LUSOFONIAS – Advento rumo às margens

Tony Neves

O Papa Francisco gritou da sua janela, a 28 de novembro: ‘Vinde, Senhor Jesus!’. Em tempo de Advento, há que dar sempre lugar à esperança. Mas devemos continuar a fazer uma distinção importante entre a espera e a esperança: a espera é uma atitude estática; a esperança é uma atitude dinâmica. Não estamos sentados à espera que aconteça o Natal! Estamos, sim, com a esperança e, por isso, a caminhar para Belém.

Vamos lá chegar, e no momento em que Nossa Senhora der à luz, nós lá estaremos!

O Advento é este tempo: Nossa Senhora está grávida e, ao mesmo tempo, nós também partilhamos a mesma gravidez. Por isso, no momento de ser Natal para Maria e para José, também vai ser Natal para nós! Porquê? Porque nós vivemos a mesma esperança!

Para isso há atitudes que são fundamentais, e uma delas é a vigilância, como recordou o Papa no Angelus deste domingo. Temos que estar acordados, temos que estar despertos, temos que vigiar. Vigiar para não cairmos em tentação, mas muito mais do que isso, vigiar para não deixarmos escapar aquela luz que nos orienta até Belém, e que se vai colocar em cima do presépio, para nos dizer: é aí! Aí é o lugar de encontro entre Deus e a humanidade, aí é o lugar onde se renasce, onde acontece Natal.

Nós somos convidados a seguir na peugada de grandes figuras, figuras que caminham connosco para Belém. Começámos com Isaías, continuamos com Sofonias, terraplenámos os caminhos com S João Baptista, e agora, com José e Maria, estamos mesmo a chegar a Belém. Não precisamos de GPS melhor! Vamos atrás deles e vai acontecer Natal.

Não foram só os magos que viram e seguiram a estrela. Eles seguiram uma estrela, e essa estrela nós também temos que a seguir. Essa estrela vai pousar na lapinha de Belém e vai nos indicar onde será Natal.

Mas também temos de fazer do nosso coração um presépio, o nosso coração tem que se tornar uma maternidade, pois o Cristo que nasce no Natal em Belém, é o mesmo que nasce no nosso coração, que nasce dentro de nós, o que quer dizer que o nosso coração ou é maternidade ou não é coisa nenhuma, e não teremos Natal.

Temos que também converter as nossas vidas, pôr o nosso coração a bater ao ritmo do coração de Deus. Temos que tirar do nosso coração a quinquilharia que o enche e que não permite que Jesus tenha lá lugar para nascer. Esta disposição é absolutamente decisiva para que haja Natal.

Temos que aceitar esta sugestão contínua, parece já quase uma obsessão do Papa Francisco, que está sempre a falar-nos da ida às periferias e às margens.

Mas o Papa Francisco sabe que este assunto é absolutamente essencial, pois onde Jesus nasceu era a periferia, a margem de Belém (e Belém já era uma cidade periférica…), que era o sítio onde andavam aqueles que nem sequer podiam entrar na cidade. Os pastores tinham a fama de serem pouco limpos, viviam com o gado, e por isso em determinados momentos não podiam sequer entrar na cidade! Mas eles são os primeiros a saber que Deus nasceu para salvar a humanidade. Por isso, se queremos amar a Cristo, temos que ir às periferias e às margens.

O P. João Aguiar Campos desafia-nos com um Cântico de Advento:

É possível o sonho. É possível sentir em campos e árvores a estação da festa fora de horas.
É possível que até em pomares de pessimistas espreitem rebentos.
É possível o sonho de nascentes nos altos e de lágrimas de água a brincarem no pó, como as crianças brincam com as cortinas da sala…
É possível o sonho de ver sentados, na linha do horizonte, avós que olham bailes de outros ritmos, sem a dor de não poderem dançar senão com a alma.
E sonhar a mocidade, que rodopia, vir ao seu colo beijar a brancura dos afetos e trautear cantigas do tempo de «era uma vez…».
É possível o sonho de palavras cristalinas e fortes, sem sílabas de vime a vergastar a honra.
E mãos de palmas abertas, como eira onde cora o linho: mãos que ajudam e saúdam sem gestos de melífluas reservas.
É possível o sonho de querer as diferenças, como o tecelão quer a doçura distinta dos fios.
E ser vento e vela, mar e barco, na harmonia da força e da ternura.
É possível o sonho da pureza inicial conversada em tardes de paraíso.
Porque Te fizeste, Senhor, um de nós, moldando de novo todas as coisas.

Todos temos que caminhar na direcção do Natal; Cristo veio, Cristo vem e Cristo virá: ‘Vinde, Senhor Jesus!’.

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Agência ECCLESIA

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