Lisboa: Tronos de Santo António de volta às ruas

Museu ajuda a reavivar tradição que nasceu após terramoto de 1755

Lisboa, 12 jun 2015 (Ecclesia) – O Museu de Santo António em Lisboa associou-se ao município local para relançar os tronos de Santo António, por ocasião das festas populares deste ano, tradição nascida após o terramoto de 1755.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o coordenador do museu recorda a história à volta desta iniciativa, que começou depois da catástrofe natural que atingiu a cidade, visando a reconstrução da igreja de Santo António, que tinha ficado completamente destruída.

As comunidades alfacinhas realizaram “uma série de peditórios e as crianças também se quiseram associar, erguendo pequenos tronos à porta de casa para pedirem o tradicional tostão de Santo António”, explica Pedro Teotónio Pereira.

O Museu de Santo António, em parceria com a EGEAC – empresa municipal responsável pela animação cultural da região de Lisboa, apostou na revitalização dos tronos, “convidando a população a aderir também”.

Além de ter disponibilizado cerca de 80 tronos mais pequenos para serem decorados pelas gentes e coletividades dos vários bairros, o museu tem atualmente exposto um trono dedicado a Santo António, com mais de dois metros de altura

Nestes dias de festa, estas peças podem ser vistas e apreciadas por visitantes e turistas, um pouco por toda a cidade, havendo mesmo um roteiro delineado para o efeito que pode ser pedido junto dos serviços do museu.

Para Anabela Moisés, dona de uma mercearia em Alfama, “nascida e criada no bairro”, este género de iniciativas “puxam” pelas pessoas e são também uma oportunidade para as pessoas do bairro se juntarem e fazerem a festa.

Por isso mesmo, fez questão de participar na iniciativa dos tronos, com uma peça inspirada em “azulejos antigos” e onde não faltam “os noivos” de Santo António e os manjericos, feitos a partir de “cápsulas do café”.

Outra comerciante que se associou a esta iniciativa, Anabela Teixeira, mostra orgulhosamente o seu trono com “um Santo António em croché” e decorado com manjericos e flores.

“O Santo António é uma base de um rolo de uma máquina registradora, para fazer mais peso, e depois enchi com fibra de vidro. Quanto aos manjericos, como faço alguma reutilização das cápsulas de café, resolvi fazer o vaso em capsulas, com um pompom em lã a fazer de manjerico”, salienta.

Embora não seja natural de Lisboa, Anabela Teixeira é “devota de Santo António” e acredita que são estas iniciativas que permitem às gentes locais salvaguardarem “as suas raízes, que infelizmente se vão perdendo”.

“Por exemplo hoje entrou-me aqui uma senhora que começou a chorar porque se lembrou de quando era nova, o trono que fazia quando era miúda”, conta a vendedora.

Um ano depois da reabertura do Museu de Santo António ao público, com imagem renovada e uma grande aposta nas tecnologias multimédia, o balanço é extremamente positivo.

“Para nós tem sido um ano de avaliação e de perceber a reacção das pessoas e elas têm gostado muito. Estamos a contar a história de Santo António, que muita gente não conhecia em profundidade, e depois estamos a divulgar muito as tradições associadas a Santo António, que são uma característica muito portuguesa e que Portugal espalhou para o mundo inteiro”, frisa Pedro Teotónio Pereira.

Para o futuro, o museu pondera novos modos de mostrar Santo António às pessoas, sobretudo ao nível da “recolha do património imaterial” existente à volta do santo.

JCP/OC

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