LUSOFONIAS – Frei Lopes Morgado, a paixão pela Bíblia

Tony Neves, em Roma

O Deus que ele tanto anunciou chamou-o a 1 de março. Ofereceu-nos 85 anos cheios de amor à Bíblia, de uma paixão intensa pela poesia, comunicação e missão.

O Frei Lopes Morgado, Capuchinho de Areias de Vilar – Barcelos foi – como disse a Agência Ecclesia – uma figura maior do apostolado bíblico em Portugal. Um poeta é sempre uma figura ímpar em criatividade. Tal se nota na sua relação com as pessoas, na maneira como se exprime em conferências, celebrações e escritos. Mas também nas iniciativas que lança. Para a posteridade, fica o Jardim Bíblico que se pode visitar em Fátima no Centro Bíblico, uma ideia sua, concretizada com o engenho do arquiteto paisagista Miguel Velho da Palma. Foi inaugurado em 2003 e é visitado diariamente, pois ali estão árvores e plantas que se encontram nas geografias da Bíblia. O Frei Morgado também deixou a sua enorme e plural coleção de Presépios, o ‘Evangelho da Vida’, onde se pode perceber como o nascimento de Jesus é visto e expresso na diversidade das Culturas por esse mundo fora.

Dirigiu anos a fio a revista Bíblica, uma referência incontornável na difusão da Bíblia e na sua compreensão. Mas o seu carisma de comunicador nato revelou-se muito cedo. Se em 1965 já dirigia a Bíblica, em 69 lançou o programa ‘Maranatha’  e, em 73, o programa diário ‘Palavra do Dia’, na Rádio Renascença. Também fez parte, desde 1973, do grupo de Padres que presidiam à Missa na RTP. Colaborou no Diário de Noticias, na RDP 2, na TSF, na RTP (programa ‘70×7’) e em numerosas publicações eclesiais.

Os Cursos de Dinamização Bíblica e a revista Bíblica tiveram-no a tempo inteiro desde 1975.

Estudou Comunicação em Lyon – França e a sua missão de padre-jornalista está patente nas suas muitas obras publicadas, dividindo-se entre a Teologia Pastoral e a Poesia.

Gondomar, meu Concelho natal, contou com a sua missão, nos primeiros anos de padre, pois viveu ali na Fraternidade dos Capuchinhos entre 1962 e 1965, sendo professor no Seminário e na Escola Industrial. Voltaria a Gondomar em 1979 para fundar e liderar o Centro Audiovisual de Apoio á Pastoral (CAPAV). Teria ainda ali uma passagem fugaz em 1999.

O meu primeiro encontro com o Frei Lopes Morgado foi através das suas obras. Utilizei muito, na catequese e animação das Eucaristias, o seu livro ‘Para a Festa da Palavra’ (1984), era eu estudante de Filosofia em Braga. Depois, foi-me de enorme inspiração pastoral a trilogia que construiu sobre os evangelistas de cada Ano: Mateus (1986), Marcos (1987) e Lucas 1988). O último livro que comprei – e que utilizo muito – foi ‘ABeCedário do Espírito Santo’, publicado em 2017.

Encontrei-o inúmeras vezes e era sempre um momento de grande alegria e festa. Pude privar mais com ele por ocasião das suas Bodas de Ouro Sacerdotais, celebradas em Areias de Vilar, sua terra natal, em agosto de 2012. O meu envolvimento deveu-se ao facto do P. Lopes Morgado ter celebrado os 50 anos de Ordenação juntamente com dois outros padres: o P. Avelino, Diocesano de Braga, com um percurso de missão que o fez passar largos anos na Suíça com comunidades migrantes, e o P. Agostinho Loureiro, missionário Espiritano com mais de 50 anos de Missão em Angola. Como tinha, em 2008, vivido um intenso mês de Missão com Jovens Sem Fronteiras na Missão do Chinguar, onde o P. Agostinho Loureiro era o responsável, eu e os JSF fomos convidados a participar numa Semana Missionária de preparação desta celebração jubilar de três Padres tão diversos nas suas Missões, mas unidos pela raiz e pela ordenação sacerdotal. Esta Semana – e depois a celebração na bela e antiga Igreja da Paróquia – mostraram-me a alegria, a criatividade, a relação fraterna, a dedicação incondicional destes Padres à Missão e, claro, deu para aprofundar a amizade com o Frei Lopes Morgado.

A sua vastíssima obra completou-se em 2022 com a publicação de um trabalho fantástico de investigação a que deu o título ‘Apostolado Bíblico dos Capuchinhos de Portugal – 70 anos: 1951-2021’. Há que confessar que, de 1965 ate à sua morte, Frei Lopes Morgado ‘escreveu’, no seu dia a dia, muitas páginas deste Apostolado Bíblico.

As redes sociais, nos últimos dias, mostraram quanto este Frei era conhecido, querido e reconhecido na grandeza da sua Missão. Há pessoas que partem e deixam um enorme ‘vazio’, mas o Frei Lopes Morgado deixou-nos muito ‘cheios’ com o seu legado de vida e obra, de inspiração e construção que todos podemos e devemos revisitar para crescer.

Partiu um grande Missionário. Agora, há que dar continuidade à sua vida e obras. Há que ler o que escreveu e, porque não, começar por ir até ao Centro Bíblico de Fátima e ver os Presépios do mundo que ele colecionou e o Jardim Bíblico que intuiu e ajudou a criar.

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Agência ECCLESIA

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