LUSOFONIAS – Do Huambo a Luanda

Tony Neves, em Luanda

Saí do Chinguar, Província do Bié, rumo à capital do planalto central, o Huambo. Pelo caminho, atravessei  o Cachiungo (ex Belavista, a Tchikala-Tcholohanga (ex Vila Nova) e as Boas Águas… Quando passei ao largo da Missão e barragem do Cuando, a cidade do Huambo estava já de portas abertas para me acolher.

Quem me conhece sabe que o Huambo está-me impresso na vida. Ali vivi entre 1990 e 1994, tempo muito plural porque teve o cessar fogo da guerra civil em 1991, a visita do Papa João Paulo II em 1992 e, infelizmente, a trágica Batalha dos 55 Dias, em 1993! Ali ficamos a viver quase entre escombros durante mais um ano e meio…

O Escolasticado Poullart des Places, no Huambo, acaba de ser construído e dedicado ao fundador dos Espiritanos. É grande, espaçoso, com lugar para uma trintena de jovens Espiritanos na fase final da sua Formação. Ali fui recebido com festa, tive a oportunidade de encontrar o grupo que ali faz caminho rumo ao sacerdócio e celebrei Missa com toda a Comunidade. Indo ao Huambo, era impossível evitar a multiplicação de encontros e abraços, o que sucedeu durante os dias que ali permaneci. Não quero esquecer o simpático convite do Instituto Superior Politécnico Católico do Huambo que organizou, com casa cheia, uma conferência sobre este projeto ‘Lusofonias’. Este evento foi ponto de encontro com o Arcebispo Emérito, D. José Queirós, com numerosos padres, Irmãs, seminaristas e leigos. O debate final foi aceso, como convém a eventos académicos.

Passar no Huambo obriga-me sempre a ir ao encontro das Irmãs do Imaculado Coração de Maria (Filhas d’África), uma família religiosa que partilha a espiritualidade Espiritana. Também visitei as Irmãs Espiritanas e as Irmãs Teresianas, agora vizinhas do novo Escolasticado.

Missão cumprida no Huambo, era urgente rumar à capital para queimar os últimos cartuxos e regressar a Roma. Durou mais de dez horas esta viagem entre o Huambo e Luanda. Tudo isto porque se programaram três paragens estratégicas. Alguns kms após a saída, paramos para uma foto com a famosa Pedra Cuca que anuncia a aproximação da cidade para quantos a ela se dirige. Depois, chegados à Tchipipa, fizemo-nos à picada que leva até à Missão do Vale do Queve, onde tantas vezes celebrei. Ali nos acolheram o P. Ndjimbu e as Irmãs Filhas d’Africa. Porque a viagem era longa, fizemo-nos à estrada e a paragem seguinte foi no Waku-Kungo, onde almoçamos com as Irmãs Nené e Dina, Filhas d’África. Continuamos viagem e fizemos a última pausa programada no Alto Dondo, visitando as Irmãs Teresianas que ali dirigem um enorme complexo escolar. Pude abraçar a Irmã Fátima Kavate que partilha a assinatura de um dos meus livros, foi a comentadora oficial da Televisão Pública de Angola da visita do Papa João Paulo II e foi figura de referência, durante largos anos, na Rádio Ecclesia, em Luanda. A nota mais triste do Dondo é que a sua grande fábrica de cerveja (Eka) foi encerrada, para desgraça geral do povo, pois trouxe muito desemprego numa região onde quase só há a função pública a oferecer trabalho estável e remunerado,

Esta longa viagem encheu-me os olhos com a beleza das paisagens, mas também me ajudou a perceber que a maioria das pessoas continuam pobres, a residir em casas muto frágeis, a sobreviver do cultivo dos campos e de pequenos mercados ao longo das estradas. Também vi muitas crianças a sair ou a entrar nas escolas com bancos à cabeça, o que explica o fraco investimento que Angola tem feito na educação. Também pude ver a quantidade de sacos de carvão que estão à venda, sinal de que as árvores estão a ser destruídas e a ecologia integral não se respeita. As estradas também têm muitas zonas de buracos, mas fico feliz por ver carros, camiões e motos a andar dia e noite, o que prova que há segurança nas estradas.

O adeus a Angola, em dia do Padroeiro de Luanda, S. Paulo, foi precedido por uma Missa campal no espaçoso adro da Igreja da Senhora de Fátima, presidida por D. Filomeno Dias, Arcebispo de Luanda. Dezenas de padres e milhares de fiéis celebraram os 449 anos da fundação da capital. Podia ler-se diante do altar: ‘Cidade baptizada, crismada e peregrina da Esperança’, o lema escolhido para este dia.

O dia concluiu-se com uma sessão sobre Lusofonias no auditório do Colégio das Irmãs de S. José de Cluny, no Kinaxixe.

Deixei Angola feliz pelo que vi, ouvi e vivi. E como digo sempre à partida: ‘Havemos de voltar!’.

Tony Neves, em Luanda

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