LUSOFONIAS – De Lisboa a Seul, via Roma

Tony Neves, na Praça de S. Pedro, em Roma

Lisboa e o mundo souberam no Panamá que as Jornadas Mundiais da Juventude iriam acontecer em Portugal, pela primeira vez. Assim foi e, em julho de 2023, a capital de Portugal tornou-se o epicentro de uma grande revolução juvenil, com cerca de 2 milhões de pessoas a encher a cidade de festa, colorido, diversidade e Fé. No fim, ali bem junto ao Rio Tejo, o mundo inteiro soube que as próximas JMJ serão em Seul, na Coreia do Sul. A partir de então, os caminhos dos jovens estão a apontar rumo à Ásia, continente onde a Igreja continua a crescer.

Esta foi uma semana forte em eventos e intervenções do Papa. À Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 29), que congregou no Azerbaijão mais de 50 mil pessoas, o Papa pediu aos países mais ricos do mundo o cancelamento da dívida aos países mais pobres e, claro, um compromisso mais sério e radical na defesa da nossa Casa Comum. E presidiu à Missa em S. Pedro dois domingos seguidos, o que acontece raramente. A 17 de novembro foi celebrado o Dia Mundial dos Pobres, com a Eucaristia e também o almoço partilhado com 1300 pessoas que vivem em situação de fragilidade e, por isso, são já apoiadas por instituições católicas de caridade. Também o ‘hospital ambulatório’ tratou pessoas pobres na Praça de S. Pedro e foram oferecidas, em treze países, casas a famílias sem habitação.

No Domingo de Cristo Rei, a festa foi outra. O Papa Francisco convidou as delegações de Portugal e da Coreia para realizar, em plena Basílica de S. Pedro, a passagem de testemunho. Jovens coreanos receberam das mãos de jovens portugueses os símbolos das Jornadas: a Cruz e o Ícone de Nossa Senhora. Foi intensa, colorida, simbólica a manhã de 24 de novembro.

Antes de partilhar o que se viveu aqui em Roma, deixem-me evocar gratas memórias, fazendo uma resumo muito corrido da festa e manifestação de fé juvenil que foram as JMJ Lisboa 2023, que eu tive a felicidade de viver intensamente. Momentos houve que marcaram quantos lá estavam e os milhões que seguiam pelos media e redes sociais: a celebração de abertura, a Via Sacra, a Vigília e, claro, a Missa de Encerramento. De dia para dia, víamos que o número aumentava e a alegria se tornava mais evidente nos rostos dos jovens com quem nos cruzávamos. Para memória futura, ficou gravado o ‘todos, todos, todos’ que o Papa Francisco lançou como desafio de abertura às novas gerações. Também guardo no coração o convite inspirador e provocador a surfar as vagas do mar da vida como se dança em cima das ondas gigantes da Nazaré. E, claro, sempre ao ritmo de Maria, ‘apressadamente’! Talvez tenha sido Marisa quem definiu as JMJ de forma mais poética: ‘a maior concentração de amor que alguma vez vi!’.

Devo confessar que, nas minhas passagens frequentes pela enorme sala de imprensa, no Pavilhão Carlos Lopes, escutei, muitas vezes, a reação de espanto dos profissionais dos media, vindos do mundo inteiro, por causa das multidões em festa, do comportamento exemplar dos jovens, da qualidade das celebrações e encontros, do sucesso organizativo, da interação fantástica do Papa com os participantes. Portugal, a Igreja e o Papa ganharam pontos na cotação dos media internacionais que fizeram uma cobertura extraordinária.

Voltemos a Roma, neste Cristo-Rei, numa altura em que a cidade está virada do avesso por causa das inúmeras obras que preparam o acolhimento a muitos milhões de pessoas no Jubileu 2025. A Delegação de Lisboa confiou, simbolicamente, à de Seul os símbolos oficiais das JMJ, passando para a Coreia a enorme responsabilidade de organizar as próximas Jornadas Mundiais. Tudo começou no sábado, com as delegações dos dois países a rezar o Rosário em S. Maria Maior, na Capela de Nossa Senhora. No domingo, na Basílica de S. Pedro, a delegação portuguesa entregou solenemente os símbolos à delegação coreana. Na homilia da Missa, o Papa Francisco  foi claro: ‘Quando olhamos à nossa volta, que dizer das guerras, da violência, dos desastres ecológicos? E que pensar dos problemas que também vós, queridos jovens, tendes de enfrentar ao olhar para o amanhã: a precariedade do trabalho, a incerteza económica, além das divisões e desigualdades que polarizam a sociedade? (…). Queridas jovens e queridos jovens, estai atentos para não vos deixar embriagar pelas ilusões. Por favor, sede concretos. A realidade é concreta. Estai atentos às ilusões! (…). Continuai a amar! Mas a amar à luz do Senhor, a dar a vida para ajudar os outros. Por favor, estai atentos a isto: a vossa dignidade não está à venda! Não se vende! Estai atentos! Não vos contenteis em ser “estrelas por um dia”, “estrelas” nas redes sociais ou em qualquer outro contexto! (…). Não são os consensos que salvam o mundo, nem tornam as pessoas felizes; o que salva o mundo é a gratuidade do amor. E o amor não se compra, não se vende: é gratuito, é o dom de si mesmo’. E concluiu: ‘Avancemos, contentes por sermos para todos, de estarmos no amor, de sermos testemunhas da verdade. E, por favor, não percais a alegria!’.

A grande viagem de Lisboa para Seul passou agora por Roma e prossegue, reforçada, com este estímulo forte do Papa Francisco. A Missão no planeta jovem continuará a ganhar corpo e expressão por terras da Coreia.

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Agência ECCLESIA

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