LUSOFONIAS – Igreja Sinodal Missionária

Tony Neves, em Roma

O Sínodo sobre a Sinodalidade dará mais um passo decisivo em Outubro. Já foi publicado o Instrumento de Trabalho (Instrumentum Laboris) da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos com um título provocador: ‘Como ser Igreja Sinodal Missionária?’. As palavras-chave são ‘alegria e renovação’, numa Igreja onde todos são chamados a ser ‘discípulos missionários’, o que implica a abertura à escuta das pessoas.

Este documento-base começa com ‘Fundamentos’ e tem três partes: I – Relações (nºos 22-50); II – Percursos (51-79); III – Lugares (80-108). Segue-se uma breve Conclusão.

Sobre fundamentos, este Texto-Base apresenta o significado partilhado de Sinodalidade. A Igreja vive pela escuta: escuta da Palavra de Deus, escuta do Espírito Santo, escuta uns dos outros, escuta da Tradição viva da Igreja e do seu ministério (6). Aponta para a unidade como harmonia nas diferenças: necessidade de atualizar a capacidade de anúncio e transmissão da fé; renovação da vida litúrgica sacramental; combater a tristeza provocada pela falta de participação de tantos membros do Povo de Deus.

A 1ª Parte fala das Relações com o Senhor, entre os homens e mulheres, na família, na comunidade, entre grupos sociais. Defende a necessidade de criar um ministério de escuta e acompanhamento; uma ‘porta aberta’ da comunidade (34).

Os Ministros Ordenados estão ao serviço da harmonia; há, por isso, que combater o clericalismo e o excesso de cansaço destes ministros.

A 2ª Parte reflete sobre Percursos, numa Igreja sinodal que é relacional. Daí a urgência de investir numa formação integral e partilhada: elaborar percursos formativos coerentes e aprofundados – formação na escuta (54); formar para o método da conversação no Espírito; corresponsabilidade e cooperação com o poder do Espírito Santo (55); formação integral – intelectual, afetiva e espiritual. Tem de se aprofundar o discernimento eclesial para a Missão: – promover uma ampla participação nos processos de discernimento (60); o ponto de partida e o critério de referência é a Palavra de Deus (61); o discernimento realiza-se sempre ‘com os pés na terra’ – contexto (64).

Deve haver uma melhor articulação dos processos decisórios. Fase de elaboração na instrução (decision-making) que informa e apoia a tomada de decisão (decision-taking)(68). Transparência, prestação de contas, avaliação – para promover a confiança recíproca necessária para caminhar juntos e exercer a corresponsabilidade pela missão comum (73). Escândalos financeiros e abusos sexuais retiram crédito à Igreja. Devem funcionar bem os Conselhos Económicos.

A 3ª Parte aponta para Lugares, falando da cultura, do contexto e de territórios onde caminhar juntos. Enraizar em contextos culturais e históricos específicos (80). Desafios da urbanização: pela primeira vez na história humana, a maioria da humanidade vive em contextos urbanos e não rurais (83). Analisar o acréscimo da mobilidade humana num mundo globalizado (84). Finalmente, a difusão da cultura digital (85).

As Igrejas locais na Igreja católica única e una. Os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, em particular, contribuem em larga medida para a vida das Igrejas locais e o dinamismo da ação missionária (90).

Os laços que dão forma à unidade da Igreja. A adopção de um estilo sinodal permite deixar de pensar que todas as Igrejas devam forçosamente mover-se ao mesmo ritmo relativamente a cada questão (95).

O serviço do Bispo de Roma em prol da unidade. Aprofundar e dar continuidade à caminhada ecuménica (107). ‘O diálogo ecuménico é fundamental para desenvolver a compreensão da sinodalidade e da unidade da Igreja’ (108).

A Conclusão projeta para uma Igreja Sinodal no mundo contemporâneo, com perguntas de respostas difíceis: Como ser Igreja Sinodal Missionária? Como nos empenharmos numa escuta e num diálogo profundos? Como sermos corresponsáveis à luz do dinamismo da nossa vocação batismal, pessoal e comunitária? Como transformarmos estruturas e processos de modo que todos possam participar e partilhar os carismas que o Espírito infunde em cada um para benefício comum, como exercer poder e autoridade como serviço? (111).

Perguntas complexas a exigir respostas refletidas, ponderadas e a rasgar caminhos de futuro.

Tony Neves, em Roma

 

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