LUSOFONIAS – Jubileu com Portas Santas

Tony Neves, em Roma

2025 é ano de Jubileu para a Igreja Católica. Nada de novo e inesperado desde que o Povo de Deus exigiu ao Papa Bonifácio VIII um Jubileu e o primeiro teve lugar em 1300! Claro que este pedido do povo teve um suporte bíblico, uma vez que o Antigo Testamento fala dos jubileus judaicos que tinham lugar cada 50 anos e era algo muito sério. Nesse ano jubilar, as terras voltavam aos seus primeiros proprietários e os escravos eram libertados.

Os Jubileus, atualmente, acontecem, de forma habitual, todos os 25 anos e pretendem celebrar, ao longo do século, o nascimento de Cristo, as bodas de prata, ouro e diamante deste tão grande acontecimento para os cristãos. Também há jubileu no ano 33, para evocar a paixão, morte e ressurreição de Jesus. Depois, cada Papa pode lançar Jubileus Extraordinários, como o Papa Francisco fez em 2016, com o ano jubilar da Misericórdia.

Roma, como coração da Igreja, lá onde foram martirizados Pedro e Paulo, atrai milhões de pessoas em ano Jubilar. Assim, dão corpo a um dos valores mais celebrados, a Peregrinação. Claro que não se podem esquecer a Reconciliação e a Caridade, mas estes valores têm de ser vividos no mundo inteiro e ao longo de todos os anos.

Voltemos à Cidade Eterna: tenho a alegria de assistir ao desfile de multidões de pessoas que, vindas dos cinco continentes, visitam a capital italiana em ano de Jubileu. É impressionante ver a fila de peregrinos, mais ou menos organizados, a percorrer a Via della Conciliazione que desemboca na Praça de S. Pedro. À frente segue a cruz jubilar e os peregrinos vão atrás, cantando e rezando. O objetivo é chegar à Basílica de S. Pedro e entrar na Porta Santa.

A Porta Santa é um dos símbolos de excelência do Jubileu. O Papa Francisco, antes da crise de saúde que o levou ao hospital, teve a oportunidade de abrir as Portas Santas das quatro Basílicas Maiores de Roma. Eu, que aqui moro habitualmente, também já tive o privilégio de entrar em todas estas Portas Santas e vou partilhar o que senti.

A primeira em que entrei foi a de S. Maria Maior. Tenho, por decisão pessoal, o hábito de visitar esta Basílica sempre que saio e regresso a Roma. Por isso, ao chegar das visitas a Moçambique e Angola, fui agradecer a Deus a viagem, fazendo-o diante do ícone de Nossa Senhora. E, claro, fiz questão de entrar pela Porta Santa e de celebrar o sacramento da Reconciliação. Esta Basílica é a primeira do mundo dedicada a Santa Maria Mãe de Deus. Segundo tradição muito antiga, ali são veneradas relíquias da manjedoura do Presépio onde ela deu à luz Cristo, em Belém.

Dias mais tarde, acompanhando peregrinos, visitei S. João de Latrão, a Catedral do Bispo de Roma, sede desta Diocese que tem o Papa como Pastor. Entramos todos pela Porta Santa e pudemos desfrutar da imponência das estátuas dos doze Apóstolos que enquadram o espaço celebrativo desta Igreja dedicada, em simultâneo, a S. João Baptista e a S. João Evangelista.

S. Paulo Fora de Muros foi a terceira Basílica onde entrei pela imponente Porta Santa, situada à direita da fachada principal. Além do túmulo de S. Paulo, fascinam-me nesta Igreja a fachada principal e a capela-mor, com pinturas bíblicas em mosaicos de estilo bizantino. Apesar de tudo, o que mais atrai turistas e peregrinos nesta Basílica Maior é o desfile de pinturas de todos os Papas, desde S. Pedro. Uma luz indica que Francisco é o Papa que anima hoje a Igreja.

Por mais estranho que possa parecer, a última Porta Santa em que entrei foi a da Basílica de S. Pedro, que foi a primeira a ser aberta pelo Papa. Ali, o ritual é mais complicado, dada a afluência diária de milhares de peregrinos, quase todos com a firme vontade de ultrapassar aquela Porta. Assim, todos entram pela porta principal, sobem a Basílica até ao baldaquino e, depois, há um percurso anunciado para se voltar a sair da Basílica e entrar pela Porta Santa. Leva tempo a cumprir este objetivo, mas quem vem a Roma em ano Jubilar, não o pode dispensar. Alguém me dizia que veio a Roma sem ver o Papa (porque ele estava no Hospital!), mas não regressou a casa sem antes ultrapassar o limiar das quatro Portas Santas!

O Jubileu é para todos, mas há grupos especiais convocados: mundo da comunicação; vida consagrada; forças armadas, polícia e agentes de segurança; artistas; diáconos; voluntariado; missionários da misericórdia; doentes e mundo da saúde; adolescentes; trabalhadores; mundo empresarial; bandas musicais; Igrejas orientais; confrarias; famílias, crianças, avós e pessoas idosas; movimentos, associações e novas comunidades; santa sé; desporto; poderes públicos; bispos; padres; jovens, consolação; promotores da justiça; catequistas; mundo missionário; migrantes; espiritualidade mariana; equipas sinodais; mundo educativo; pobres, coros; reclusos.

Ou, para dizer como tantas vezes repete o Papa Francisco: este Jubileu é para ‘todos, todos, todos!’.

Tony Neves, em Roma

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

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