Lisboa: Patriarca preside a celebração com a cruz da primeira Eucaristia no Brasil há 525 anos, assinalando «dia de memória»

D. Rui Valério presidiu a Eucaristia na Capela da Embaixada do Brasil em Lisboa, abordando «os valores» captados «a partir da cruz»

Foto: Diogo Paiva Brandão/Patriarcado de Lisboa

Lisboa, 15 abr 2025 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa presidiu, esta segunda-feira, à Missa na Capela da Embaixada do Brasil em Lisboa, na presença da cruz que esteve na primeira celebração eucarística no país da América do Sul, em 1500.

“Desejamos viver esta Eucaristia muito na configuração da primeira Eucaristia celebrada há 525 anos, onde até o celebrante estava o ar livre – e, portanto, aqui, estamos todos, literalmente, na mesma barca”, afirmou D. Rui Valério, informa o Patriarcado de Lisboa.

A celebração aconteceu a convite do embaixador do Brasil em Lisboa, Raimundo Carreiro, em homenagem aos 525 anos da primeira Missa celebrada no Brasil, pelo frade português Henrique Coimbra, em Santa Cruz Cabrália, no atual estado da Bahia, e como parte das comemorações dos 200 anos da assinatura do Tratado de Paz, Amizade e Aliança entre Brasil e Portugal (1825).

“Gostaria, do fundo do coração, de agradecer às autoridades, aos responsáveis do Brasil, aqui na pessoa de sua excelência o senhor embaixador. É um dia, este, de memória e, por isso, também, é um dia de esperança”, assinalou o patriarca.

D. Rui Valério destacou aquele como “um dia de memória, porque sobressai o sentido da história, o sentido de um caminho percorrido”.

“Na medida em que uma vida, um país, tem sentido de memória, tem grandeza, coragem, ousadia para se lançar na esperança”, acrescentou.

A Eucaristia foi concelebrada pelo Núncio Apostólico, D. Ivo Scapolo, que é o decano do Corpo Diplomático em Portugal, e pelo Padre Omar Raposo, reitor do Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor e capelão oficial da Capela da Embaixada do Brasil em Lisboa.

Perante parlamentares brasileiros e membros do corpo diplomático acreditado em Lisboa, o patriarca refletiu sobre os “valores” captados a “partir da cruz”, começando por dizer que esta é formada por “dois troncos que estão não paralelos, não um sobreposto ao outro, mas estão entrecruzados”.

“E uma nação como o Brasil, que se inspira na cruz, é por natureza um país que promove o encontro, é um país de comunhão. É um país que é irmão de todo o homem e mulher de boa vontade, independentemente da sua proveniência, independentemente da sua geografia”, salientou.

Segundo D. Rui Valério, “um país que se coloca à sombra da cruz, é um país que gera cidadãos que têm a realidade, a procura do encontro com o outro, com o tu, no seu ADN” e “o Brasil é isso, verdadeiramente”.

O patriarca de Lisboa realçou também a verticalidade da cruz, “que significa personalidade significa personalidade, significa carácter, significa força de resiliência, capacidade de não se vergar”.

“O povo do Brasil é isto”, apontou, frisando que “independentemente das suas muito ou poucas dificuldades, é um povo que está sempre de pé, é um povo de carácter”.

Foto: Diogo Paiva Brandão/Patriarcado de Lisboa

Sobre o “tronco da cruz que está na horizontal”, D. Rui Valério expressou que tal significa “os braços abertos, obviamente”: “É o acolhimento do outro na sua identidade própria, na sua especificidade, é o símbolo, por excelência, da comunhão”.

“Aquele tronco na horizontal significa igualdade, porque quando nós padecemos do sentimento de superioridade tendemos a olhar para os outros de cima para baixo.

Quando padecemos do sentimento culpado da inferioridade, de baixo para cima. Mas quando nós nos sentimos em pé de igualdade, como é que nós nos olhamos? Na horizontalidade”, enfatizou.

Na homilia no início da Semana Santa, o patriarca de Lisboa observou que “em Portugal, serão poucas as famílias que não têm uma relação de cariz familiar com o Brasil” e contou a história do avô António, que emigrou para terras brasileiras.

“O Brasil é um país irmão, mas tão próximo de todos nós e de cada um. Todos nós temos uma história que envolve essa nação irmã”, indicou.
Para D. Rui Valério, o Brasil “é uma nação de esperança”, porque sabe “cultivar, cuidar, sabe assentar todo o seu progresso – que faz parte, inclusivamente, do grande lema ‘Ordem e Progresso’ do Brasil –, mas faz parte, exatamente, da sua identidade como nação”.

O patriarca de Lisboa terminou a homilia assegurando que “iluminados pela cruz, há esperança” mesmo nas adversidades.

“Cada crise é uma nova oportunidade, cada queda é um motivo para se reerguer, com mais força e com mais convicção. Cada derrame de suor, de cansaço, é motivo para renovar a força do caminho”, concluiu.

No final da Eucaristia, o patriarca abençoou a Chancelaria da Embaixada do Brasil em Lisboa, que tinha sido reinaugurada no dia 10 de janeiro, e pegou na cruz da primeira Missa celebrada no Brasil, há precisamente 525 anos.

Pertencente ao Tesouro-Museu da Sé de Braga, a relíquia vai seguir agora em peregrinação rumo a várias cidades do Brasil até o fim do mês.

LJ/OC

Partilhar:
Scroll to Top