LUSOFONIAS – Eucaristia aberta a todos

Tony Neves, em Roma

Há centenas de anos que a Igreja Católica diz que a Eucaristia deve estar no centro da vida cristã, mas nunca foi tão baixa a participação dos católicos na missa dominical. Há uma clara rutura entre o que a Igreja considera fundamental e a prática no quotidiano.

Há cem anos, o Portugal católico foi convocado para um primeiro Congresso Eucarístico Nacional. Braga teria a responsabilidade de organizar e acolher a 5ª edição, a provar que há um Congresso cada 20 anos, em média, o que foi considerado muito pouco.

Mais do que me perder sobre o muito que foi dito neste Congresso, aposto nas suas Conclusões felizes e desafiantes, porque atuais e de portas abertas ao futuro:

‘De 31 de maio a 2 de junho de 2024, realizou-se em Braga, nos dias seguintes à Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue do Cristo, o 5.º Congresso Eucarístico Nacional (CEN) por ocasião dos 100 anos da sua primeira edição. Com o tema “Partilhar o Pão, alimentar a Esperança. ‘Reconheceram-n’O ao partir o Pão’”, o congresso reuniu cerca de 1400 participantes, 4 cardeais e 30 bispos, estando representadas todas as dioceses portuguesas.

Ao longo de três dias, além de conferências, painéis com testemunhos e workshops, tiveram lugar relevantes momentos celebrativos e culturais: Eucaristia, adoração, laudes, vésperas, oração do terço, cantata eucarística, exposição e uma peregrinação a pé ao Santuário do Sameiro onde a Eucaristia de encerramento foi presidida pelo cardeal José Tolentino de Mendonça, delegado do Papa Francisco ao 5.º CEN.

Estes foram dias festivos em que a Igreja em Portugal se reuniu para refletir e rezar a centralidade da Eucaristia na vida dos crentes e a missão confiada a cada um que comunga o Corpo de Jesus, de ser esperança no mundo e para o mundo, numa época desafiante e de vertiginosas transformações.

Em ano de oração convocado pelo Papa e em pleno processo sinodal, depois da JMJ Lisboa 2023 e antes do Jubileu de 2025 – “Peregrinos da Esperança” – saem deste congresso algumas linhas orientadoras para a Igreja em Portugal:

*Redescobrir que a centralidade eucarística vai para além do Domingo. A Eucaristia deve ser preparada e celebrada como verdadeiro encontro com Cristo Ressuscitado, evitando que seja apenas o cumprimento de um preceito. Para uma presença alegre, consciente, ativa e frutuosa da celebração urge uma mais cuidada formação litúrgica.

*Manter as igrejas abertas e revalorizar a adoração eucarística. Os horários de abertura das igrejas devem ser adequados ao ritmo do mundo de hoje, procurando estimular os momentos de oração pessoal e envolver os leigos, confrarias do Santíssimo Sacramento, catequistas e demais agentes pastorais na dinamização dos momentos de adoração eucarística comunitária.

*Procurar o equilíbrio entre a Tradição e a necessidade de introduzir novas linguagens na liturgia, integrando os jovens nesse processo de renovação e adequando a espiritualidade cristã aos ambientes digitais e ao mundo secularizado.

*Reforçar a Eucaristia como escola de fraternidade e sacramento de unidade. O encontro comunitário na celebração do Domingo ultrapassa todas as fronteiras. Ao partilhar o pão, na mesa do altar, tornamo-nos companheiros de caminho e somos chamados a criar comunhão. A Eucaristia convoca todos, está aberta a todos e não afasta ninguém.

*Garantir a autenticidade e coerência entre o que se vive e anuncia. Quem participa, celebra e comunga tem de se sentir comprometido e impelido à missão. A Eucaristia celebrada na igreja tem de ser expressa para além das suas portas, através das respostas reais às necessidades concretas das pessoas, estendendo o seu abraço a todos, especialmente aos mais pobres, indefesos e os que estão afastados.

*Assumir a sinodalidade a partir da Eucaristia como lugar onde a Igreja se renova na comunhão, na participação e na missão.

*Ser sinal de Esperança. O amor dos crentes à Eucaristia acreditada, celebrada, adorada e vivida consolida a fraternidade, promove o perdão e a paz, tornando-se fonte inesgotável de esperança para o mundo.

Ao realizar o 5.º Congresso Eucarístico Nacional fica também patente o desejo de uma periodicidade mais regular na sua realização, esperando que seja um contributo para a construção da paz, da esperança e um veemente apelo à promoção de uma ecologia integral.

Confiamos a Maria, Mãe da Esperança, os bons frutos deste Congresso para que a Igreja em Portugal seja cada vez mais eucarística, samaritana e mariana’.

Faço minhas estas Conclusões. Que Eucaristia e Vida quotidiana partilhem uma cumplicidade inseparável, porque a Igreja e o mundo de hoje o exigem e dela necessitam.

Tony Neves, em Roma

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