LUSOFONIAS – D. Daniel Junqueira, um Bispo bom

Tony Neves, na Estela – Póvoa de Varzim

D. Daniel Junqueira nasceu na Estela – Póvoa de Varzim em 1894. Entrou nos Seminários Espiritanos às portas da República e, com a revolução de 1910, viu-se obrigado a deixar Portugal para continuar os seus estudos. Passou pelos Seminários Espiritanos da Bélgica e França. Ordenado em 1918, seria enviado para Zamora, em Espanha, como formador e professor. Regressou a Portugal em 1920, passando pelos Seminários de Braga e Viana, onde se distinguiu como professor e director.

1928 é um ano de viragem: nomeado para superior e director do Seminário de Godim, na Régua, ali acumulou funções de pároco, sendo igualmente director espiritual do Seminário de Lamego. Lá seria surpreendido pela decisão do papa Pio XI, em 1938, que o nomeia como Prefeito Apostólico do Cubango, em Angola e, pouco depois, em 1941, Administrador das novas Dioceses de Nova Lisboa e Silva Porto. Silva Porto (hoje Kuito-Bié) seria confiada aos cuidados pastorais de D. Américo dos Santos Silva, ficando D. Daniel com Nova Lisboa.

Desenvolveu um notável trabalho pastoral, criando muitas paróquias e fundando missões no seu vastíssimo território. Participou no Concílio Vaticano II, de 1962 a 1965. Apostou muito na formação do clero, tendo ordenado muitos padres, sobretudo originários das missões do interior. Faleceria em Luanda em1970, após doença prolongada. Como primeiro Bispo de Nova Lisboa, foi sepultado na Catedral desta capital do planalto central de Angola.

Não conheci pessoalmente D. Daniel, mas ouvi histórias sem conta sobre este grande bispo missionário. Quando cheguei ao Huambo, em 1989, encontrei muitos padres ordenados por ele ou que com ele trabalharam. Todos falavam de um Bispo simples, amável, muito próximo dos seus padres e do povo que ele encontrava nas suas habituais visitas pastorais. Tinha um humor extraordinário e, sempre que iam ao Paço acusar algum padre de qualquer coisa de negativo, ele ouvia com muita atenção e depois perguntava: ‘e de bom, nunca fez nada?’. Desarmava assim estas denúncias e, sem entrar numa lógica do vale tudo, apelava sempre à misericórdia, antes de partir para castigos e sanções. Se há líderes que em cada solução descobre vários problemas, D. Daniel via em cada problema o ponto de partida para várias soluções. Ainda hoje, há pessoas que vão rezar diante do seu túmulo.

A chegada dos primeiros missionários a Angola foi em 1491. Por isso, os cinco séculos de evangelização e encontro de culturas foram celebrados em 1991. Um dos momentos mais simbólicos foi a romagem dos Bispos angolanos a terras portuguesas donde partiram alguns dos grandes missionários de Angola. Claro que Estela foi brindada com uma grande celebração, presidida por D. Francisco Viti, filho espiritual de D. Daniel e um dos seus sucessores como Arcebispo do Huambo.

O Dr. Fernando Faria Souto, professor de Filosofia, formado nos Seminários da Congregação do Espírito Santo, decidiu evocar a figura de D. Daniel Junqueira com a preparação cuidadosa de uma Exposição que deveria percorrer as terras que D. Daniel visitava sempre que vinha ao continente: a sua Estela natal, Navais e Aguçadoura. Via-a em Navais, com direito a visita guiada pelo seu autor. São oito grandes painéis, cuja realização só se tornou possível com o apoio da Biblioteca Rocha Peixoto, da Póvoa de Varzim. Impressiona ver a riqueza do acervo documental sobre D. Daniel, incluindo correspondência privada. Boa parte destes textos e fotos pertencem a Alberto Eiras, de 91 anos, que conheceu e privou muito com D. Daniel.

Homem de Deus, passeou a sua simpatia e fé por terras da Europa e África, sempre de braços e coração abertos para os novos tempos que o Concílio Vaticano II abriu. Angola deve-lhe muito e Nova Lisboa viu os Seminários formar um clero local numeroso e culto, donde saíram diversos Bispos após a independência.

D. Daniel marca a história por ser um Pastor simples, bom, próximo e fraterno. A Igreja precisa muito de Bispos como ele.

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Agência ECCLESIA

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