Tony Neves, na Praia – Cabo Verde
Hoje, 1 de setembro, é o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, instituído pelo Papa Francisco a 6 de Agosto de 2015, inspirado numa prática mais antiga da Igreja Ortodoxa. Este é, por isso, um dia profundamente ecuménico, unindo diversas Igrejas. Desde a publicação da Laudato Si, este tema ganhou uma importância capital para a missão da Igreja e, por partilha, para a missão da humanidade. Aceitar que a Terra é a casa comum de todos e, ao mesmo tempo, reconhecer que a natureza nunca perdoa, são razões mais que suficientes para um reforçado compromisso ecológico integral, como tanto insistem todas as dinâmicas ligadas à Plataforma Laudato Si.
Mas também é o dia que deixo Cabo Verde após um intenso mês de missão. Encontrei este país castanho de tão abandonado pelas chuvas nos últimos anos. O povo rezava (e ainda reza) por mais pluviosidade numa terra fértil onde basta um pouco de água para mudar a cor da paisagem. Choveu bastante e de forma muito temperada. O povo saiu para os campos e semeou milho e feijão. Tudo germinou em poucos dias e começou a crescer, juntamente com muita erva daninha. Ao longo dos últimos 15 dias, pude ver centenas de pessoas nas ribeiras e nas escarpas das montanhas a sachar, sob um calor sempre tórrido. Agora, aos percorrer as estradas da Ilha de Santiago, enche os olhos de alegria ver a paisagem pintada de verde e, sobretudo, os rostos das pessoas marcados pelo cansaço, mas com sorrisos de esperança numa boa colheita, contrariando as péssimas colheitas dos últimos anos.
Em jeito de balanço, devo confessar que saio de Cabo Verde de coração cheio. A hospitalidade não falha nunca. A Fé que se sente nas celebrações também nos fortalece e inspira. A alegria deste povo, apesar de todas as dificuldades, também é motivo de esperança. Mas – devo confessar – o que mais me marca é sempre a confiança destas gentes numa chuva que quase nunca chega em doses suficientes. Podem semear o milho e o feijão 2,3,ou 4 vezes, sempre com a expectativa de que as chuvas virão a seu tempo e a produção vai matar a fome do povo. E, muitas vezes, tal não tem acontecido, mas basta cair uns pingos de chuva e lá vemos o povo a trabalhar…
Marcaram-me muito as visitas que fiz a famílias de missionários Espiritanos, espalhadas pelas cidades, vilas e aldeias desta Ilha de Santiago. É sempre tão bom a gente sentir-se em casa, em família, mesmo que para lá chegar seja preciso andar a pé, trepando encostas com a ajuda de um bastão para não escorregar e rebolar nas ribanceiras. Também vou de coração cheio com as visitas às comunidades que fiz acompanhado por confrades, sobretudo na área da Paróquia da Cidade Velha, incluindo a Fazenda da Esperança.
Refiro, finalmente, as celebrações em que estive e me encheram a alma: primeiro, o Capítulo dos Espiritanos na Praia; depois o Retiro e Capítulo das Filhas do Sagrado Coração de Maria, na Calheta de S. Miguel. Finalmente, as Eucaristias festivas dos Votos Perpétuos de três Irmãs, na Calheta, a Festa de S. Domingos, em Pilão Cão, a Festa de S.Lourenço, nos Órgãos, a Festa de Nossa Senhora do Socorro, na Calheta e a Festa de Nossa Senhora da Saúde, em Ponta Saltos.
Voltemos ao Dia de Oração pelo Cuidado da Criação. Faço meus os recortes da Mensagem do Papa Francisco feitos pelo P. João Aguiar Campos: ‘’Obviamente, a ‘vida humana na sua totalidade’ inclui o cuidado da casa comum. Por isso, tomo a liberdade de propor um complemento aos dois elencos de sete obras de misericórdia, acrescentando a cada um o cuidado da casa comum. Como obra de misericórdia espiritual, o cuidado da casa comum requer ‘a grata contemplação do mundo’, que ‘nos permite descobrir qualquer ensinamento que Deus nos quer transmitir através de cada coisa’. Como obra de misericórdia corporal, o cuidado da casa comum requer aqueles ‘simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo’ e se manifesta o amor ‘em todas as acções que procuram construir um mundo melhor’.
Obrigado Cabo Verde, até já Roma!