Tony Neves, em Roma

Há notícias que nos entram pelo coração adentro deixando-nos um misto de sentimentos. A nomeação do P. Pedro para Bispo de Portalegre-Castelo Branco é uma delas. Falo de sentimentos mistos porque somos irmãos de Missão há quase 40 anos, amigos de peito e, por isso, a carga que lhe cai sobre os ombros faz-me tremer também a mim. Mas, por outro lado, a escolha que o Papa faz mostra a qualidade humana, intelectual e pastoral deste grande missionário Espiritano. E isso, obviamente, me honra muito, sobretudo por estar certo de que ele vai ser um bom Pastor, totalmente dedicado ao povo que agora lhe é confiado como Bispo.
O Pedro tem um percurso humano e cristão muito interessante. Filho único, nasce numa família já muito ligada aos Espiritanos através do Renovamento Carismático e da LIAM. Já estudava Filosofia na Católica em Lisboa quando decide experimentar a vida religiosa e missionária, entrando na Casa de Formação dos Espiritanos. Fez o Noviciado, professando em 1992. Daí para cá, toda a sua vida foi de inteira dedicação à Missão. Estudou Teologia em Lisboa, realizou o estágio de diácono na Guiné-Bissau e fez o Mestrado de Ciências da Religião, em Paris. Foi Ordenado Padre em 1996, aceitando a difícil e desafiante tarefa de ser um dos iniciadores da Missão Espiritana em Moçambique.
Tive a oportunidade de ainda o encontrar na ‘sua’ Missão de Netia, na Diocese de Nacala, uma área missionária imensa, cheia de comunidades espalhadas pela área florestal, pobre e abandonada pelas autoridades, ainda a pagar faturas de uma terrível guerra civil. Ali, juntamente com outros Espiritanos, desenvolveu uma atividade pastoral e social notável.
Depois, liderou outro desafio enorme: construir de raiz uma nova Missão, destacada numa das áreas de Netia: Itoculo. Nesta povoação isolada, situada a alguns kms da estrada Nampula-Nacala, foi preciso construir a residência, a capela, o Centro pastoral e, mais tarde, já com as Irmãs Espiritanas, avançaram para a criação (tão urgente como necessária) dos Lares para Rapazes e Meninas que vinham das aldeias do interior para frequentar a escola. E, de forma muito estruturada, lançaram-se na formação de líderes laicais, bem como nas visitas regulares às dezenas de comunidades que pertenciam à nova Paróquia de S. José. Assim abraçaram na perfeição a opção da Conferência Episcopal de Moçambique por uma ‘Igreja ministerial’.
Anos mais tarde, voltou a fazer as malas para ser, no Porto, o responsável pela casa de Formação Internacional que ali ainda funciona, com jovens vindos do mundo inteiro. E, claro, ali iniciou um trabalho pastoral muito interessante com os Jovens Sem Fronteiras e ajudou na sensibilização para a Missão dos futuros Padres da Diocese do Porto. Na ponte entre Moçambique e Portugal, foi a Roma fazer um curso de Formação de Formadores.
Quando eu fui eleito Superior Provincial dos Espiritanos em 2012, tornou-se o meu 1º Assistente, um daqueles braços direitos que é meia equipa, não querendo eu desvalorizar a restante equipa, toda ela fantástica. Foi o responsável pela Formação Espiritana, foi um conselheiro topo de gama, com quem sempre pude contar. Foi e é um amigo de peito, confidente de todas as horas.

Claro que ‘ganhou’ facilmente as ‘eleições’ quando eu terminei o segundo mandado, sendo Provincial dos Espiritanos de 2018 a 2024. Foram muito complicados esses anos, mas teve sempre inspiração, engenho e arte (e muita transpiração!) para animar a Família Espiritana em Portugal. Durante este período, participou comigo em dois Capítulo Gerais (2012 e 2021 – ambos na Tanzânia) e moderou o Conselho Geral Ampliado, realizado em Roma em 2016. Foi vice-Presidente da Conferência dos Religiosos de Portugal (CIRP), sentando-se com os Bispos nas Assembleias Plenárias da CEP. Sempre mostrou ser um Padre de profunda Espiritualidade, alimentada por uma vida intensa de Oração.
Findo este mandato de Superior Provincial, aceitou humildemente regressar à base (como acontece com todos os Espiritanos), sendo atualmente o administrador (dizemos ‘ecónomo’) da Comunidade Espiritana da Estrela em Lisboa, continuando a trabalhar como Animador Missionário. Foi lá que o surpreendeu o convite para esta nova Missão, agora Episcopal.
Recebemos aqui em Roma a notícia com tranquilidade, como mais um apelo a oferecer confrades para servir a Igreja universal. Dia 6 fora publicada a nomeação do P. Frédéric Rossignol, Espiritano Belga, também para o ministério Episcopal. Outros serão nomeados, juntando-se à ‘nossa’ trintena de Bispos espalhados pelo mundo. A Missão Espiritana é servir e, por isso, aceitamos sempre com humildade ‘perder’ confrades para que a Igreja ‘ganhe’ pastores.
Rezo agora pelo D. Pedro para que cumpra a Missão que Deus, pela Igreja, lhe confia. E que nunca lhe falte a inspiração do Espírito e a proteção da Mãe.
Tony Neves, em Roma