Francisco evoca defensores da «liberdade civil e religiosa»
Kaunas, Lituânia, 23 set 2018 (Ecclesia) – O Papa Francisco recordou hoje na Lituânia os religiosos e religiosas católicos que foram perseguidos pelo regime soviético, no século XX, homenageando-os como defensores da “liberdade civil e religiosa”.
“A violência usada contra vós por ter defendido a liberdade civil e religiosa, a violência da difamação, a prisão e a deportação não puderam vencer a vossa fé em Jesus Cristo, Senhor da história”, disse, num encontro com membros do clero e de institutos religiosos na Catedral de Kaunas, esta tarde.
Francisco dirigiu-se em particular aos religiosos mais idosos, como D. Sigitas Tamkevicius, arcebispo emérito de Kaunas, que foi preso e deportado para a Sibéria sob a acusação de promover atividades antissoviéticas.
“Tendes tanto a dizer-nos e ensinar-nos, e muito também a propor, sem precisar de julgar a aparente fraqueza dos mais jovens”, assinalou.
Antes de ler o discurso preparado, Francisco falou de improviso, recordando a conversa que acabava de ter com os bispos na sede da Cúria, em Kaunas, sobre o tempo das perseguições e os tantos mártires.
“Cumprimentei alguém [de vós], [que] soube o que era a prisão. Vem-me à cabeça uma palavra para começar: não esqueçam, recordai-vos. Sois filhos dos mártires. Essa é a vossa força”, afirmou.
Recordai-vos dos vossos dos mártires. Segui o seu exemplo, não tenhais medo. Falando com os bispos, eles perguntaram-me: ‘Como podemos apresentar a causa da beatificação para muitos dos quais não temos documentos, mas sabemos que eles são mártires?’ É um consolo, é bonito ouvir isso: a preocupação por aqueles que nos deram testemunho. São os Santos”.
Num longo discurso, com tradução simultânea, o Papa pediu atenção aos mais pobres e à defesa do ambiente, na construção do país, que celebra o seu centenário de independência.
“Escutar a voz de Deus na oração faz-nos ver, ouvir, conhecer o sofrimento dos outros para os podermos libertar. Mas de igual modo devemos sentir-nos importunados quando o nosso povo deixou de gemer, deixou de procurar a água que mata a sede. É hora também para discernir o que está a anestesiar a voz do nosso povo”, advertiu.
Francisco pediu religiosos e religiosas com a capacidade de ser “ousados e criativos”, sem deixar a sua presença na sociedade entregue a improvidos.
O pontífice deixou de parte o discurso preparado, nalguns momentos da sua intervenção, para falar diretamente aos mais jovens: “É melhor que sigais outro do caminho do que viver na mediocridade”.
O Papa chamou ainda a atenção dos religiosos e religiosas “tristes”, que se cansaram da sua opção de vida.
“Por favor, quando estiverdes tristes, parai, procurai um padre sábio, uma irmã sábia”, que mostre como “avançar no amor” a Deus, recomendou.
Segundo Francisco, é necessário não confundir a vocação religiosa com “uma vida de trabalho”, uma profissão.
“Se as pessoas não vêm à Igreja, vai à procura delas”, apelou.
De regresso a Vilnius, capital lituana, o Papa visita as celas da antiga prisão do KGB, local onde muitas pessoas, incluindo sacerdotes e bispos católicos, foram torturados ou executados, alguns dos quais com processos de beatificação em curso.
O pontífice vai rezar em silêncio junto de duas celas e da zona de execuções, acompanhado por antigos detidos.
O Papa visita ainda o Monumento das Vítimas do Gueto, no 75.º aniversário da sua destruição, com um pensamento especial para a comunidade judaica.
A viagem ao Báltico, iniciada no sábado, prossegue até terça-feira com passagens pela Letónia e Estónia, no centenário da independência destes países.
OC