Tony Neves, em Paris
Paris. Foi aqui que, no longínquo 1703, o jovem Cláudio Poullart des Places fundou a Congregação do Espírito Santo. Também foi aqui que, em 1841, o P. Francisco Libermann lançou a Sociedade do Imaculado Coração de Maria. Seria ainda aqui, na Cidade-Luz, em 1848 (faz 175 anos!), que aconteceria a fusão entre estas duas famílias missionárias, dando origem aos Espiritanos que hoje, em 60 países, anunciam o Evangelho. É aqui, na Casa Mãe da Congregação, que releio a Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões e destaco algumas das ideias que considero mais provocadoras e inspiradoras para a Missão que hoje acontece nos quatro cantos da Terra. Vamos a elas!
‘Corações ardentes, pés ao caminho’ é o título extraído do texto bíblico que o Papa aprofunda na Mensagem: a história dos discípulos de Emaús! Estes sentiram o coração a arder, enquanto o companheiro de viagem (Jesus ressuscitado) lhes falava das Escrituras. Foi Cristo quem tomou a iniciativa de se aproximar destes dois homens desiludidos com a Sua morte injusta. Caminhou com eles, devolveu-lhes a esperança. Diz o Papa: ‘Jesus é a Palavra viva, a única que pode fazer arder, iluminar e transformar o coração’.
Seria já em casa, em Emaús, que os olhos destes discípulos de abriram, depois de Cristo ter partido o pão. Reconheceram Jesus como aquele-que-parte-o-pão! Diz Francisco: ‘Cristo que parte o pão, torna-Se agora o Pão partido, partilhado com os discípulos e depois consumido por eles.(…). Cristo ressuscitado é Aquele-que-parte-o-pão e, simultaneamente, o-Pão-partido-para-nós’. Por isso se conclui que ‘uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária’.
Depois desta fantástica descoberta, os discípulos perdem o medo da noite e sentem-se empurrados para o caminho, a fim de regressar a Jerusalém. São a imagem de uma Igreja em saída, para testemunhar, com alegria, o Cristo que Vive. Explica o Papa: ‘a imagem de pôr os ‘pés ao caminho’ recorda-nos, mais uma vez, a validade perene da ‘missão ad gentes’ confiada pelo Senhor ressuscitado à Igreja: evangelizar a pessoa toda e todos os povos até aos confins da terra. Hoje, mais do que nunca, a humanidade, ferida por tantas injustiças, divisões e guerras, precisa da Boa Nova da paz e da salvação em Cristo’.
Por isso, esta mensagem insiste na importância e urgência da conversão missionária das pessoas e comunidades, uma vez que ‘a ação missionária é o paradigma de toda a obra da Igreja’.
A caminhada sinodal que a Igreja está a fazer ajuda-nos a compreender que as palavras-chave serão sempre ‘comunhão, participação e missão’. Por isso – defende o Papa – fazer caminho sinodal é ‘pôr-se a caminho como os discípulos de Emaús, escutando o Senhor ressuscitado que não cessa de vir juntar-Se a nós para nos explicar o sentido das Escrituras e partir o pão para nós, a fim de podermos levar avante, com a força do Espírito Santo, a sua missão no mundo’.
Missão é partir. Por isso, sigamos a sugestão-orientação do Papa Francisco: ‘Saiamos com corações ardentes, olhos abertos, pés ao caminho, para fazer arder outros corações com a Palavra de Deus, abrir outros olhos para Jesus Eucaristia, e convidar todos a caminharem juntos pelo caminho da paz e da salvação que Deus, em Cristo, deu à humanidade’.
Voltemos a Paris. A Catedral de Notre Dame será sempre um lugar simbólico da presença da Igreja no mundo. Depois do incêndio que a devorou, está em fase avançada de reconstrução. Este edifício, património da humanidade e ex-libris de Paris, obriga-nos a olhar para Nossa Senhora, Mãe e Rainha das Missões. É à proteção maternal de Santa Maria do Caminho que o Papa Francisco, nesta Mensagem para o Dia Mundial das Missões, nos confia.
Estarei por terras de França nas próximas semanas. Visitarei diversas comunidades Espiritanas. Abraçarei muitos missionários que, mais jovens ou mais idosos, decidiram entregar as suas vidas ao testemunho do Evangelho, a maioria deles bem longe da terra que os viu nascer e crescer. Vai ser um fim de Quaresma muito intenso, a culminar numa Páscoa cheia de Missão.