LUSOFONIAS – Avaliar em Formia

Tony Neves, em Formia

Programar, cumprir, avaliar, voltar a programar… é um círculo virtuoso que tenta combater todos os círculos viciosos da vida das nossas instituições. Por isso, o Conselho Geral dos Missionários Espiritanos, a que tenho a honra e a responsabilidade de pertencer, faz uma paragem anual de avaliação do caminho feito e de ajuste do que é urgente continuar a  fazer.

É tradição antiga de partir rumo a um centro de espiritualidade situado junto ao Mediterrâneo (que ali se chama Mar Tirreno), na povoação de Formia, já não muito longe de Nápoles. O ambiente conventual, a brisa e a paz do mar têm ajudado, ano após anos, a verificar o cumprimento da missão que nos foi confiada e da qual temos obrigação de dar contas.

Estivemos em Formia toda a semana passada, logo após a celebração festiva do Pentecostes, nossa festa patronal. Saímos de Roma e apanhamos a auto-estrada para Nápoles. A saída para Formia é a mesma que leva a dois lugares profundamente inspiradores: Montecassino e Gaeta.

S. Bento e S. Escolástica cimentaram e institucionalizaram a intuição beneditina neste cimo de montanha que, desde aquele longínquo século VI, inspira milhares de pessoas. Montecassino, habitado e visitado por tanta gente, será sempre uma fonte de espiritualidade e de paz, assentes no ‘Ora et Labora’ (‘Reza e Trabalha’!), o lema dos beneditinos que marcou a Igreja nos últimos quinze séculos e vai continuar a imprimir-lhe uma marca que ninguém conseguirá apagar.

Se Montecassino domina a montanha, Gaeta domina o mar. É uma cidade muito antiga, a transpirar história em todas as pedras que falam de tempos de paz e de guerra, porto de abrigo de Papas em tempos conturbados. Pio IX esteve ‘exilado’ ali de 1848 a 1850, e teve uma ‘visão’, na Capela de Ouro, situada hoje dentro do Santuário da Santissima Annunziata. Sentiu-se inspirado para proclamar ao mundo que Nossa Senhora foi concebida sem pecado. Depois de regressar a Roma, partilhou essa convicção com os bispos do mundo inteiro e proclamou, em 1854, o dogma da Imaculada Conceição de Maria, Mãe de Jesus. Tive, mais uma vez, a alegria de visitar e rezar nesta Capela de Ouro, hoje local de peregrinação.

Mas voltemos à reunião. O Capítulo Geral dos Espiritanos votou e aprovou vários documentos, reunidos numa publicação que funciona como um ‘caderno de encargos’. Foi o seu cumprimento que avaliamos, com frontalidade e humildade, porque muito foi feito, mas há ainda um longo caminho a percorrer para que a Missão que Deus pede deixe de ser letra morta de documento e se transforme em vida quotidiana, nos 60 países onde os missionários desta família religiosa vivem e trabalham.

Assim, avaliamos a missão, a espiritualidade, a formação, a animação missionária e vocacional, as questões ligadas à economia e finanças. Olhamos para as linhas da frente da Missão: o anúncio do Evangelho, os compromissos de justiça e paz, a ecologia integral, as dinâmicas de solidariedade e partilha, o diálogo inter-Religioso, as Casas de Formação de futuros missionários, a comunhão com as Igrejas locais, a partilha de missão e espiritualidade com leigos, questões de organização e finanças…Também tivemos que enfrentar os problemas, sem esquecer nunca a obrigação de respeitar todos, tendo uma preocupação especial pelo combate a todas as formas de abuso…

Regressamos a Roma já com os olhos postos em Paris onde irá decorrer o Conselho Geral Alargado, esse grande evento mundial que reúne responsáveis Espiritanos do mundo inteiro, para avaliar os quatro anos que já passaram depois do Capítulo Geral realizado em Bagamoyo, na Tanzânia, em 2021. Paris é cidade-berço, diria melhor, cidade-fonte, pois ali foram fundados os Espiritanos e, por isso, ali estão as nossas raízes. Serão duas intensas semanas de avaliação, partilha e programação, relançando a Missão até 2029, data do próximo Capítulo Geral. A experiência e a vida mostram que o tempo passa depressa e há que ser eficaz no cumprimento das missões que nos são confiadas. Como repetiu tantas vezes o Papa Francisco, ‘estamos todos no mesmo barco, a enfrentar a mesma tempestade’. De facto, , a Missão tem que construir sociedades de gente salva, feliz e realizada, pois, como disse mais recentemente o Papa Leão XIV, ‘antes de sermos crentes, somos chamados a ser humanos!’.

Tony Neves, em Formia

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

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