Lisboa: Representantes das comunidades católica, islâmica e judaica abordaram papel da religião na cultura

Islão «não é uma cultura dominadora», frisou o xeque David Munir

Lisboa, 15 abr 2015 (Ecclesia) – O papel da religião na cultura, face à atual conjuntura social e aos fundamentalismos que emergem no Médio Oriente, juntou no Centro Cultural de Belém em Lisboa representantes das comunidades católica, islâmica e judaica em Portugal.

D. Carlos Azevedo, atualmente em Roma como delegado do Conselho Pontifício da Cultura, destacou a importância dos católicos, “num contexto cultural resistente, estranho e indiferente ou até hostil” à fé, serem capazes de “contribuir com alternativas viáveis” para “um conviver sólido e com futuro”.

Própria “de uma sociedade à deriva e em rápida transformação”, esta conjuntura requer “insistente acompanhamento no caminho da verdade e da paz, renunciando a qualquer violência”, salientou o bispo católico.

Do lado da comunidade islâmica, o xeque David Munir, imã da Mesquita Central de Lisboa, frisou que o Islão “não é uma cultura dominadora” nem “se fecha a outros valores e a outras culturas”.

É sim “uma miscelânea de culturas”, que não é “nem Oriente nem Ocidente” e por isso acredita no “diálogo” e na capacidade de “escutar o outro”.

Esther Mucznik, vice-presidente da comunidade israelita em Lisboa, reconheceu que a religião têm sido por vezes “transformada em ideologia ao serviço do poder”, em nome da qual “se cometem as maiores barbaridades”.

No entanto, ela é e deve continuar a ser “um património fundamental da sociedade”.

A líder judaica deixou ainda uma interpelação ao Ocidente, que “nunca gerou nenhuma grande religião”, contudo foi aqui que surgiram ideologias como “o socialismo e o liberalismo”.

Uma deixa aproveitada pelo político e juiz Álvaro Laborinho Lúcio, que encerrou a conferência, para questionar se “muitas das lutas políticas e religiosas” não “terão a ver” com esta dicotomia, de um lado “o apelo à fé e do outro o apelo aos ditos valores ocidentais?”.

 Citando a encíclica do Papa Francisco, “A Alegria do Evangelho”, o atual presidente do conselho geral da Universidade do Minho destacou a importância da religião enquanto geradora de “pensamento crítico”, de uma “educação que ensine a pensar criticamente”.

Também como meio de “reabilitação da Palavra” enquanto “instrumento de pensamento”, de “defesa” de valores próprios.

“Outra dimensão essencial é a de tempo”, sustentou Laborinho Lúcio, considerando este talvez um dos pontos onde a dimensão e reflexão religiosa, a cultura e as pessoas mais devam encontrar-se.

Uma sociedade que cultiva o “imediato” deixa pouco “espaço temporal para a renovação de valores”, concluiu.

Intitulada "A cultura, para lá da religião", a conferência inseriu-se no Fórum Internacional "O Lugar da Cultura" que está a decorrer até sexta-feira no Centro Cultural de Belém,

Uma iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura para ajudar a refletir sobre o papel que a cultura tem na construção e desenvolvimento das sociedades modernas. 

JCP

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