LUSOFONIAS – Fazer-se ao largo, ao encontro de todos

Tony Neves

Estas Jornadas Mundiais da Juventude ainda falam alto e calam fundo no coração de quantos as viveram e acompanharam. Vamos hoje até ao Mosteiro dos Jerónimos, seguiremos para a Universidade Católica e terminaremos em Cascais, nas Scholas Occurrentes. Esta foi a viagem do Papa Francisco que será gora também a nossa.

O Mosteiro dos Jerónimos acolheu a Oração de Vésperas com Agentes Pastorais. D. José Ornelas, Presidente da Conferência dos Bispos de Portugal, na saudação ao Papa, falou do desejo de que ‘esta convergência de jovens, marcada pelo encontro com Cristo, os leve a entender e sonhar o sonho de Deus e a encontrar caminhos de participação alegre, generosa e transformadora, na Igreja e em toda a humanidade’.

O Papa, comentando a vocação dos Apóstolos, citou o primeiro grande momento destes pescadores que ‘cansados por nada terem pescado, desceram do barco para lavar as redes’. É neste contexto de trabalho quotidiano que Jesus chama os primeiros discípulos. Este é, muitas vezes, o cansaço dos missionários hoje, com muito trabalho e poucos resultados. Cristo vê a desilusão destes pescadores e manda-os de volta ao barco e pede-lhes que lancem de novo as redes. Há que ‘fazer-se ao largo!’, como bem explicam as palavras e a vida do P. António Vieira e S. João de Brito.

Mas não podemos ‘ir pescar sozinhos’. Precisamos de anunciar o Evangelho juntos: ‘A Igreja é sinodal, é comunhão, ajuda mútua, caminho comum’. Sempre com a convicção de que ’na barca da Igreja, deve haver lugar para todos’. Os cristãos têm de ser ‘pescadores de pessoas’, olhando também para testemunhos eloquentes como o de Santo António, ‘apóstolo incansável, pregador inspirado, discípulo do Evangelho atento aos males da sociedade e cheio de compaixão pelos pobres’.

O tema dos abusos foi abordado pelo Papa em diversos momentos e marcado pelo encontro que ele manteve com pessoas vítimas.

A Universidade Católica abriu as portas ao Papa. A Reitora, Isabel Capeloa Gil, foi clara: ‘somos uma universidade em saída’(…), ‘orgulhamo-nos do trabalho com jovens em situação de fragilidade social, económica, migrantes e refugiados’, ‘a Universidade é, por definição, um espaço de busca, de diálogo e de acolhimento’. Anunciou a criação de uma nova cátedra ‘Economia de Francisco e de Clara’.

O Papa pediu desconfiança às ‘fórmulas pré-fabricadas’ e às ‘propostas que oferecem tudo sem pedir nada’. Temos que nos sentir inquietos e em permanente estado de busca: ‘não nos alarmemos se nos encontramos intimamente sedentos, inquietos, incompletos, desejosos de sentido e de futuro, com saudades do futuro’. Não podemos aceitar substituir a estrada por uma estação de serviço que dê a ilusão do conforto: ‘procurai e arriscai!’, ‘sede coreógrafos da dança da vida!’, não sejam ‘administradores de medos, mas empreendedores de sonhos!’. Os universitários são chamados a transformar o mundo, a proteger a casa comum, sendo ‘protagonistas da mudança’. Francisco elogiou as intervenções dos quatro jovens que apresentaram facetas plurais do ambiente que se vive na Universidade Católica.

Cascais foi a etapa seguinte, a caminho da sede da Scholas Occurrentes, uma iniciativa lançada pelo Papa quando era Arcebispo de Buenos Aires, com o objetivo de envolver a comunidade humana num projeto educativo global pois – como disse José Maria Corral, Presidente, ‘uma educação que não gera sentido, gera violência, guerra e exclusão’. Durante alguns meses, jovens pintaram um mural de 3,5 kms que serviu de ilustração das barreiras de protecção nos últimos kms do percurso do Papa. A última pincelada seria dada por Francisco no fim do encontro. O momento foi informal com três jovens a fazer perguntas ao Papa: um guineense muçulmano, uma portuguesa católica e um brasileiro evangélico, mostrando bem o perfil desta instituição. O Papa ofereceu um quadro com a parábola do Bom Samaritano: ‘ninguém está dispensado de o ser. Na vida, é preciso sujar as mãos para não sujar o coração!’

Ainda não terminou esta viagem. Teremos que ir ainda até ao Bairro da Serafina e, depois, fazer uma síntese dos desafios de presente e de futuro que estas JMJ lançam. Não será tarefa fácil, mas há que ter a coragem de enfrentar os dias que aí vêm. Como repetiu o Papa: ‘Não tenham medo!’.

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Agência ECCLESIA

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