Tony Neves, em Roma
Um pneumonia bilateral atirou, a 14 de fevereiro, o Papa Francisco, pela quarta vez, para uma cama do Hospital Gemelli. Tudo parecia ser fácil de resolver, mas a verdade é que a situação se complicou muito e depressa, a ponto dos médicos começarem a divulgar um prognóstico reservado por causa de um estado clínico grave. Centenas de profissionais dos media mundiais invadiram Roma e foram amplificando o que ouviam e viam.
Anunciando melhoras ou pioras, a Sala de Imprensa, dia após dia, ia dizendo que o Papa alternava o repouso com tratamentos, exames, refeições, oração e trabalho.
No dia 25 de fevereiro, foi publicada a Mensagem do Papa para a Quaresma 2025. Em Ano Jubilar, pede : ‘Façamos este caminho juntos na esperança de uma promessa. A esperança que não engana (cf. Rm 5, 5), mensagem central do Jubileu, seja para nós o horizonte do caminho quaresmal rumo à vitória pascal. Como o Papa Bento XVI nos ensinou na Encíclica Spe salvi, «o ser humano necessita do amor incondicionado. Precisa daquela certeza que o faz exclamar: “Nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” ( Rm 8, 38-39)». Jesus, nosso amor e nossa esperança, ressuscitou e, vivo, reina glorioso. A morte foi transformada em vitória e aqui reside a fé e a grande esperança dos cristãos: na ressurreição de Cristo!’.
Na Catequese preparada para a Audiência Geral da Quarta Feira, dia 26 de fevereiro, o Papa dizia: ‘Simeão canta a alegria de quem viu, de quem reconheceu e pode transmitir a outros o encontro com o Salvador de Israel e das nações. É testemunha da fé, que recebe como dom e comunica aos outros; é testemunha da esperança que não desilude; é testemunha do amor de Deus, que enche o coração do homem de alegria e paz. Repleto desta consolação espiritual, o idoso Simeão vê a morte não como fim, mas como cumprimento e plenitude, espera-a como “irmã” que não aniquila, mas introduz na verdadeira vida que ele já anteviu e na qual acredita’.
Desafiante é também a homilia do Papa preparada para Quarta Feira de Cinzas, a 5 de março: ‘Aprendamos, por meio da esmola, a sair de nós mesmos para partilhar as necessidades uns dos outros e alimentar a esperança de um mundo mais justo; aprendamos, por meio da oração, a descobrir-nos necessitados de Deus ou, como dizia Jacques Maritain, “mendigos do céu”, para alimentar a esperança de que, nas nossas fragilidades e no fim da nossa peregrinação terrena, nos espera um Pai de braços abertos; aprendamos, por meio do jejum, que não vivemos apenas para satisfazer necessidades, mas que temos fome de amor e de verdade, e só o amor de Deus e de uns pelos outros pode verdadeiramente saciar-nos e dar-nos esperança num futuro melhor’.
Emocionante foi, a 6 de março, a primeira intervenção do Papa, apenas oral, para a Praça de S. Pedro, onde uma multidão se congregava diariamente para a oração do Rosário. Eu, juntamente com milhares de pessoas ali reunidas, ouvimos a sua voz muito frágil: “Agradeço de todo o coração as orações que fazem pela minha saúde desde a Praça, acompanho-vos daqui. Que Deus vos abençoe e que a Virgem vos guarde. Obrigado.”. Seguiu-se uma enorme e emocionada ovação. O Cardeal Tolentino Mendonça, na presidência do Rosário de 8 de março, pediria: ‘Que as nossas orações e o nosso afeto estejam próximos a ele e que, ao mesmo tempo, possamos nos tornar cada vez mais dispostos a acolher o Magistério da fragilidade e do sofrimento que estamos a receber neste momento do Santo Padre’.
Apenas a meados de março, surgiram boas notícias, com o Papa a reagir positivamente aos tratamentos e até seguir as pregações do Retiro da Cúria Romana. No exercício do seu Magistério, a 15 de março, o Papa aprovou o processo de acompanhamento da fase de implementação do Sínodo sobre a Sinodalidade, que se concluirá com uma Assembleia Eclesial, em Roma, em outubro de 2028! A Missão continua, imparável, não há marcha-atrás!
A primeira – e tão ansiada – foto do Papa no hospital foi finalmente publicada no domingo, 16 de março, pelo facto de ter concelebrado na Missa. Para o Angelus, o Papa Francisco confessou: ‘estou passando por um período de provação e me uno a tantos irmãos e irmãs doentes: frágeis, neste momento, como eu. O nosso físico está fraco, mas, mesmo assim, nada nos impede de amar, de rezar, de nos doarmos, de sermos uns para os outros, na fé, sinais luminosos de esperança’.
A luta pela vida e pela saúde continua. Mas, com Francisco, é poderoso o Magistério da Fragilidade!
Tony Neves, em Roma
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