Tony Neves, em Roma
Estes tempos são de uma enorme criatividade. Fiquei surpreendido, desta vez, com a tão tradicional e concorrida Peregrinação a Fátima da Família Espiritana. Foi anunciada para 4 e 5 de julho, como acontecia anualmente. Depois, com o chegar da pandemia e o anúncio da sua retirada em breve, passou-se para apenas um dia: o sábado dia 4. Só que esta covid é tramada: veio, pareceu que foi embora, mas regressou em força à capital… Com isto, o país desconfinou, mas juntar alguns milhares de peregrinos em Fátima não foi permitido. Assim, com esta situação, restavam duas hipóteses: cancelar e adiar para o ano 2021, ou fazer algo de novo. E a Família Espiritana decidiu adoptar o lema do Capítulo Geral (também ele adiado sine die!), ‘Vejam vou fazer algo de novo!’ (Is 43, 19) e fizeram algo de mesmo muito original. Apostaram, assim, numa ‘Peregrinação de Coração’, sem pôr os pés em Fátima. Foi tudo (ou quase) pela internet, através do canal youtube dos Espiritanos.
A manhã de sábado foi marcada por uma Via-Sacra. A enunciação de cada estação foi feita por um dos nossos jovens em formação, no Porto, ou por um dos Padres que vivem nesta Casa que tenta formar futuros Espiritanos. Depois, as meditações tiveram voz ou mesmo imagem de padres, irmãos, irmãs, leigos associados e membros dos movimentos desta grande família missionária e do CEPAC. O que mais me marcou – devo confessar – foi a recitação, através de videochamada, do ‘Pai nosso’ e ‘Avé Maria’, no intervalo de cada estação. Boa parte foi feita por padres, irmãos e leigos que estão no Lar Anima Una, no nosso Seminário do Fraião, em Braga. Emocionei-me ao ver o D. Abílio Ribas, o Irmão Benjamim, o P. Manuel Andrade, O Irmão Sotero Capitão, o P. Norberto Cristóvão, o P. Altino Cepeda, o P. Marcelino Lopes, o P. Martins Salgueiro, o P. Coelho Amorim … ou a Dª Deolinda que tantos anos viveu connosco e para nós trabalhou na Comunidade de Coimbra.
A Sessão Missionária, que costumava encher de alegria, festa e missão as tardes do domingo, no Auditório do Centro Paulo VI, aconteceu online, com muita criatividade, humor e Missão. Como que se reinventou o filme da ‘Missão Impossível’, com o jornalista Bruno Leite a assegurar uma animação muito viva. O Superior Geral dos Espiritanos, P. John Fogarty e a Superiora Geral das Irmãs Espiritanas, Irmã Olga Fonseca, directamente de Roma e Paris, asseguram a abertura oficial. Os JSF e a LIAM do Monte Abraão, Sintra, coreografaram danças que serviram de separadores aos diversos momentos da sessão. Mas o mais apaixonante foi a ronda pelo mundo onde os Espiritanos Portugueses trabalham: que bom ver toda a Equipa de Itoculo, no norte de Moçambique com Padres, Irmãs, Leigas Voluntárias e até um padre diocesano do Porto em Missão; perceber a abertura, em Cabo Verde, à novidade da Missão que se sente na Equipa Missionária de S. Lourenço dos Órgãos, com Padres, Animadoras Missionárias e um casal de Voluntários; escutar os testemunhos dos Padres Serra e Luís na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro; ouvir o português espanholado do P. João David no México, do P. José Costa e do P. Vítor Oliveira no Paraguai, do P. Márcio na Bolívia ou do P. António Mosso em Espanha; ler a alegria que vai na alma do P. Manuel Viana, do P. Joaquim Silva e do P. João Paulo, em Angola; escutar o testemunho amazónico dos Padres Domingos Rocha e Firmino Cachada no Tefé; vibrar com o ainda bom português do P. Fréderic no Vietname…
E, para terminar, desta feita através da TV Canção Nova ou do Santuário de Fátima, houve a recitação do Rosário com presidência do P. Pedro Fernandes, Provincial dos Espiritanos, apoiado pela Irmã Rosalina, Espiritana, e por membros da LIAM, JSF, MOMIP, Fraternidades, etc. Foi um grande momento de Missão, em que Fátima deu a volta ao mundo, acolhendo os gritos de quem sofre por causa da covid e de tantos outros ‘vírus’ que dão cabo da vida a milhões de pessoas.
O povo diz que ‘quem não tem cão caça com gato’, mas acho que aqui se aplica melhor o dito ‘quando se fecha uma janela, Deus abre uma grande porta!’. Poderíamos, como o fazemos há décadas, alugar o nosso autocarro, preparar o nosso merendeiro e fazer-nos à estrada para encontrar alguns milhares de pessoas sintonizadas pela alegria da mesma missão. Mas Deus propôs um caminho mais original e mais universal, para que todo o mundo pusesse o coração a bater ao ritmo da Missão Espiritana sem precisar de viajar no espaço, deixando o caminho apenas para os corações o palmilharem.
A Missão Espiritana continua em alta. Os testemunhos dos mais velhos que rezaram e dos que se mantêm nas linhas da frente provaram ao mundo que a Missão não tem idades nem geografias. É mesmo uma questão de vocação, de compromisso, de Coração. Sim, os nossos corações têm de continuar a bater ao ritmo do coração de Deus, sensíveis à vida dos mais pobres, inspirados pelo fogo do Espírito Santo.