LUSOFONIAS – Luzerna lusa

Tony Neves, em Luzerna e Lugano

Aterrei em Zurique numa manhã fria de sábado. Esperava-me o P. Aloísio Araújo, coordenador da pastoral das comunidades lusófonas na Suíça. Fomos colegas de carteira nos longínquos anos 80, quando estávamos a estudar Filosofia em Braga. Aqui nos reencontramos, quase quarenta anos depois. Levou-me até Luzerna, onde a pastoral lusófona tem a sua sede. E começou logo a maratona que faz correr o P. Aloísio todos os fins de semana, pois é o Padre da Missão Católica da Suíça Central. Fizemo-nos à estrada e, 25 kms depois, lá estávamos nós a celebrar festivamente a missa com a comunidade que se reúne em Schenkon. Uma meia centena de pessoas, na sua maioria jovens, com algumas crianças na linha da frente. Evocaram-se os defuntos das famílias presentes, pois no fim de semana dos Santos não houve ali celebração. O domingo começou cedo com a Missa em Baar, a 30 kms de viagem. Encontramos mais uma comunidade viva para uma celebração simpática. Depois, fizemo-nos novamente à estrada para a segunda Eucaristia, na Igreja de Emmen, em Luzerna. Chegamos cedo e pudemos visitar todas as salas de catequese. Esta é uma realidade muito viva entre os portugueses, pois há muitas centenas de crianças e adolescentes que têm a sua caminhada catequética em língua lusa. A tarde ainda seria longa, pois faríamos uma viagem de 50 kms para celebrar Missa em Erstfeld, quase à entrada do grande túnel de S. Gotardo. Ali encontramos uma comunidade de uma vintena de pessoas. Só não celebramos (mas visitamos) a comunidade de Ibach, situada a 50 kms de Luzerna, já no Cantão de Schwyz, aquele que deu o nome ao país. Escusado será dizer que, para além da riqueza destas celebrações e encontros, os olhos se enchem da beleza da paisagem. O lago dos Quatro Cantões, as casas que o ladeiam ou os chalés a trepar as montanhas, põe-nos como que diante de um presépio. E, a toda a volta, há picos de montanha já pintados de branco pela neve.

Regressados a casa, em Luzerna, foi tempo de descansar de um domingo intenso e preparar tudo para rumar até Lugano, a emblemática capital da Suíça Italiana. São 170 kms de sonho, tal a beleza de ladear os lagos, entrar no túnel de S. Gotardo, passar em Bellinzona e chegar a Lugano. Bellinzona é uma cidade muito antiga, património da humanidade. Basta subir a um dos três castelos para poder apreciar uma paisagem de sonho, com a cidade aos pés, com as suas sete Igrejas, três castelos e a muralha. Ao longe, todos os picos estão brancos de neve. Esta paragem de almoço encheu os olhos e carregou as baterias para que o Retiro dos Padres Lusófonos começasse à noite, no belo convento das Irmãs de S. Brígida da Suécia. A realidade da animação pastoral lusófona da Suíça é muito plural: tem padres, diáconos permanentes, irmãs e Leigos. São originários de Portugal, Brasil, Angola, Itália, México e Argentina.

O regresso a Luzerna permitiu a passagem por Schwyz e a participação na oração de vésperas dos monges do Mosteiro de Einsiedeln, fundado no séc. X. Momento alto é a vinda de uma vintena de beneditinos desde o coro ao fundo da Igreja onde há uma pequena capela dedicada a Nossa Senhora Negra. Ali cantam, diariamente, o ‘Salve Regina’. É neste grande e emblemático Mosteiro que todos os anos, no Pentecostes, as comunidades lusófonas fazem a sua Peregrinação, acompanhados da imagem de N. Sra de Fátima. Congregam cerca de 20 mil pessoas.

No fim de semana, participei em duas sessões de preparação de jovens para o Crisma. São cerca de 60, só aqui nas 5 comunidades animadas pelo P. Aloísio. Tudo terminaria com a celebração das Missas. E, para honrar São Martinho houve castanhas e jeropiga, vindas de solo luso.

Apesar do frio, ficam nos olhos os passeios, diurnos e nocturnos, por esta antiga cidade de Luzerna. O lago domina a paisagem. Por todos os lados, os picos expõem a neve que já por lá cai, salientando-se o Monte Pilates, o mais alto da região. A famosa Kapellbrucke (Ponte da Capela, que atravessa o Rio Reuss) é um monumento do século XIV, que todos os turistas se sentem obrigados a atravessar, vendo as pinturas que lá estão gravadas.

Regressei a Roma de coração cheio por ter encontrado e confraternizado com estas comunidades e estes padres que, por terras da Suíça vão construindo as suas vidas e vivendo com coragem e compromisso a sua Fé.

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