Lisboa: Ressurreição e Páscoa acontecem mesmo para pessoas sem fé

Experiências de sacerdote de Carcavelos e ex-toxicodependentes e sem-abrigo aproximam a Igreja de «homens que perderam a dignidade»

Lisboa, 08 abr 2012 (Ecclesia) – A ressurreição e a Páscoa acontecem mesmo para quem não tem fé afirma o padre António Teixeira que acompanha antigos sem-abrigo, ex-toxicodependentes e pessoas seropositivas na Casa Jubileu, na paróquia de Carcavelos, Diocese de Lisboa.

Para o sacerdote, o domingo de Páscoa não se pode “restringir” a um dia de calendário, mas tem de “acontecer todos os dias na vida da Igreja e dos homens”, afirma à ECCLESIA.

“A falha da Igreja é fazer do anúncio uma festa distante do coração e da vida concreta das pessoas”, mas, indica, “a ressurreição ou incarna na vida da Igreja e dos crentes ou torna-se uma liturgia infecunda e vazia”.

Segundo o pároco de Carcavelos, a ressurreição não pode ser entendida apenas como “sobrenatural”.

“A ressurreição da carne será uma realidade diferente, mas «o estar no colo de Deus» prepara-se na medida em que somos já homens novos, em que vamos deixando morrer em nós o pecado, a injustiça, a infâmia, os orgulhos e vaidades, para aqui sermos testemunhas dessa vida nova que acontece hoje na humanidade carnal”.

O sacerdote de 46 anos explica que a ressurreição acontece “no agora da história”: “Quando enxugamos uma lágrima, acendemos uma centelha de esperança num coração desesperado, quando pomos um coração a acreditar que o dia pode ser diferente”.

A Casa Jubileu é uma valência do Centro Comunitário de Carcavelos para homens com uma passado ligado a drogas, álcool e sem-abrigo, que o sacerdote explica terem perdido a “dignidade e a vontade de viver”, pessoas que sofreram e “fizeram sofrer”.

Há 20 anos quando o padre António esteve na paróquia, a Casa Jubileu deu os primeiros passos e anos depois, ao regressar, o sacerdote quis passar um tempo com eles e “mostrar que a Igreja, na figura do pastor e do padre”, era igual a eles e estava com eles.

Numa viagem de uma semana com 16 utentes desta valência, à capital espanhola, o padre António Teixeira afirma terem realizado um lava-pés recíproco.

“Quando nos propomos servir, mesmo que isso escandalize os cristãos de pantufas e de sofás, somos surpreendidos com o Cristo escondido nos coração dos marginalizados, que nos esmagam e convencem que é aí que encontramos Deus”, explica o sacerdote.

“Eles perceberam que a Igreja não é um conjunto de gente que prega em sermões, mas gente que está ao lado deles e os olha como iguais”, acrescenta, recordando uma das “experiências mais fantásticas que vive neste ano pastoral, aqui na paróquia”.

Da figura de um “padre ausente, com quem não privavam”, os utentes da Casa Jubileu conheceram “o padre é um homem que tem fé, mas que duvida, que vacila e cai, mas que também sonha”.

O sacerdote, por sua vez, diz ter descoberto neles Jesus.

“Esta experiência mostra que a Páscoa acontece e não está confinada a um domingo de calendário”, afirma, acrescentando que alguns participam agora na missa e “estão a aprender a rezar”, sem que isso lhes tenha sido pedido.

“Mesmo que não lhes chamem ressurreição, porque o caminho de fé é diferente em cada um, mas quando sorriem, quando sonham, quando acreditam mais em si mesmo, o que é isso senão ressurreição?”, finaliza.

A entrevista ao padre António Teixeira foi transmitida este domingo de Páscoa no programa Ecclesia na Antena 1, às 06h00.

LS

 

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