Tony Neves, em Assis
Regresso muitas vezes aos lugares onde sou feliz e me sinto inspirado. Assis é um desses e, sempre que posso, lá vou.
A Eucaristia, celebrada na Capela do Frei Leão, juntou os Espiritanos que peregrinaram a Assis, no decurso do Encontro dos Novos Superiores, eleitos à escala do planeta, em 2024 e 2025.
A Igreja celebrava, neste sábado, os mártires da Coreia, num dia em que o Evangelho provoca os crentes com a parábola da semente. Deus não se impõe, mas propõe…lança nos nossos corações a semente poderosa da Sua Palavra e depende de nós acolher ou não.
Quem vai à ‘Cidade da Paz’ percebe bem a coragem e a Fé de Francisco que contestou uma forma de estar no mundo e na Igreja que, segundo ele, não correspondia ao projeto gravado nas páginas dos Evangelhos. Entregou, na praça pública, ao pai as suas roupas, rejeitando a herança de uma das famílias mais ricas das redondezas. E partiu pelos caminhos de Itália a viver e anunciar o Evangelho com radicalidade, convencendo a sua conterrânea Clara a seguir os seus passos. Francisco foi a figura mais importante do II Milénio e a multidão que invade diariamente Assis mostra a carga simbólica que esta cidade tem, como lugar reconhecido de fraternidade universal.
A natureza naquela colina enche-nos os olhos de beleza, quer olhemos para a montanha ou para a cidade, a partir de baixo, ou então para a planície, quando se está na povoação. Mas a mensagem de paz, pobreza e fraternidade universal consegue encher corações. São estas duas ‘enchentes’ que justificam a visita e estadia, sentimento partilhado por milhares e milhares de peregrinos e turistas.
Há que entrar na Basílica de S. Francisco e rezar. Deixar os olhos brilhar com a beleza e a profundidade das mensagens que as pinturas e esculturas nos oferecem. É ‘obrigatório’ descer ao túmulo do Santo e, com um silêncio recolhedor, meditar. Finalmente, subir à Basílica do 2º piso, também ela inspiradora pela arquitetura, pinturas e esculturas, sobretudo com cenas bíblicas ou relacionadas com a vida de Francisco. São visíveis as marcas do grande terramoto que destruiu parcialmente Assis em 1997, mas a reconstrução foi extraordinária e boa parte do património foi muito bem restaurado.
Da Basílica de S. Francisco há que rumar à Basílica de S. Clara. Estes dois jovens deram origem a dezenas de famílias religiosas e movimentos laicais, ainda hoje marcam o ritmo da vida da Igreja e de muitas sociedades. Na Basílica de S. Clara, há paragem obrigatória junto do lendário crucifixo de S. Damião e no túmulo da Santa. Depois, é tempo de descer a colina de Assis até à Igreja de Santa Maria dos Anjos que guarda dentro a pequena Capela da Porciúncula, lá onde Francisco, com apenas 44 anos, morreu e onde nasceu o Franciscanismo. Na fachada está um alto relevo que faz memória viva da Jornada de Oração pela Paz que J. Paulo II convocou em 1986, com a participação de líderes religiosos do mundo inteiro. 25 anos depois, Bento XVI ali foi também, a 27 de outubro de 2011, para mais um ‘encontro inter-religioso de Assis’.
Há que lembrar os mais esquecidos da história que foi em Assis, também naquele já longínquo século XIII, que António encontrou Francisco. Uma bela história missionária ali se abriu com consequências fantásticas até aos dias de hoje, porque este dois Santos não deixaram nunca de abalar o mundo com o seu legado e a sua intercessão.
Mas hoje Assis chama peregrinos por outra razão: ali está sepultado Carlo Acutis, canonizado a 7 de setembro. São milhares de pessoas que se dirigem diariamente para o Santuário do Despojamento. O P. José Miguel Cardoso, explica bem quem é o novo santo: ‘Entre tantas virtudes e ações, Carlo foi um autêntico missionário digital, servindo-se destes meios para divulgar o nome de Jesus, e um peregrino pelos locais sagrados para aprofundar a sua fé. Com base neste testemunho, que as nossas sapatilhas usadas no desporto para nos tornar mais velozes possam também ser usadas para anunciar mais amplamente a notícia da Ressurreição’.
Regressámos a Roma, deixando para trás uma terra fértil de Santos. Que Francisco, Clara e Carlo, sepultados em Assis, intercedam por nós e nos inspirem. Sobretudo, marquem e empurrem todos para que a Missão seja inspirada pelo Espírito Santo, como foi a deles.
Tony Neves, em Assis
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