LUSOFONIAS – Dom Mbilingi há 25 anos

Tony Neves, em Benguela

Estava a começar o ano 2000 e o P. Gabriel Mbilingi, Espiritano angolano, foi um dos que constou na lista do Papa João Paulo II para serem ordenados Bispos na Basílica de S. Pedro, por ocasião da Epifania, em ano de Jubileu.  Assim – e basta fazer as contas – o atual Arcebispo do Lubango celebrou, a 5 de Janeiro, as bodas de prata episcopais. Fiz uma viagem de ida e volta Luanda-Lubango para participar na grande celebração, realizada no Pavilhão da Senhora do Monte, que encheu por completo e deixou muita gente fora. Presidiu Dom Mbilingi, mas a homilia foi feita pelo Arcebispo do Huambo, Dom Zeca Martins. Evocou a sua já longa dedicação à Igreja, primeiro como Formador, Provincial e Conselheiro Geral dos Espiritanos e, nos últimos 25 anos, como Bispo de Luena e Lubango. D. Mbilingi foi Presidente da Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé (CEAST) e do Simpósio das Igrejas de África e Madagascar (SECAM).  Definiu o Arcebispo do Lubango como um homem  da Cultura e de Deus. Participaram 16 Bispos, incluindo o Núncio Apostólico. A Missa durou umas boas cinco horas, toda ela cantada e dançada, sobretudo nos momentos da entronização da Palavra, do Ofertório e de Ação de Graças. A Procissão de Ofertas durou uma eternidade, tal a quantidade de pessoas que foram oferecer bens, desde farinhas, bebidas e fruta até peixe seco, galinhas e cabritos… Tudo terminou com um almoço de confraternização, tendo os convidados assistido a danças tradicionais e escutado, ao vivo, música popular angolana.

Deixemos a festa no Lubango e retomemos a viagem de visita canónica aos Espiritanos em Angola. De Malanje segui para Ndalatando, onde os Espiritanos vivem e são responsáveis pela Sé e Missão de Cazengo.  Depois de atravessar o rio Lucula, os embondeiros aparecem vestidos de verde, nesta estação das chuvas. Surgem as primeiras plantações de café e a temperatura começa a subir. Chegados a casa, foi tempo de reuniões e encontros. Visitamos D. Almeida Kanda, o Bispo. A  visita concluiu-se com a celebração da missa na Catedral. No encontro com o  Conselho de Pastoral, foi evocado o nome do P. Marinho Lemos, que ali foi missionário e deixou marca, como viria a deixar em Lisboa, como Animador Missionário.

400 kms é a distância que separa Ndalatando dos Dembos. Fiz o percurso em duas etapas e dois motoristas. Fomos de Ndalatando até Viana, nas periferias de Luanda. Depois, continuamos em direção ao Cacuaco, avançamos até ao Caxito e, depois, fomos floresta dentro até à Missão dos  Dembos. Foram  oito horas de estrada, com bastantes troços em estado mau.

Dembos é uma Missão encravada numa das áreas florestais mais lindas que eu já vi. É responsável por acompanhar dezenas de povoações espalhadas por montes e vales. Teve uma plantação de café de muitos milhares de pés e está a tentar relançar a produção. As deslocações são difíceis por falta de transporte, pelo mau estado das estradas e por questões climáticas pois, no tempo das chuvas, há inundações, deslizamento de terras e muita queda de árvores frondosas. Celebrei na Igreja da Missão, dedicada a S. Teresinha e fui visitar as Irmãs Reparadoras que ali vivem desde tempos antigos. A Escola da Missão tem o nome do P. Mota, um Espiritano que trabalhou ali várias décadas e de quem ouvi várias referências muito elogiosas.

Deixei os Dembos rumo a Luanda, para fazer a viagem de ida e volta ao Lubango. Fui até Cabinda, chegando à Missão de Lândana, onde a Igreja mais antiga dos Espiritanos lusófonos ruiu e ainda não foi reconstruída, para tristeza e desencanto das pessoas. Celebrei Missa e encontrei o Conselho Pastoral. A área missionária é enorme e de difícil acesso, sobretudo quando chove. A Escola tem centenas de alunos. Decisivo é o papel das Irmãs de S. José de Cluny. Já em Cabinda, com D. Belmiro, a aposta foi para a formação de líderes juvenis, seminaristas e jovens vocacionados/as.

No regresso à capital, tive a alegria de celebrar a Eucaristia na Igreja em construção da Comunidade da Congeral, na Paróquia de S. Pedro do Prenda. É um edifício enorme, dedicado a S. Teresinha, fruto da dedicação de um povo simples e pobre, mas com uma enorme garra que já lhe permitiu fazer fundações, levantar as paredes e aplicar o tecto.

Benguela seria a estação seguinte desta viagem. De lá, passando pela Catumbela e Lobito, subirei ao planalto central, com paragem no Monte Belo, Bailundo, Andulo, Kuito, Chinguar …ate chegar ao Huambo. Para a semana conto como foi…

Tony Neves, em Benguela

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