LUSOFONIAS – Fátima na Suíça alemã

Tony Neves, em Lucerna e Einsiedern, na Suíça

Há viagens que nos enchem a alma. Depois de uma semana de retiro em Rocca di Mezzo, lá nas montanhas do Abruzzo italiano, levaram-me à cidade de Aquila (tristemente célebre pelo terramoto que quase a destruiu em 2009) e, dali segui de autocarro até ao aeroporto de Fiumicino, em Roma, para viajar até Zurique onde me esperava o P. Aloísio Araújo, responsável pela coordenação da pastoral lusófona por terras helvéticas.

De Zurique a Lucerna, a paisagem outonal é magnífica. Vales e montanhas estão coloridos pelos tons outonais das árvores a caminhar para o tempo da queda das folhas. Era noite quando chegamos a Lucerna e foi na manhã seguinte que, passeando a pé junto ao Lago dos Quatro Cantões, pude encher os pulmões de ar fresco e, ao mesmo tempo, encher os olhos de uma paisagem de encanto. O centro histórico é tão antigo como majestoso, havendo a realçar as duas pontes medievais que atraem turistas aos milhares que se deliciam a tirar fotos e a atravessa-las. Elas transpiram história por todos os poros da madeira com que foram construídas e são de uma beleza ímpar.

A razão da minha ida a Lucerna era clara: presidir à Peregrinação das Comunidades Lusófonas à Abadia Einsiedeln, por ocasião do 13 de outubro, comemorando Nossa Senhora de Fátima. Aconteceu no domingo dia 12. A viagem de Lucerna até Einsiedeln, feita pela manhã, encheu-me os olhos da beleza de uma paisagem que obriga a contemplar montes arborizados e vales cultivados ou com dezenas de vacas a pastar na pradaria. Também são belos os muitos lagos que nos aparecem nas curvas da estrada que serpenteia entre povoações e florestas. Fazia frio, muito frio mesmo quando chegamos à histórica Abadia, o maior centro de peregrinações da Suíça. É tão antiga (cerca de 1200 anos!)  e imponente como bela pelo excelente enquadramento numa paisagem outonal de raro impacto visual. Aqui vivem cerca de 60  monges beneditinos que transformam este paraíso num lugar de espiritualidade, sempre cheio de grupos, famílias e pessoas individuais que aqui vêm para participar nas celebrações ou pura e simplesmente desfrutar da natureza, fazendo alguns dos trilhos pelo meio dos imensos campos e florestas cuidados pelos monges.

Largas centenas de portugueses e outros lusófonos encheram por completo a enorme Igreja barroca da Abadia. Tudo começou fora, nos jardins, com a Procissão em honra de Nossa Senhora de Fátima. Houve a recitação do Rosário, em Procissão, acompanhados pelo andor da Senhora, decorado por uma das comunidades. Nesta Procissão, integraram-se algumas crianças vestidas de Pastorinhos e um Rancho Folclórico.

A Eucaristia, na Igreja da Abadia, foi animada por um Coro que juntava todos os Coros que, domingo após domingo, garantem a animação litúrgica nas diversas comunidades lusófonas da região. Participei, no sábado, no ensaio geral realizado na Igreja de S. Maurício, em Emmen. Tudo ficou afinadinho. Com a aposta num repertório de cânticos muito conhecidos, foi fantástica a participação de todos, enchendo de harmonia a majestosa Igreja que, na mesma celebração, honrou a Senhora de Fátima (neste mês do Rosário) e incentivou ao compromisso missionário (neste mês igualmente dedicado às Missões).

A saída foi tão solene como a entrada, em Procissão, com o andor da Senhora de Fátima. Lá nos jardins da Abadia, conclui-se a celebração com uma Avé-Maria, a Consagração a Nossa Senhora e o Avé de Fátima, como não podia deixar de ser.

Pensava eu que tudo tinha acabado, mas ainda havia ‘trabalho’ pela frente. Numa das salas conventuais, estava preparada uma feijoada portuguesa que permitiu um tempo de confraternização.

O regresso a Roma foi ainda enriquecido por uma visita à Capela do Bosque, em Obernau, o lugar de peregrinação mais importante do cantão de Lucerna. Impressiona pela sua originalidade. Construída no meio da floresta, mostra a particularidade de ter uma Igreja dentro de outra! Ou seja, a Capela que existia tornou-se pequena e decidiram amplia-la, mas a opção final foi deixar intacta a original e construir uma nova, integrando-a. Com uma decoração muita barroca, é bonita de se ver e é local de peregrinação, como pude verificar no dia em quem  lá fui.

Graças a um trabalho pastoral antigo e bem organizado, as comunidades lusófonas marcam a Igreja na Suíça pela sua dimensão e, sobretudo, pelo seu compromisso cristão sério e persistente.

Tony Neves, em Lucerna e Einsiedern, na Suíça

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

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