D. Rui Valério afirma que Igreja Católica em Lisboa vive situação dos migrantes sem casa e sem documentação «com um sentimento e com uma abertura de solidariedade»
Lisboa, 12 jun 2024 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa afirmou que o problema da habitação é mais do que “um ponto meramente marginal” na vida sociedade, elogiando a “vontade férrea” da sociedade e da Igreja em responder aos desafios do acolhimento aos imigrantes.
“Quando falamos de habitação não estamos a falar de um ponto meramente marginal, é fundamental. A casa, a habitação, não é apenas o lugar onde repousamos, onde nos encontramos, onde recebemos amigos, onde descansamos, é onde realizamos a nossa identidade. É onde nos reencontramos, antes de mais, connosco, por isso é um direito fundamental”, disse D. Rui Valério, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O patriarca de Lisboa destaca que o português “dá e oferece o que tem e o que não tem”, e considera que “a grande questão” foi ter surgido uma situação que não estava prevista, porque durante décadas, a sociedade foi “alimenta” pela convicção de que “só o português é emigrante”.
Para além de turistas, chegam a Portugal pessoas à procura de melhores condições de vida, e há focos, como em Arroios, na capital portuguesa, onde é mais visível a incapacidade de acolhimento, e D. Rui Valério afirma que a Igreja Católica se posiciona “sempre com o coração nas pessoas, e, ao mesmo tempo, com os olhos e com o coração no Evangelho”.
Segundo o patriarca, a “Igreja de Lisboa vive face a esta situação com um sentimento e com uma abertura de solidariedade”, mas solidariedade no sentirem-se “a partilhar aquela angústia de quem não tem teto, a aflição”, e recordou que, há relativamente pouco tempo, “um irmão de um país irmão na língua e na história”, contava-lhe que “não podia arranjar trabalho porque não tinha documentação”.
“Não havendo documentação, não arranja trabalho e não arranja casa e não arranja… isto é uma aflição para a qual eu à noite não posso dormir tranquilo e descansado. Eu vivo isto como um problema meu”, acrescentou.
D. Rui Valério salienta que a Igreja Católica traduz a solidariedade em “ações concretas de auxílio” e todas as instituições “aumentaram muito não só o seu trabalho como a capacidade para dar resposta”.
“Existe uma vontade férrea por parte da sociedade e por parte da Igreja de responder a este drama”, salientou, explicando que nesta “preocupante e dramática situação” encontra “uma oportunidade para Portugal”, porque o país “enfrenta um inverno demográfico” e também porque em alguns setores da economia “há falta de mão-de-obra”.
O responsável católico realçou que a Igreja está a ajudar, “desde a primeira hora”, como promoção de encontros, de diálogos pela paróquia, “seja em Arroios, seja no largo da igreja dos Anjos, seja em outras geografias”, os grupos de voluntários que partilham alimentos, roupa, medicamentos.
Eu gostaria de recordar, antes de mais, que em todas as declarações de cariz civilizacional que foram proferidas à face da Terra e cuja inspiração é o Evangelho de Jesus Cristo, um dos direitos que assiste a todo o ser humano é o direito à habitação, o direito à casa”.
Na entrevista, ao Programa ECCLESIA (RTP2), transmitida na véspera do dia de Santo António, D. Rui Valério destacou que “é difícil alguém chegar a Lisboa que não venha de uma proveniência onde Santo António não chegou já há muitas décadas”, independentemente da geografia, seja na Europa, seja no Oriente, “Santo António já lá está”.
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