Fernando Lopes Graça foi um dos mais notáveis compositores e musicólogos contemporâneos. Nasceu a 17 de Dezembro de 1906, em Tomar. Estudou em Coimbra, no Conservatório Nacional. As “Variações Sobre um Tema Popular Português”, para Piano são a sua primeira obra, datada de 1929. Membro da “Presença” – Revista literária fundada, dirigida e editada por Branquinho da Fonseca – desde a primeira hora colabora na revista até que em 1936 parte para Paris onde frequenta na Sorbonne a cadeira de Musicologia. Regressado a Portugal, em 1939, inicia um trabalho musical assente sobre elementos harmónicos, melódicos e rítmicos do folclore português. Na celebração deste centenário, os portugueses podem recordar alguns sons harmoniosos deste mestre. O Coro Voces Caelestes deu o tom e no início das celebrações interpretou a “Primeira Cantata do Natal” deste compositor português conhecido além fronteiras. Em declarações à Agência ECCLESIA, Sérgio Fontão maestro do referido coro, realçou que Fernando Lopes Graça “é uma figura importantíssima da cultura portuguesa do século XX”. E entre as muitas actividades que teve, recolheu – durante vários anos – música tradicional portuguesa. Uma boa parte da obra de Fernando Lopes Graça tem “uma influência muito grande da música recolhida ao longo dos anos”. “Há peças instrumentais deste compositor que acusam essa influência” – disse. No caso da música coral, Fernan-do Lopes Graça produziu um número “elevadíssimo de obras com base nessas recolhas que efectuou” Em 1942 fundou uma organização de concertos de música moderna e em 1951 lançou a revista Gazeta Musical. Compôs música dramática, orquestral, concer-tante, de câmara, para piano, canções e coros, tendo obtido o Prémio de Composição do Círculo de Cultura Musical em 1940, 1942, 1944 e 1952. Inspirou-se largamente na música folclórica portuguesa. A sua obra de maior envergadura é o Requiem (para cinco solistas vocais, coro misto e grande orquestra), concluído em 1979 e estreado em Lisboa no ano de 1981. Crítico e publicista, publicou diversas obras, entre as quais Introdução à Música Moderna, 1942, Bases Teóricas da Música, 1944, Viana da Mota, 1949, e A Canção Popular Portuguesa, 1953. Nas comemorações deste centenário é fundamental que a obra deste compositor seja ouvida e cantada. Natal “A Primeira Cantata do Natal” são 19 canções tradicionais portuguesas alusivas ao Natal, Janeiras e Reis que Lopes Graça recolheu e depois harmonizou para coro à capela (sem acompanhamento instrumental). Da totalidade destes canções natalícias, cada uma delas tem a sua especificidade e importância. “É uma música que está muito próxima das pessoas, não direi da geração mais recente, mas da geração anterior” – sublinhou Sérgio Fontão. Este património da canção tradicional – com a alteração das condições de vida e a crescente urbanização da sociedade – “ficou um pouco perdido no tempo. Para as gerações mais antigas é uma oportunidade de recordar algumas canções conhecidas” – frisou o maestro. As suas mãos de génio valorizaram e trabalharam este património popular. Lopes Graça e as pessoas que o acompanharam, nomeadamente Michel Giacometti, – etnomusicólogo que trabalhou muitos anos em Portugal – fizeram gravações de pessoas a cantar no meio rural. “Com base nessa recolha – bastante exaustiva – Lopes Graça construiu parte substancial da sua obra” – adianta. Como grande compositor que foi – independentemente das dificuldades que encontrou – foi “agraciado e recompensado pelo seu magnífico trabalho. Recebeu quatro prémios do Círculo de Cultura Musical e, em 1980, foi condecorado pelo Presidente da República”. No estrangeiro também recebeu algumas condecorações. Para além desta vertente tradicional, nota-se nesta obra riquíssima laivos de música de intervenção. O “Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal” é um exemplo. Nesse conjunto temos “obras muito distintas umas das outras”. Nalgumas inspirou-se na música tradicional mas noutras “bebeu noutras áreas”. Ficou conhecido por ter uma “intervenção cívica bastante activa e participou nos debates que preocuparam os intelectuais portugueses da sua época” – garantiu Sérgio Fontão. Conhecido lá fora com o telurismo português. Fez mesmo uma composição musical de um poema de Miguel Torga “História Trágico – Marítima”.