Tony Neves, em Roma
‘Comunhão, Participação, Missão’ são as três palavras-chave para a caminhada sinodal que o Papa Francisco propôs para a Igreja. Temos de nos pôr à escuta do Espírito e arranjar calçado leve para caminharmos juntos, lado a lado, atentos às propostas de Deus.
A fidelidade ao Evangelho obriga-nos a seguir Cristo que, durante a sua missão, ‘aceitou como interlocutores todas aqueles que sobressaem da multidão’: atendeu a lamentação da mulher cananeia; abandonou-se ao diálogo com a samaritana, solicitou o acto livre e reconhecido do cego de nascença. Assim fica claro que, nos Evangelhos, há três actores: Jesus, os Apóstolos e a multidão. A estes três, junta-se, por vezes, o antagonista, ou seja, aquele que impede o caminho em comum, enganando tudo e todos: ‘para evitar os enganos deste ‘quarto actor’, é necessária uma conversão contínua’.
A visita de Pedro à casa de Cornélio (Act 10) mostra como ‘a acção apostólica cumpre a vontade de Deus, criando comunidade, derrubando barreiras e promovendo encontro’. O chamado ‘concílio de Jerusalém’, que decidiu pela não obrigação de circuncisão, apresenta ‘um processo de discernimento que é uma escuta em comum do Espírito’.
Este Documento Preparatório do próximo Sínodo defende que ‘iluminado pela Palavra e fundamentado na Tradição, o caminho sinodal enraíza-se na vida concreta do Povo de Deus’. Exige-se, então, a resposta a uma questão fundamental que vai orientar a fase de consulta ao Povo de Deus: ‘Anunciando o Evangelho, uma Igreja sinodal ‘caminha em conjunto’: como é que este ‘caminhar juntos’ se realiza hoje na vossa Igreja particular? Que passos o Espírito nos convida a dar para crescermos no nosso ‘caminhar juntos’?
Há dez grandes temas a refletir e aprofundar:
1.Quem são os COMPANHEIROS DESTA VIAGEM sinodal?
2.OUVIR. Quem está na nossa Igreja particular em ‘dívida de escuta’? Como ouvimos o contexto social e cultural onde vivemos?
3.TOMAR A PALAVRA. Todos estão convidados a falar com coragem, integrando liberdade, verdade e caridade, usando um estilo comunicativo livre e autêntico.
4.CELEBRAR. Caminhar juntos só é possível se nos basearmos na escuta comunitária da Palavra e na celebração da Eucaristia.
5.CORRESPONSÁVEIS NA MISSÃO. Somos todos discípulos missionários. Como é que cada comunidade apoia os seus membros comprometidos num serviço na sociedade (na responsabilidade social e política, na investigação científica e no ensino, na promoção da justiça social, na salvaguarda dos direitos humanos e no cuidado da casa comum, etc?
6.DIALOGAR NA IGREJA E NA SOCIEDADE. Quais são os lugares e as modalidades de diálogo no seio da nossa Igreja particular? Que experiências de diálogo e de compromisso partilhado promovemos com crentes de outras religiões e com quem não crê?
7.COM AS OUTRAS RELIGIÕES CRISTÃS.O diálogo ecuménico ocupa um lugar particular nesta caminhada sinodal. Que relacionamentos mantemos com os irmãos e as irmãs das outras Confissões Cristãs? A que âmbitos se referem? Que frutos colhemos deste ‘caminhar juntos’? Quais são as dificuldades?
8.AUTORIDADE E PARTICIPAÇÃO. Uma Igreja sinodal é participativa e responsável. Quais são as práticas de trabalho em grupo e de corresponsabilidade?
9.DISCERNIR E DECIDIR. Num estilo sinodal, decide-se por discernimento, com base num consenso que dimana da obediência comum ao Espírito.
10.FORMAR-SE NA SINODALIDADE. Que formação oferecemos para o discernimento e o exercício da autoridade?
Nesta fase de consulta, é muito importante que a voz dos pobres e dos excluídos seja escutada. O objectivo final não é produzir documentos, mas ‘fazer germinar sonhos, suscitar profecias e visões, fazer florescer a esperança, estimular confiança, faixar feridas, entrançar relações, ressuscitar uma aurora de esperança, aprender uns com os outros e criar um imaginário positivo que ilumine mentes, aqueça corações, restitua força às mãos’.
Vamos a isso, que se faz tarde!