Tony Neves, em Roma

O Papa Leão XIV disse, há tempos, que ‘antes de ser uma questão religiosa, a compaixão é uma questão de humanidade. Antes de sermos crentes, somos chamados a ser humanos’. Também aos participantes no II Encontro Sinodal de Reitores de Universidades para o Cuidado da Casa Comum, ocorrido na Pontifícia Universidade Católica, no Rio de Janeiro, o Papa pediu: ‘Trabalhem por uma justiça ecológica, social e ambiental’. Mais recentemente, por ocasião da III edição do Encontro Mundial sobre a Fraternidade Humana, Leão XIV foi claro: ‘precisamos de uma ampla aliança humana, baseada não no poder, mas no cuidado; não no lucro, mas na generosidade; não na desconfiança, mas na confiança’. Recordemo-nos que o Papa Francisco ainda conseguiu participar na II edição, em 2024, estando presentes 30 vencedores do Prémio Nobel da Paz. Nesse evento, o Papa Francisco assinou a Declaração da Fraternidade das Crianças.
Quando promoveu, a 22 de agosto, o Dia de Jejum e Oração pela Paz, o Papa lançou este convite: ‘convido todos os fiéis a viver um dia de jejum e oração, implorando ao Senhor que nos conceda paz e justiça, e que enxugue as lágrimas daqueles que sofrem por causa dos conflitos armados em curso. Que Maria, Rainha da Paz, interceda para que os povos encontrem o caminho da paz’.
A 31 de agosto, evocou o naufrágio ocorrido com migrantes no Mediterrâneo: ‘Os nossos corações também estão feridos pelas mais de 50 pessoas mortas e cerca de 100 ainda desaparecidas no naufrágio de uma embarcação carregada de migrantes que tentavam a viagem de 1.100 km em direção às ilhas Canárias, que naufragou junto à costa atlântica da Mauritânia. Esta tragédia mortal repete-se todos os dias, em todo o mundo’. Leão XIV pediu orações para que o Senhor ensine, como indivíduos e como sociedade, a pôr em prática plenamente a Sua palavra do Evangelho: ‘Era estrangeiro e acolhestes-me!’.
Neste mesmo dia, o Papa pediu ‘fim à pandemia das armas, grandes e pequenas, que infecta o nosso mundo’. Foi mais longe ao dizer: ‘É tempo de os responsáveis renunciarem à lógica das armas e enveredarem pelo caminho da negociação e da paz, com o apoio da comunidade internacional. A voz das armas deve calar-se, enquanto a voz da fraternidade e da justiça deve erguer-se’. No Angelus do passado dia 21, o Papa voltou a ser claro: ‘Não há futuro com base na violência, no exílio forçado nem na vingança. Os povos têm necessidade da paz: quem ama verdadeiramente, trabalha pela paz’.
A Comunidade de Santo Egídio, com outras associações, organizou uma Vigília de Oração pela Paz em Gaza, na noite chuvosa de 22 de setembro. Abarrotou a enorme, bela e simbólica Igreja de Santa Maria in Trastevere, com presidência do Cardeal Bassetti (ex-Presidente da Conferência Episcopal Italiana), que citou inúmeras vezes o Papa Leão, comentou o texto das Bem-Aventuranças e lançou um forte apelo à paz. Todos escutamos e aplaudimos a mensagem do Patriarca de Jerusalém, o Cardeal Pizzaballa. Na véspera, António Guterres, Secretário-Geral da ONU, tinha dito: ‘A Paz é responsabilidade de todos!’
Tive a alegria de participar quarta-feira na Audiência Geral, na Praça de S. Pedro. Neste evento, estive acompanhado por todo o Conselho Geral dos Espiritanos, bem como pelos Superiores Maiores desta Congregação, nomeados em 2024 e início de 2025, vindos da América, da África e da Europa.
Aplaudido pelas largas centenas de milhares de pessoas ali presentes, o Papa saudou os hierarcas ali presentes e retirou-se, devido à chuva que caía sobre os milhares de peregrinos concentrados na grande Praça e com vontade de se abrigarem.
Na Catequese, o Papa disse: Cristo entra em todas essas realidades obscuras para nos testemunhar o amor do Pai. Não para julgar, mas para libertar. Não para culpar, mas para salvar. Ele o faz silenciosamente, na ponta dos pés, como alguém que entra num quarto de hospital para oferecer conforto e ajuda’. E concluiu: O Sábado Santo é o dia em que o céu visita a terra mais profundamente. É o momento em que cada canto da história humana é tocado pela luz da Páscoa. E se Cristo pôde descer até ali, nada pode ser excluído da sua redenção. Nem mesmo as nossas noites, nem mesmo as nossas culpas mais antigas, nem mesmo os nossos laços rompidos. Não há passado tão arruinado, nem história tão comprometida que não possa ser tocada pela misericórdia’.
Digamos, em síntese, que o Papa Leão enfrenta enormes desafios pastorais, mas tem mostrado preocupações profundas pela Missão, pela Ecologia Integral, pela Justiça e pela Paz.
Tony Neves, em Roma
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