LUSOFONIAS – Aventura Espiritana na Bolívia

Tony Neves, na Bolívia

Os Missionários Espiritanos celebraram em 2003, à escala do mundo, os 300 anos de fundação. Tudo começara em Paris com um jovem chamado Cláudio Francisco que quis dar a jovens pobres a possibilidade de estudar para serem padres, indo para áreas onde outros padres não aceitavam missões. Foi este o começo da Congregação do Espírito Santo que, com momentos altos e baixos, fez o seu caminho, gravou belas páginas de história missionária e tem agora mais de 2500 membros espalhados por mais de 60 países nos cinco continentes. Mas passeemos agora até á América Latina do sul.

O ‘Encontrão’ de 2000, reunião que reúne a família espiritana da América Latina, sugeriu que se marcasse o tricentenário da Congregação com algo original e desafiante. A decisão tomada foi a de abrir uma nova frente missionária na Bolívia, país vizinho do Brasil, sem mar, um dos mais pobres do continente, com mais de metade de população indígena. Acrescentava-se o facto de ser um país com muita carência de clero. Depois de muitos contactos e visitas, a decisão recaiu sobre as periferias da cidade de Santa Cruz de la Sierra. O envio da primeira equipa foi feito a 2 de fevereiro de 2003 e esta comunidade era uma extensão da Província do Brasil.

Foi confiada aos Espiritanos a enorme paróquia de San Juan Bautista. Instalaram-se na residência da Igreja da Senhora de Nazaré, numa das áreas mais pobres na periferia da cidade. As comunidades estão em áreas habitadas onde não há asfalto nem saneamento básico. A maioria do povo vive do trabalho precário do campo e cerca de 50% são indígenas. As gerações mais velhas são, regra geral, analfabetas. Os rendimentos das famílias, muito numerosas, provêm quase todos das vendas nos mercados efetuadas pelas mulheres que saem cedo para o trabalho e deixam as crianças confiadas aos irmãos mais velhos. Os jovens têm pouco acesso à escola e ao mercado de trabalho. Esta é uma área marcada por muita violência e álcool, abrindo as portas a toda a espécie de abusos.

Anos mais tarde, os Espiritanos construíram a sua própria casa, também ela numa rua sem alcatrão, transformada em rio de lama sempre que há chuva. A Paróquia, dada a sua dimensão, seria dividida em duas, ambas agora confiadas aos cuidados pastorais dos Espiritanos.

Dentro da área da paróquia está a maior prisão da Bolívia, uma autêntica cidade, a lançar enormes desafios pastorais no âmbito da pastoral carcerária.

A Arquidiocese, em 2014, lançou um novo desafio aos Espiritanos: Buenavista, uma antiga missão dos jesuítas, situada a 126 km de Santa Cruz. O P. Márcio Asseiro é o Pároco, acumulando hoje com a Missão de Superior do Grupo Espiritano da Bolívia. A sua origem é antiga, vindo do tempo das ‘Reduções’ jesuítas da América do Sul, retratadas pelo filme ‘A Missão’. Eram enormes espaços que os povos indígenas sabiam ser seus e que, além da Igreja, tinha Escolas, Oficinas de Artes e Ofícios vários, Centros de Saúde e, claro, campos agrícolas. Ali se formavam cristãos numa educação humana integral, ajudando a libertar os povos indígenas das cadeias coloniais que os oprimiam.

Os jesuítas deixaram Buenavista há muito tempo e, com o andar dos anos, pouco sobrou deste esforço de evangelização integral. A Igreja é grande e está em bom estado de conservação, mas os Espiritanos já tiveram de recuperar a residência que estava em ruínas e estão em curso obras para espaços que permitam actividades pastorais e culturais diversificadas.

Cheguei à Bolívia, mais uma vez, desta feita para viver intensamente a Páscoa. O povo tem tradições muito próprias que dão cor e festa a esta solenidade cristã. Não são fáceis os tempos que se vivem por estas paragens latino-americanas, mas a fé do povo é enorme e a vontade de construir futuro está-lhes no sangue. A Igreja está comprometida com uma evangelização humana integral que não deixe fora ninguém nem nenhuma dimensão da vida deste povo bom.

Desejo a quantos me leem e escutam uma Páscoa cheia de vida e de missão, com a paz que todos merecemos e o amor de que todos precisamos. Prometo dar mais notícias deste terra e deste povo.

Santa Páscoa.

 

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