Tony Neves, em Roma
O Dia Mundial das Missões acontece cada outubro (Mês Missionário por excelência) e conta sempre com uma Mensagem do Papa. Este ano, outubro é especial e todos os olhares estão postos no Vaticano onde decorre a Assembleia Sinodal sobre a Sinodalidade da Igreja. Vem tudo a propósito porque o tema deste grande encontro católico é: ‘Para uma Igreja Sinodal: comunhão, participação e missão’.
A inspiração de cada Mensagem do papa é sempre bíblica, como não podia deixar de ser, pois é sempre mais saudável beber na Fonte. Desta vez, o Papa Francisco quis fazer caminho com Cristo e com os Discípulos de Emaús, fazendo eco e memória de um dos mais belos textos que falam da Ressurreição. ‘Corações ardentes, pés ao caminho’ (Lc 24, 13-15) foi o título escolhido.
Mais do que reflexões em cima de uma reflexão muito criativa e desafiante, opto por recortar algumas passagens que julgo mais provocadoras, sempre com o objetivo de que a Missão se aprofunde e viva com mais radicalidade. Escreve o Papa: ‘Aqueles dois discípulos estavam confusos e desiludidos, mas o encontro com Cristo na Palavra e no Pão partido acendeu neles o entusiasmo para pôr os pés ao caminho rumo a Jerusalém e anunciar que o Senhor tinha verdadeiramente ressuscitado. Na narração evangélica, apreendemos a transformação dos discípulos a partir de algumas imagens sugestivas: corações ardentes pelas Escrituras explicadas por Jesus, olhos abertos para O reconhecer e, como ponto culminante, pés ao caminho’.
Continua o Papa: ‘Hoje como então, o Senhor ressuscitado está próximo dos seus discípulos missionários e caminha a par deles, sobretudo quando se sentem frustrados, desanimados, temerosos perante o mistério da iniquidade que os rodeia e quer sufocá-los. Por isso, ‘não deixemos que nos roubem a esperança!’. O Senhor é maior do que os nossos problemas, sobretudo quando os encontramos ao anunciar o Evangelho ao mundo, porque esta missão, afinal, é d’Ele e nós somos simplesmente os seus humildes colaboradores, ‘servos inúteis’ (cf. Lc 17, 10)’.
Mais à frente o Papa recorda a importância da Eucaristia na vida cristã: ‘é preciso ter presente que, se o simples repartir o pão material com os famintos em nome de Cristo já é um ato cristão missionário, quanto mais o será o repartir o Pão eucarístico, que é o próprio Cristo? Trata-se da ação missionária por excelência, porque a Eucaristia é fonte e ápice da vida e missão da Igreja’.
Defendendo uma Igreja aberta, em saída, o Papa partilha o exemplo dos discípulos de Emaús quando reconheceram Cristo vivo: ‘Este sair apressado para partilhar com os outros a alegria do encontro com o Senhor, mostra que ‘a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Não se pode encontrar verdadeiramente Jesus ressuscitado, sem se inflamar no desejo de o contar a todos’.
Deliciei-me, estes dias, com a leitura do livro ‘Modelos de Missão. A reconfiguração da Missão com o Papa Francisco’, uma obra que conta com o Prefacio do Cardeal Tolentino Mendonça. O autor, o P. Manuel Augusto Ferreira, comboniano português, jornalista, foi Superior Geral da sua Congregação. O que mais me cativou nesta obra foi a descrição bem fundada de seis históricos modelos de missão: como anúncio, como encontro, como serviço, como fraternidade, como libertação e como ecologia integral. Termina a apresentar a Missão poliédrica, tão citada e defendida pelo Papa Francisco.
Em Portugal, o Curso de Missiologia, as Jornadas Missionárias Nacionais e o Guião Outubro Missionário continuam a ser eventos e instrumentos que ajudam – e muito – a manter acesa a chama missionária num país de forte tradição, mas com a necessidade urgente de uma Igreja local mais sensível e comprometida na Missão hoje, ao longe e ao perto. E, claro, há que valorizar e apoiar sempre e mais as Obras Missionárias Pontifícias e os Institutos Missionários Ad Gentes, bem como a Imprensa Missionária.
Concluo com o último desafio que o Papa lança: ‘saiamos com corações ardentes, olhos abertos, pés ao caminho, para fazer arder outros corações com a Palavra de Deus, abrir outros olhos para Jesus Eucaristia, e convidar todos a caminharem juntos pelo caminho da paz e da salvação que Deus, em Cristo, deu à humanidade’.