Lituânia: Papa apela ao diálogo entre culturas para superar discursos de «divisão»

Francisco inicia viagem ao Báltico evocando regimes totalitários do século XX

Vilnius, 22 set 2018 (Ecclesia) – O Papa Francisco defendeu hoje, no seu primeiro discurso na Lituânia, que o diálogo entre culturas é o caminho para superar discursos de ódio e de divisão na sociedade.

“Perante o cenário mundial em que vivemos, onde crescem as vozes que semeiam divisão e oposição – instrumentalizando muitas vezes a insegurança e os conflitos – ou que proclamam que a única maneira possível de garantir a segurança e a subsistência duma cultura consiste em procurar eliminar, apagar ou expulsar as outras, vós, lituanos, tendes uma palavra original a oferecer: «hospedar as diferenças»”, declarou, diante do palácio presidencial de Vilnius, menos de duas horas depois da sua chegada à capital lituana.

A intervenção recordou valores fundamentais como “a tolerância, a hospitalidade, o respeito e a solidariedade”, sustentando que, por meio do diálogo, abertura e compreensão, “as culturas podem transformar-se em pontes de união entre o Oriente e o Ocidente Europeu”.

Francisco tinha sido recebido no aeroporto internacional e Vilnius pela presidente da República, Dalia Grybauskaite, autoridades civis e religiosas; após a cerimónia de boas-vindas, seguiu num carro utilitário para o palácio presidencial, onde se encontrou em privado com a chefe de Estado e assinou o livro de honra.

“Ao longo da sua história, a Lituânia soube hospedar, aceitar, receber povos de diferentes etnias e religiões. Todos encontraram, nestas terras, um lugar para viver”, referiu.

A viagem à Lituânia, Letónia e Estónia, que se prolonga até terça-feira, acontece por ocasião do centenário da independência dos países bálticos e 25 anos depois da primeira visita de um Papa, João Paulo II.

Francisco destacou este “momento particularmente importante da vida” da Lituânia, que celebra cem anos da declaração de independência, um século marcado por “múltiplas provas e sofrimentos”; como “prisões, deportações e até o martírio”.

Celebrar o centenário da independência significa parar um pouco no tempo, recuperar a memória do que se viveu para tomar contacto com tudo aquilo que vos forjou como nação e aí encontrar as chaves que vos permitam encarar os desafios do presente e projetar-vos para o futuro, num clima de diálogo e unidade entre todos os habitantes”.

Perante autoridades políticas, diplomáticas e dezenas de representantes da sociedade civil, o Papa convidou todos a “conservar a «alma» que construiu e ajudou a transformar em oportunidade de bem cada situação de sofrimento e injustiça”.

Sofrestes na vossa pele as tentativas de impor um modelo único, que anulasse o diferente, com a pretensão de pensar que os privilégios de uns poucos estão acima da dignidade dos outros ou do bem comum”.

Francisco referiu-se às “ideologias totalitárias” do século XX, em que os países bálticos foram ocupados pela antiga URSS, referindo que as mesmas “romperam a capacidade de acolher e harmonizar as diferenças, semeando violência e desconfiança”.

“A «alma» deste povo continuará a gerar hospitalidade: hospitalidade para o estrangeiro, hospitalidade para os jovens, para os idosos, para o pobre, enfim hospitalidade para o futuro”, prosseguiu.

A presidente lituana, por sua vez, evocou diretamente as experiências vividas sob “o nazismo e o estalinismo”, deixando votos de que a visita do Papa possa ajudar a fazer “germinar a esperança.

Após o encontro, Francisco desloca-se para a nunciatura apostólica (embaixada da Santa Sé) em Vilnius, onde almoça; o programa desta tarde inclui uma visita ao Santuário Mater Misericordiae, um encontro com jovens e uma visita à Catedral da capital lituana.

OC

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