LUSOFONIAS – D. Pedro Zilli, primeiro bispo de Bafatá

Tony Neves, em Roma

Pedro Zilli nasceu no Estado de S. Paulo, cresceu no Paraná. Padre do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras (PIME), foi nomeado Missionário para a Guiné-Bissau, onde chegou em 1985. Bafatá seria a primeira Missão, onde voltaria em 2001 como primeiro Bispo desta recém-criada Diocese. D. Pedro Zilli entregou totalmente a sua vida e Missão neste país pobre e instável, onde a Igreja investe nas áreas da Pastoral, da Educação, da Saúde, da Comunicação, da promoção da Paz e do Diálogo InterReligioso. Faleceu, vítima da covid 19, em Bissau, a 31 de março, às portas da Páscoa. Tinha apenas 66 anos.

Deixou o grande Brasil, pela primeira vez, em 1985. Bafatá era uma povoação de interior de um país muito pobre. Teve dificuldades de integração, sobretudo por causa da língua e da dureza do clima. Mas vivia o dia a dia com o povo e sempre se sentiu acolhido. Pouco tempo depois, já estava em casa. A sua integração mede-se por estas palavras: ‘Houve um dia em que percebi que, ao falar da Guiné, falo sempre em primeira pessoa. Digo: ‘somos 10 a 15% de cristãos’…

Em 89 foi para a Missão de Susana onde esteve 5 anos. Depois, foi nomeado Superior Regional do PIME, vivendo em Bissau de 93 a 97.. Findo o mandato, foi nomeado formador de novos missionários no Brasil. Foi na sua terra natal que recebeu o convite para ser Bispo de Bafatá. Recorda: ‘nunca me passou pela cabeça que Bafatá viesse a ser uma Diocese e, muito menos, que eu fosse escolhido para ser o seu primeiro Bispo’.

D. Pedro conhecia bem a terra, os missionários e o povo. A Casa Paroquial tornou-se Casa Episcopal e o Bispo viveu os primeiros tempos em comunidade com os outros Padres: ‘Perguntavam-me: ‘quantos Padres moram consigo? ‘ E eu respondia: ‘Eu é que moro com dois Padres! ‘‘. As estruturas foram nascendo com o tempo, à medida que os apoios foram chegando.

Desde 2003 que Bafatá acolhe Leigos, idos de Itália, Brasil e Portugal: ‘tive a alegria de partilhar um excelente ano de Missão com a Céline dos Jovens Sem Fronteiras. Ela e a sua família passaram a ser minha família também e quando venho a Portugal visito-a sempre’. Acolher Leigos Missionários foi imagem de marca de D. Pedro. Tem sido uma riqueza enorme para a Diocese e para os Leigos que partilham um tempo de missão em Bafatá: ‘Eu insisto com eles para que se insiram nos projectos da Diocese e que cada um dê o melhor si, colocando todos os seus talentos e sua criatividade ao serviço da Missão. Empenham-se nas obras da Diocese, na Educação, na Saúde, no Desenvolvimento, na Pastoral. E peço-lhes que iluminem os seus compromissos com o testemunho da Fé’.

As relações dos Cristãos com os Muçulmanos e os seguidores da Religião Tradicional Africana são excelentes: ‘Sempre que há festas, convidamo-nos uns aos outros. Nas horas tristes também. E quando há confusão, reunimo-nos, rezamos e até já publicamos uma mensagem conjunta. Tal dá-nos força e crédito junto dos governantes e das populações’.

A notícia da sua morte provocou choque e uma onda de homenagens. A Diocese de Bissau fala de um Bispo amado pelo povo que deixa um vazio muito difícil de colmatar. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) elogia o perfil de um grande missionário, simples e excelente contador de histórias. Sol Sem Fronteiras, ONGD ligada aos Espiritanos, salienta a sua entrega missionária ao serviço de quem mais precisa e a sua determinação pelo encorajamento dos mais empobrecidos. O Prof. Eugénio Fonseca, amigo de longa data, fala de um homem com uma esperança de ‘olhos abertos’ quanto ao futuro da Guiné e realça as apostas pastorais na formação, no bem estar do povo e no diálogo com todos.

Falei com D. Pedro, já no hospital, na semana antes da sua morte. Estava no volume máximo do seu excelente bom humor e conversamos muito. Disse que estava a melhorar, pois ‘bem tratadinho pelas Irmãs e pelo pessoal de saúde. Quase Rei de Bafatá!’. Mandou-me dar um abraço ao Papa que ‘consegue harmonizar tudo e todos’. Por fim, pediu-me que lhe mandasse uma garrafa de vinho do Porto para celebrar a Páscoa, pois achava que é um bom remédio contra esta pandemia!

Que a sua fé, esperança, diálogo, abertura, coragem, simplicidade, opção pelos mais pobres e bom humor fiquem como herança para nós. E que Deus continue a proteger e abençoar a Guiné.

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Agência ECCLESIA

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