Tony Neves, em Fátima
Deixei Cabo Verde, terra da ‘morabeza’, já cheio da ‘sodade’ que tão bem nos cantava Cesária Évora. Para trás, ficaram 15 intensos dias de reuniões, celebrações, visitas e encontros… razões de ser de mais esta viagem missionária a Cabo Verde, lá onde os Espiritanos chegaram há mais de 80 anos. Tive a oportunidade de dar várias voltas à Ilha, que começa na Praia e termina no Tarrafal, podendo chegar-se ali pela estrada litoral ou atravessando a serra da Malagueta.
Há marcas que me ficam impressas na alma cada vez que deixo Roma e parto ao encontro dos meus confrades espalhados pelo mundo. O país está extremamente seco, já a rezar pela chuva que não pode tardar, pois não há água, a não ser a do mar, uma vez que até os poços já só dão água salgada.
Este país está calmo, politicamente estável e em franco desenvolvimento. Os indicadores mais fiáveis são as estradas boas, o aumento de construção de qualidade, as novas Universidades, o tecido empresarial em crescimento. Mas, como preocupação, impressiona o número de jovens e menos jovens que lutam por um lugar no ‘agendamento’ das embaixadas para obter vistos e sair…
Marcaram-me muito as celebrações em que participei: multidões de fiéis, animação litúrgica cuidada e vibrante, fraternidade nas refeições partilhadas que enchiam de festa os adros das Igrejas ou os terreiros escolhidos para as missas.
Gostei muito de encontrar cada Espiritano nas Paróquias onde trabalham e vivem, bem como padres diocesanos e Irmãs de diversas Congregações que aqui testemunham o Evangelho, com compromissos competentes em pastoral, educação e saúde. Também me encheu o coração a visita que fiz ao Cardeal D. Arlindo Furtado que, mais uma vez, se apresentou como filho grato dos Espiritanos que o formaram em todas as etapas da sua caminhada rumo ao sacerdócio.
O III Capítulo dos Espiritanos de Cabo Verde carimbou a aposta missionária que é imagem de marca desta família religiosa: a opção pelos mais pobres, a aposta nas missões que envolvem compromissos de justiça, paz e ecologia integral, a vida fraterna em comunidade, a capitalização da riqueza que constituem as comunidades que são interculturais e intergeracionais. Já há Espiritanos de Cabo Verde a trabalhar no Brasil, Bolívia, Portugal e Moçambique.
É sempre uma alegria beneficiar da ‘morabeza’ (essa arte de acolher!) e degustar os pratos típicos, desde a cachupa à feijoada, do xarém à galinha do mato…acompanhados pela bissap, esse sumo vermelho feito com flores do hibisco que se tornou bebida típica em Cabo Verde. E, no fim, para ajudar a digestão, nada melhor que um bom grogue caseiro, de confiança!
Terminei esta visita com a participação numa celebração penitencial que congregou 250 jovens em Chão de Tanque, numa das ribeiras da Assomada, à sombra de espinheiros. Assim o P. Adérito, pároco, cumpriu mais uma etapa da preparação destes jovens paroquianos para o Crisma.
Deixei este Arquipélago com todas as forças da Igreja e do país apontadas para 2033, data que celebra os 500 anos da fundação da Diocese de Santiago, a mais antiga de África, desmembrada do Funchal. Este verão terá lugar o jubileu dos jovens que chegarão à ilha da capital, vindos de todas as paróquias.
De Cabo Verde a Fátima foi um passo. A Peregrinação da Família Espiritana é muito antiga, pois já vai na 44ª edição. Ano após ano, mobiliza milhares de pessoas vindas do Portugal inteiro. O lema foi ‘Orar. Repartir. Servir’. Tudo começou com uma Saudação a Nossa Senhora, na Capelinha das Aparições, a que se seguiu a Sessão Missionária no Centro Pastoral Paulo VI. A Eucaristia do fim da tarde teve lugar na Basílica da Santíssima Trindade e este intenso dia de peregrinação concluiu-se com a tradicional celebração do Rosário e a Procissão de Velas que encheu de fé e luz a noite do Santuário.
O domingo começou com a Via-Sacra nos Valinhos e teve como ponto alto a celebração da Eucaristia, no altar do recinto, presidida por D. Armando Domingues, Bispo de Angra. Na sua homilia, fez um apelo à Missão, convocando os milhares de peregrinos presentes em Fátima para serem ‘Igreja em saída’.
Tony Neves, em Fátima