LUSOFONIAS – IX Dia Mundial dos Pobres

Tony Neves, em Roma

Foto: Tony Neves

Feliz e inspirada iniciativa do Papa Francisco, o Dia Mundial dos Pobres já vai na sua nona edição. Como sempre, o Papa vai presidir a uma grande celebração na Basílica de S. Pedro, este ano enquadrada no programa do Jubileu da Esperança. Na Mensagem, publicada como sempre em dia de S. António, o padroeiro dos pobres, o Papa Leão inspirou-se no Salmo 71 que afirma a confiança inabalável em Deus que nunca dececiona. Recorda que o pobre só confia em Deus porque ‘não conta com as seguranças do poder e do ter; pelo contrário, sofre-as e, muitas vezes, é vítima delas’.

Entre as muitas pobrezas que fazem milhões de vítimas, o Papa Leão elege a mais grave: não conhecer a Deus. Pois – como escreveu o Papa Francisco – a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual’. Os cristãos, desde muito cedo, ‘quiseram identificar a esperança com o símbolo da âncora, que oferece estabilidade e segurança’. Diz o Papa Leão que ‘a esperança nasce da fé, que a alimenta e sustenta, sobre o fundamento da caridade, que é a mãe de todas as virtudes. E precisamos de caridade hoje, agora’. E deixa ficar muito claro: ‘quem carece de caridade não só carece de fé e esperança, mas tira a esperança ao seu próximo’. É que – diz o Catecismo da Igreja Católica – ‘a caridade é o maior mandamento social’. E os pobres estão no centro de toda a ação pastoral.

‘A pobreza tem causas estruturais que devem ser enfrentadas e eliminadas’. Por isso, insiste a Mensagem: ‘Os pobres não são um passatempo para a Igreja, mas sim os irmãos e irmãs mais amados, porque cada um deles, com a sua existência e também com as palavras e a sabedoria que trazem consigo, levam-nos  a tocar com as mãos a verdade do Evangelho’.

Em muitos contextos, sucedem-se ‘novas ondas de empobrecimento’ e corremos o risco de nos habituarmos e resignarmos. Um dia, pode acontecer a qualquer de nós: ‘perder o que antes nos parecia seguro: uma casa, comida suficiente para o dia, acesso a cuidados de saúde, um bom nível de educação e informação, liberdade religiosa e de expressão’.

O Papa faz uma proposta ousada neste Ano Jubilar: que ele ‘possa incentivar o desenvolvimento de políticas de combate às antigas e novas formas de pobreza, além de novas iniciativas de apoio e ajuda aos mais pobres entre os pobres. Trabalho, educação, habitação e saúde são condições para uma segurança que jamais se alcançará com armas’.

Leão XIV, na sua primeira Exortação Apostólica, ‘Dilexi Te’ (‘Amou-te’), colocou como prioridade o amor aos pobres. As palavras conclusivas falam por si: ‘Quer através do vosso trabalho, quer através do vosso empenho em mudar as estruturas sociais injustas, quer através daquele gesto de ajuda simples, muito pessoal e próximo, será possível que aquele pobre sinta serem para ele as palavras de Jesus: ‘Eu te amei’ (Ap. 3,9)’ (DT 121).

Carmo Diniz, da Caritas de Lisboa, escreveu no PontoSJ, um texto provocador, por ocasião do Dia Mundial pela Erradicação da Pobreza, que se celebra a 17 de outubro. Disse: ‘A Igreja desempenha um papel fundamental na erradicação da pobreza: na sua diversidade de carismas e na informalidade da sua ação, cada um de nós é testemunha do tanto que a Igreja faz no silêncio da sua ação. Quer sejam formais ou informais, as respostas da Igreja para a erradicação da pobreza são mais do que podemos contar. A propósito do papel da Igreja na promoção do desenvolvimento integral o Cardeal Turkson,  afirma que ‘as religiões são atores fundamentais também em termos de desenvolvimento (…)  Mas, além disso, somos impelidos, como Igreja católica, pelo facto de que Deus nos amou, nos enviou ao mundo como missionários de amor’.  Esta motivação da Igreja define a nossa ação de uma forma determinante’.

‘A fome é um escândalo e um fracasso coletivo da humanidade!’, gritou o Papa no discurso na sede da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em Roma, a 16 de outubro. Foi claro ao denunciar: ‘673 milhões de pessoas vão para a cama sem comer e outros 2,3 mil milhões não têm acesso a alimentação adequada, do ponto de vista nutricional’ . Foi ainda mais longe ao afirmar: ‘Permitir que milhões vivam e morram atingidos pela fome é um fracasso coletivo, um desvio ético e uma culpa histórica’.

Condenar tantos milhões a uma pobreza miserável é um atentado contra a consciência da humanidade.

Tony Neves, em Roma

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

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