Liturgia: Papa pede discrição aos mestres de celebrações e aposta na preparação das comunidades

Francisco fala na «arte primeira» da Igreja, que exige «decoro, simplicidade e ordem»

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 20 jan 2023 (Ecclesia) – O Papa alertou hoje no Vaticano para necessidade de preparação e discrição, por parte dos mestres de celebrações litúrgicas, falando aos participantes do curso promovido pelo Instituto Pontifício de Santo Anselmo para responsáveis diocesanos.

“O ministério do mestre é uma diaconia: ele colabora com o bispo no serviço à comunidade. É por isso que cada bispo nomeia um mestre que age com discrição, de maneira diligente, não colocando o rito antes do que ele expressa, mas ajudando a compreender o seu significado e espírito, enfatizando com a sua ação que o centro é Cristo crucificado e ressuscitado”, declarou, numa intervenção divulgada pelo portal ‘Vatican News’.

Francisco sustentou que o cuidado das celebrações exige “preparação e empenho”, com “conhecimento aprofundado, um profundo sentido pastoral”.

“O mestre ensina a Liturgia quando conduz ao encontro do mistério pascal de Cristo. Ao mesmo tempo, deve providenciar tudo para que a liturgia brilhe com decoro, simplicidade e ordem”, precisou.

“A liturgia nunca é totalmente possuída, não é aprendida como noções, ofícios, habilidades humanas. É a arte primeira da Igreja, aquela que a constitui e caracteriza”, acrescentou.

O Papa deixou críticas aos mestres de celebrações que se sobrepõem aos bispos ou sacerdotes, que presidem à assembleia.

“Quando a presidência desliza para o cerimoniário, acabou tudo. Quem preside é o presidente, não o cerimoniário. Mais, quanto mais escondido ele estiver, melhor; quanto menos se fizer ver, melhor. Mas que coordene tudo”, recomendou.

Francisco deixou indicações concretas para quando o responsável pelas celebrações diocesanas acompanha o bispo a uma paróquia, convidando-os a valorizar o estilo de celebração que ali se vive.

“A vossa tarefa não é organizar o rito de um dia, mas propor uma Liturgia que possa ser imitada, com as adaptações que a comunidade possa incorporar, para crescer na vida litúrgica”, afirmou.

O discurso sublinhou a necessidade de valorizar o “silêncio”, destacando que as celebrações não podem ser consideradas “como uma reunião social”, antes de recomendar aos sacerdotes que preparem homilias curtas.

A 29 de junho de 2022, Francisco publicou a carta apostólica ‘Desiderio desideravi’, com que se dirigiu a toda a Igreja para pedir o fim das “polémicas” sobre a Liturgia, criticando tanto o desleixo com o excesso de formalismo nas celebrações.

A carta sublinha que “uma celebração que não evangeliza não é autêntica”, pedindo que se recupere o significado profundo da celebração da Eucaristia.

O Papa rejeita um “estetismo ritual”, que se preocupa apenas com a “formalidade exterior” ou a “escrupulosa observância das rubricas”, bem como a “criatividade sem regras”, que “confunde simplicidade com banalidade desleixada, essencialidade com superficialidade ignorante, a concretude da ação ritual com um funcionalismo prático exasperado”.

Ao longo de 65 pontos, o Papa aprofunda a mensagem que tinha enviado aos bispos de todo o mundo, na carta ‘Traditionis Custodes’, a respeito do uso da Liturgia Romana anterior à reforma de 1970.

Francisco insiste na necessidade de “comunhão” em toda a Igreja, em volta da reforma litúrgica que surgiu após o Concílio Vaticano II (1962-1965).

O documento conclui-se com votos de que “a Igreja possa elevar, na variedade das línguas, uma única e mesma oração capaz de exprimir a sua unidade”, frisando que esta única oração é o Rito Romano que emergiu da reforma conciliar, instituído pelos Santos Paulo VI e João Paulo II.

OC

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Agência ECCLESIA

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