Tony Neves, em Portugal
Fiz alguns milhares de quilómetros para participar, ao vivo e a cores, na celebração de cinco dos sete Sacramentos da Igreja. Devo confessar que, em quase 40 anos de padre, nunca tal me acontecera!
Saí de Roma em direção ao Porto. De lá rumei a Jancido, na Foz do Sousa, minha paróquia natal. Fui até à cidade de Gondomar. Desci, depois, a Portalegre, regressando ao Porto para voltar a Roma. Comecei mesmo pelo primeiro da lista dos Sacramentos: o Batismo. Na Capela de Santo Ovídio, em Jancido, batizei o Duarte, filho e neto de grandes amigos desta aldeia onde nasci, cresci e passo férias. Foi uma celebração simples mas cheia de significado, como são as vivências dos Sacramentos em família, em comunidade.
A Igreja Matriz de S. Cosme e S. Damião, no centro de Gondomar, acolheu os dois Sacramentos seguintes. Celebrei a Reconciliação com duas pessoas que mo pediram quando lá cheguei, bem antes da hora marcada. Depois, aconteceu a celebração de um Casamento de família, razão primeira a obrigar-me a deixar Roma e ir até terras portuenses. A Rita e o Miguel proporcionaram uma celebração bela, viva, com muita emoção à mistura, como acontece regra geral, não tendo havido pretextos para exceções, felizmente.
Após a festa (a que continuam a chamar de ‘boda’!), fui dormir a alta velocidade e saí cedo para Portalegre, a uma pressa mais moderada, como mandam as regras de trânsito em vigor. A cidade estava a abarrotar de povo, vestida de festa, pois ali aconteceria uma Ordenação Episcopal, acontecimento de que já não havia memória. O novo Bispo de Portalegre-Castelo Branco, D. Pedro Fernandes, missionário Espiritano, ali se apresentaria com trabalho pastoral realizado na Guiné e em Moçambique. E, depois, em Portugal, foi formador de futuros Espiritanos no Porto e seis anos de Superior Provincial em Lisboa.
A cerimónia da Ordenação Episcopal foi marcada, como todas, por muito simbolismo que escapa a quem não está habituado a estes eventos celebrativos. Há que explicar tudo, a começar pelas vestes e restantes símbolos do Pastor: o solidéu que traz na cabeça, as vestes de cor violeta, a mitra, o báculo, o anel… Tudo isto foi sendo trocado por miúdos para informar e formar a enorme multidão que participou na festa, com gente vinda não só dos quatro cantos do país, mas também de Roma, do Brasil (Belém do Pará), da Suíça, da Inglaterra, de Espanha, de Moçambique, de Angola e de outras partes do mundo onde vivem e trabalham os membros da Congregação do Espírito Santo, família missionária a que Dom Pedro pertence. Retenho algumas das palavras da sua intervenção final: ‘Na Igreja não há estrangeiros, nem irmãos de segunda’ (…). Contem com a minha oposição a todas as formas de intolerância e a exclusão injusta. Peço a Cristo que nos conceda a graça de estar com Ele e n’Ele, ao serviço dos mais frágeis, assumindo os quatro verbos que os Papas Francisco e Leão XIV sublinharam para descrever a solicitude cristã relativamente aos migrantes: acolher, proteger, promover e integrar’. Concluiu: ‘A todos os batizados e batizadas, deixem-me dizer que a Igreja somos todos nós (…). Diz-nos Jesus que sem ele nada podemos fazer. E sabemos nós que também nada podemos fazer uns sem os outros’.
Regressei às terras do Douro Litoral pelo mesmo caminho e debaixo da mesma tempestade. Após noite curta mas revigorante, voltei a Roma onde o trabalho já estava à minha espera. Pelo caminho, no lugar que me deram junto à janela do avião, olhando mais nuvens do que terra, meditei na minha missão de padre. Ter a oportunidade de viver cinco Sacramentos em dois dias é uma experiência de felicidade que dificilmente vou repetir no resto da minha vida. Foram mesmo dias marcantes e inspiradores, pois envolveram confrades Espiritanos, muitos Bispos, Padres, Irmãs, Irmãos, Leigas e Leigos, familiares e amigos. Se acredito que um Sacramento acontece quando Deus age de forma especial na vida concreta de pessoas e comunidades, então tenho razões de sobra para ser um homem muito feliz.
E aproveito para felicitar, de forma muito especial, o D. Pedro, a Rita e o Miguel e o Duarte. Não se esqueçam de ser felizes e de fazer felizes os outros!
Tony Neves, em Portugal
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