite é claro: todos devem ser mensageiros da esperança viva, nas pegadas de Cristo! Como diz o Prefácio ‘Cristo, Bom Samaritano’, ‘Ele ainda hoje se inclina sobre cada pobre, aflito, desesperado e oprimido pelo mal, para derramar sobre as suas feridas o óleo da consolação e o vinho da esperança’.

Todos os cristãos são discípulos-missionários, Igreja em saída, hospital de campanha, ‘portadores e construtores de esperança entre os povos’. Por isso, o Papa Francisco fez eco do início da Constituição ‘Gaudium et Spes’, saída do Concílio Vaticano II: ‘as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração’ (GS 1).

O mundo mais desenvolvido e rico apresenta ‘graves sintomas de crise do humano’ – escreveu o Papa Francisco. E explicou: ‘sensação  generalizada de desorientação, solidão e abandono dos idosos, dificuldade em encontrar disponibilidade para ajudar quem vive ao nosso lado. Nas nações tecnologicamente mais avançadas, a proximidade está a extinguir-se: todos nos encontramos interligados, mas não em relação’. Terminou este diagnóstico apontando um caminho de solução: ‘o Evangelho, vivido em comunidade, pode devolver-nos uma humanidade íntegra, saudável e redimida’.

Há que concretizar as ações indicadas na Bula de Proclamação do Jubileu, prestando uma ‘especial atenção aos mais pobres e fracos, aos doentes, aos idosos, aos excluídos da sociedade materialista e consumista’. Devemos fazer tudo ao estilo de Deus: ‘com proximidade, compaixão e ternura, cuidando da relação pessoal com os irmãos e irmãs na situação concreta em que eles se encontram’.

A missão da esperança é hoje urgente: os discípulos de Cristo estão ‘convocados a formar-se para serem ‘artesãos’ de esperança e restauradores de uma humanidade, frequentemente, distraída e infeliz’. Temos de ser ‘gente de primavera’, pessoas que rezam e vivem com um olhar sempre repleto de esperança. A oração ‘é a primeira ação missionária e, ao mesmo tempo, a primeira força da esperança!’.

A evangelização – recordou-nos o Papa Bento XVI – ‘é sempre um processo comunitário, como o carácter da esperança cristã’. É necessário e urgente investir cada vez mais na construção quotidiana das comunidades cristãs, uma vez que ‘na sociedade moderna, a pertença à Igreja nunca é uma realidade adquirida de uma vez para sempre’. A ação missionária – defendeu o Papa Francisco – , ao transmitir e formar a maturidade da fé em Cristo, ‘é o paradigma de toda a obra da Igreja’. Tal exige comunhão de oração e ação.

Esta Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Missões termina, como todas, com uma referência especial a Maria. Conclui: ‘a Ela entregamos o desejo de que ‘a luz da esperança cristã chegue a cada pessoa, como mensagem do amor de Deus dirigida a todos. E que a Igreja seja testemunha fiel deste anúncio em todas as partes do mundo’.

O Dia Mundial das Missões será celebrado no próximo domingo. Até lá, esta Mensagem –publicada com a data da Festa da Conversão de S. Paulo – vai trabalhar-nos por dentro para que continuemos a construir uma Igreja em saída, sinodal e missionária, identificada com Cristo e inspirada pelo Espírito Santo. E começa já a estar muito claro que estas convicções do Papa Francisco são assumidas pelo Papa Leão XIV. O nosso novo Papa tem uma experiência missionária notável que  será imagem de marca do seu pontificado. A Missão continua em força e o ‘ide pelo mundo anunciar o Evangelho!’ – o mandato missionário de Cristo tem, mais do que nunca, uma enorme atualidade. Nas quatros estações do ano que caracterizam a Europa, a Igreja e o mundo precisarão sempre de uma Missão com ‘gente de Primavera!

Tony Neves, em Roma

 

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