Lisboa/Sínodo: «Pobreza, emprego e crise financeira» através de novos olhares

Iniciativa «Escutar a Cidade» debateu papel da Igreja no atual contexto social

Lisboa, 17 abr 2015 (Ecclesia) – A quarta sessão da iniciativa ‘Escutar a Cidade’ debateu o tema ‘Pobreza, emprego e crise financeira’, questão “incontornável” pelo contexto que a sociedade portuguesa está a viver, através de quatro visões de diferentes áreas profissionais.

O jornalista Fernando Alves, que abriu o encontro no Fórum Lisboa, destacou a “coragem” do Papa e pediu que ninguém adormeça para que os que “não apoiam” Francisco não o “molestem”.

O conferencista, que se apresentou como homem de esquerda, disse esperar que a “Igreja vá além do assistencialismo” e faça “política” de “compromisso de fidelidade com o bem das pessoas”.

À Agência ECCLESIA, a socióloga Isabel Guerra explicou que a partir de três grandes questões quis apresentar um olhar sobre a pobreza “talvez um pouco diferente”.

Desta forma, refletiu sobre a pobreza do ponto de vista do desenvolvimento porque “parece que a culpa” “é dos pobres” mas é o “modelo de desenvolvimento que está em causa” e explicou que no atual contexto de “vulnerabilidade”, “todos” estão sujeitos a tornarem-se pobres.

Por fim, refletiu sobre como muda a “conceção do mundo e a conceção da ação” sobre o mundo pelo fato da pessoa ser pobre: “As transformações de identidade e o impacto na mobilização coletiva.”

Isabel Guerra sugeriu que a Igreja deve ter uma equipa de reflexão sobre a atualidade e que dê visibilidade “às questões da desigualdade” na sociedade portuguesa.

Às paróquias e instituições particulares de solidariedade social aconselhou que atuem mais no “desenvolvimento” e aos cristãos com responsabilidade na gestão de recursos humanos para que sejam capazes de “respeitar o trabalho, os salários justos e a relação família-emprego”.

“O trabalho está a ser desvalorizado e não é só no ponto de vista salarial. É do seu ponto de vista simbólico, o que significa o trabalho e o trabalhador nesta sociedade”, começou por alertar António Brandão Guedes.

À Agência ECCLESIA, o especialista em relações de trabalho e sindicalismo, que colabora assiduamente com os movimentos de trabalhadores cristãos, considera que “é necessário” que a Igreja na sua tradição, “das encíclicas sociais”, tenha presente as mudanças laborais e reflita sobre este tema.

“É necessário que os cristãos se empenhem mais, estarem mais efetivos nas organizações de trabalhadores”, observou.

O economista Pedro Lains “fundamentalmente” relacionou a crise financeira com o problema do emprego e considera ser necessário estabelecer “uma ponte” sobre a possível alternativa às “políticas económicas” seguidas que tiveram “alta repercussão nos níveis de emprego”.

Para o investigador é importante “mudar a interpretação” sobre o que aconteceu porque existe uma “voz corrente” que “culpabiliza” os portugueses e o seu comportamento dando menos atenção a “fatores mais importantes de nível económico e financeiro” relacionados com “os problemas de estrutura da economia portuguesa”.

A organização fez um balanço “extraordinariamente positivo” destes encontros, seja pela adesão, “sempre” entre 250 a 300 pessoas, seja pela diversidade dos oradores até “foi ganha” com “interpelações muito boas”.

D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, marcou presença no encontro promovido por movimentos católicos para preparar Sínodo diocesano de 2016.

No dia 14 de maio, o quinto e penúltimo encontro da iniciativa ‘Escutar a Cidade’, tem como tema ‘Ciência, arte e conhecimento’, no Fórum Lisboa, a partir das 19h00.

CB/OC

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