LUSOFONIAS – Anunciar notícias que inspiram!

Tony Neves, em Oliveira do Douro – Cinfães

Oliveira do Douro, em Cinfães, encheu-se de festa e povo, neste frio 1º de dezembro, para a apresentação de um novo livro do P. Luís Rafael Azevedo, seu pároco. Deliciado, mas provocado! – eis o meu estado de espírito depois de ler a obra ‘O papel da linguagem informal na comunicação da Igreja. De 30d.C.ao tempo do 5g’.

O arco temporal é muito alargado, talvez demasiado: de 30 d.C. até ao tempo do 5G, ou seja, desde que Cristo abriu a boca pela primeira vez no início da sua ‘vida pública’ até aos dias de hoje, quando outros G’s estão já em laboratório! Aprecio a sua ousadia académica.

Confirmo partilhar em pleno a convicção de que a instituição mundial com maior número de crentes tem de saber comunicar bem a ‘boa nova’ que garante ter mandato para anunciar. Aliás, continua a ser difícil de explicar como se partiu de uma dúzia de apóstolos e se chegou hoje a muitos milhões de discípulos. Concluiu-se que a comunicação da mensagem funcionou e a Igreja ganhou uma dimensão universal, planetária.

Há que evitar, a todo o custo, excessos de comunicação. Eles geram confusão e não ajudam a discernir o essencial da mensagem. Há que usar palavras que os ouvintes ou leitores entendam. Há boas notícias a dar – eis a mensagem a passar ao público-alvo, que é toda a gente.

É difícil falar da vida e obra de um Jesus Cristo, ‘comunicador improvável’, que só escreveu uma vez e no chão…palavras que os passos das pessoas e o vento levaram! Mas falou, ou melhor, dialogou, gesticulou, parabolizou…, comunicou com o corpo todo!

O Papa Francisco é apresentado como uma lufada de ar fresco na comunicação da Igreja. Veio do fim do mundo, luta por uma Igreja em saída, em direção às periferias e margens da história humana, uma Igreja ‘hospital de campanha’, com pastores com cheiro às ovelhas, um homem coerente que quer a Igreja como Cristo a fundou: íntegra, simples, despojada, sensível aos mais pequenos e pobres. Quer uma Igreja inspirada e empurrada pelo Espírito Santo, coerente, profética, aberta, inclusiva (para ‘todos, todos, todos!’), mais simpática e menos fria e protocolar.

E, claro, o Papa está disposto a fazer tudo o que está ao seu alcance para imprimir na Igreja a dinâmica da Sinodalidade (‘caminhar juntos, lado a lado, na mesma direção’). Estamos todos no mesmo barco a enfrentar a mesma tempestade e há que ultrapassar o ‘catoliquês’, essa espécie de língua que muitos falam dentro da Igreja e que ninguém (ou quase ninguém!) entende hoje, mesmo que não se pretenda transformar os púlpitos em balcões de cafés ou tascas.

Concluiu-se que a arte de descomplicar é muita complicada! A linguagem informal é diálogo familiar, simples, compreensível, sem filtros, direta. Numa sociedade distraída em relação a muitas situações e acontecimentos, é urgente a criação de dinâmicas comunicacionais que chamem a atenção para o essencial. Um bom exemplo de informalidade é o da postura do Papa Francisco nas Jornadas Mundiais da Juventude (2023) que cativou a multidão e fez passar a mensagem da abertura da Igreja a ‘todos, todos, todos!’.

Voltemos ao Papa Francisco. Diversas vezes tem repetido que, com as mesmas pedras podemos construir muros ou pontes. É urgente hoje construir pontes entre pessoas, instituições e povos. Podemos usar todas as formas e meios de comunicação, mas a única verdadeiramente eficaz consiste em fazer o que se diz. Chama-se a isto ‘coerência’. As ‘fakenews’ e as ‘deepnews’ nunca terão lugar na comunicação da Igreja.

Agradeço ao autor o risco da opção tomada e a provocação que o texto final a todos lança. Ele cita uma autora que escreveu: ‘falar em público é o segundo maior medo que as pessoas têm, a seguir à morte!’. Eu diria que não! Gera mais arrepios na coluna o risco de investir em trabalhos como este que o P. Luís Rafael ousou enfrentar com este resultado fantástico que temos diante dos olhos. É obrigatório ler!

Tony Neves, em Oliveira do Douro – Cinfães

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