LUSOFONIAS – Artistas e mundo da Cultura

Tony Neves, em Roma

‘A Esperança é um bem de primeira necessidade!’ – proclamou bem alto o Cardeal Tolentino Mendonça, responsável pelo Dicastério para a Cultura e a Educação e, por isso mesmo, o organizador do Jubileu dos Artistas e do mundo da Cultura. Conclui o Poeta-Biblista português: ‘A esperança é uma experiência antropológica global, que pulsa no coração de todas as culturas, e que dá a todas a oportunidade de dialogar, a partir da esperança. Devemos escutar o que as diferentes culturas têm a dizer sobre a esperança’.

Tudo estava preparado para, de 15 a 18 de fevereiro, o mundo da Arte e da Cultura encher de criatividade e colorido o Vaticano, com diversas intervenções do Papa Francisco. Mas uma bronquite agressiva levou o Papa ao Hospital e tocou ao Cardeal Tolentino ser o rosto da Igreja neste evento jubilar.

O momento mais marcante foi a Missa na Basílica de S. Pedro, na manhã do domingo 16, presidida pelo Cardeal Tolentino. Na homilia, foi lido o texto do Papa. O Evangelho das Bem-Aventuranças, o famoso Sermão da Montanha, foi profundamente inspirador. Destaco algumas das frases que me marcaram.

Disse o Papa: ‘Vós, artistas e pessoas de cultura, sois chamados a ser testemunhas da visão revolucionária das Bem-Aventuranças. A vossa missão não se limita a criar beleza, mas a revelar a verdade, a bondade e a beleza escondidas nos recantos da história, a dar voz a quem não tem voz, a transformar a dor em esperança’.

Prosseguiu: ‘Vivemos numa época de crises complexas, que são económicas e sociais mas, antes de mais, são crises da alma, crises de sentido. Coloquemo-nos a questão do tempo e a questão do rumo. Somos peregrinos ou errantes? Caminhamos com uma meta ou andamos à deriva, perdidos? O artista é aquele ou aquela que tem a função de ajudar a humanidade a não se desnortear, a não perder o horizonte da esperança’.

Lançou, de seguida, um alerta: ‘Mas atenção: não é uma esperança fácil, superficial e desencarnada. Não! A verdadeira esperança entrelaça-se com o drama da existência humana. Não é um refúgio confortável, mas um fogo que arde e ilumina, como a Palavra de Deus. Por isso, a arte autêntica é sempre um encontro com o mistério, com a beleza que nos supera, com a dor que nos interpela, com a verdade que nos chama. Caso contrário, “ai [de nós]”! O Senhor é severo no seu apelo’.

Os artistas têm uma grande missão a desempenhar no mundo em que vivemos: ‘Queridos artistas, vejo em vós guardiães da beleza que sabe inclinar-se sobre as feridas do mundo, que sabe escutar o grito dos pobres, dos sofredores, dos feridos, dos presos, dos perseguidos, dos refugiados. Vejo em vós guardiães das Bem-Aventuranças! Vivemos num tempo em que se erguem novos muros, em que as diferenças se tornam um pretexto para a divisão em vez de serem uma oportunidade de enriquecimento recíproco. Mas vós, homens e mulheres de cultura, sois chamados a construir pontes, a criar espaços de encontro e diálogo, a iluminar as mentes e a aquecer os corações’.

Os contributos dos artistas para a vida das sociedade são enormes. Questiona o Papa: ‘Alguns poderão dizer: ‘Mas para que serve a arte num mundo ferido? Não há coisas mais urgentes, mais concretas e mais necessárias?’. A arte não é um luxo, mas uma necessidade do espírito. Não é uma fuga, mas uma responsabilidade, um convite à ação, um apelo, um grito. Educar para a beleza significa educar para a esperança. E a esperança nunca está separada do drama da existência: ela atravessa a luta quotidiana, as fadigas da vida, os desafios deste nosso tempo’.

O Papa Francisco chama a atenção para a revolução que Jesus fez. Lembrou: ‘No Evangelho que escutámos hoje, Jesus proclama felizes os pobres, os aflitos, os mansos, os perseguidos. É uma lógica invertida, uma revolução da perspetiva. A arte é chamada a participar nesta revolução. O mundo precisa de artistas proféticos, de intelectuais corajosos, de criadores de cultura’.

E, como sempre, a homilia terminou com um apelo: ‘Deixai-vos guiar pelo Evangelho das Bem-Aventuranças e que a vossa arte seja anúncio de um mundo novo. Que a vossa poesia no-lo mostre! Nunca deixeis de procurar, interrogar, arriscar. Porque a verdadeira arte nunca é acomodada; ela oferece a paz da inquietação. E lembrai-vos: a esperança não é uma ilusão; a beleza não é uma utopia; o vosso dom não é um mero acaso, é uma chamada. Respondei com generosidade, com paixão, com amor!’,

 

24.02.2025

Tony Neves, em Roma

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