Tony Neves
Todos os dias me recordo da primeira viagem pastoral do Papa Francisco. Foi á Ilha de Lampedusa, em pleno mar Mediterrâneo, para ‘chorar aqueles que ninguém chora’ – são palavras duras do Papa! Francisco foi rezar pelos milhares de imigrantes que morreram no Mar e ali foram ‘sepultados’, sem que ninguém desse pela sua falta, sem a confirmação do seu óbito por uma certidão. Esta visita Papal chamou a atenção do mundo para um drama imenso, sem soluções de catálogo, mas a exigir esforços de solução, com humanidade.
Já se passaram alguns anos e o drama mantém-se ou agrava-se perante a passividade de uma comunidade internacional que perde tempo e humanidade ao apenas discutir se os países mais ricos têm ou não obrigação de acolher, se podem ou não fechar portas e recambiar! E isto não tem a ver com direita ou esquerda, fé ou ateísmo…tem a ver com humanidade.
Fiquei feliz estes dias e senti-me honrado como português ao ouvir que, de um barco á deriva, saíram pessoas que Portugal e outros países da Europa acolheram. É tão bom ver o mundo como um espaço sem fronteiras, cheio de portas sem trancas e janelas sem grades. Abraçamos em vez de repelir, acolhemos em vez de expulsar, somos irmãos em vez de estrangeiros.
As políticas de emigração da nossa Europa são um desastre humano. Percebo que não pode valer tudo e que merecem repúdio e prisão as máfias que põem os barcos a navegar no norte de África em direcção à Europa. É um crime enganar, prometendo mundos e fundos que a Europa não vai dar. É uma trafulhice monumental receber balúrdios de dinheiro para uma viagem que é feita em barcos sobrelotados e sem qualquer segurança. É indigno e imoral garantir que a Europa tem braços, portas e carteiras abertas para a chegada destes fugitivos das desgraças que alguns países de África e da Ásia impõem a alguns dos seus cidadãos. Mas também não é justificável a atitude europeia de nada fazer na porta de saída desses barcos de morte e de querer recambiar os poucos que conseguem, após dias de tragédia, acostar nos portos europeus.
Os imigrantes esperam que Portugal seja um país irmão. Que dê o benefício da dúvida quanto ao muito que eles têm para dar às envelhecidas populações europeias. Que tudo se faça para que a diversidade se torne riqueza e a pluralidade um ganho para todos.
Há um longo caminho já percorrido, mas muito mais ainda por fazer. O ‘Amai-vos uns aos outros’ saído da boca e do coração de Cristo tem de continuar a ecoar nos corações de todo o mundo.