«Não podemos separar a fé da defesa da dignidade humana» – D. Rui Valério

Lisboa, 23 out 2025 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa alertou hoje para os discursos de “intolerância e desprezo pelo diferente”, que promovem a xenofobia e a discriminação das minorias.
“Em muitas sociedades, vemos renascer perigosas ideologias racistas, nacionalismos excludentes e hostilidade contra minorias étnicas ou religiosas. Estrangeiros, migrantes e refugiados são frequentemente vistos não pela lente da compaixão, mas como ameaça ou peso”, disse D. Rui Valério, falando na III Jornadas do Bem-Estar, organizadas pelo Centro Social Paroquial de Nossa Senhora da Luz, em A-dos-Cunhados.
A conferência, intitulada ‘A Dignidade da Pessoa Humana e a Responsabilidade das Instituições da Igreja’, evocou os ensinamentos do Papa Francisco, convidando todos a “derrubar muros e criar uma cultura de encontro e diálogo”.
“A integração plena dos pobres, dos deficientes, dos migrantes, de todos os marginalizados, deve estar no horizonte de nossas ações”, apelou o patriarca de Lisboa.
Não podemos fingir ignorância: mesmo em países desenvolvidos, há migrantes escravizados, há vítimas do tráfico nas cidades, muitas vezes invisíveis aos nossos olhos. A Igreja sente o dever de ser voz desses irmãos e irmãs sofridos. A erradicação da escravidão moderna deve ser parte integrante do nosso compromisso em favor da dignidade humana hoje.”
O patriarca de Lisboa destacou que o serviço à dignidade humana por parte da Igreja “passa, de modo especial, por aquilo que o Papa Francisco enfatizou como estilo de ação, sintetizado em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar”.
A intervenção reforçou que esta dignidade “não depende de nenhuma condição externa – seja de raça, status social, saúde ou qualquer outra circunstância”.
“Não há circunstância alguma que possa anular ou diminuir o valor de um ser humano. Cada vida, desde a conceção até à morte natural, em qualquer condição física ou mental, possui uma dignidade que nada e ninguém pode revogar”, acrescentou D. Rui Valério.
O discurso analisou vários desafios contemporâneas, como as guerras, “uma derrota para a humanidade”, e a “crise da instituição familiar” ou a “cultura do descarte”.
“Não podemos separar a fé da defesa da dignidade humana, a evangelização da promoção de uma vida digna para todos”, enfatizou.
O patriarca de Lisboa apelou à colaboração das instituições eclesiais com a sociedade civil, outras religiões e cidadãos de boa vontade para criar “uma aliança cultural” pela dignidade “inviolável” da pessoa humana, considerada “terreno comum e ponte de diálogo entre culturas e credos”.
“Cada pequeno gesto conta: da escuta de alguém que sofre às grandes decisões internacionais, tudo o que for feito em prol da dignidade humana ressoa na eternidade, pois é prolongamento da obra redentora de Cristo”, concluiu.
OC