Lisboa: Patriarca defende «ética do acolhimento» na relação com os migrantes

Encontro na UCP apresentou Igreja como «lugar de esperança» para quem deixa a sua terra

Lisboa, 14 mar 2025 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa defendeu hoje uma “ética do acolhimento”, com raízes bíblicas, na relação com os migrantes que chegam a Portugal, sublinhando o valor “inegociável” de cada ser humano.

“Eu estou aqui, mas não pertenço aqui. Isso mobiliza-nos para uma primeira dimensão, que é a da hospitalidade”, referiu à Agência ECCLESIA D. Rui Valério, na sede Universidade Católica Portuguesa (UCP).

O responsável inaugurou o encontro intitulado ‘A Igreja, Lugar de Esperança’, para debater a ação da Igreja no acolhimento e integração de pessoas migrantes.

“A sociedade de Lisboa e a sociedade portuguesa em geral, diria até a sociedade ocidental, têm como uma das suas particularidades na atualidade esta presença de migrantes, homens e mulheres que vêm por tantas razões, por motivos vários, mas que da nossa parte nos mobilizam para o acolhimento e para a hospitalidade”, indicou o patriarca de Lisboa.

D. Rui Valério evocou os códigos éticos e morais da Bíblia, recordando que o próprio Jesus foi “migrante”, citando o Papa para sublinhar que se vive “uma mudança de época”.

“O que o testemunho da história nos diz é que os grandes passos civilizacionais, as grandes transformações que se operaram na humanidade, sobretudo na configuração do mundo, aconteceram graças aos fluxos migratórios”, acrescentou.

O Jubileu da Caridade, dinamizado entre janeiro e março pelo Departamento da Pastoral Scciocaritativa do Patriarcado de Lisboa, é dedicado esta semana ao Jubileu dos Migrantes.

Na sua intervenção inaugural, D. Rui Valério saudou todos os envolvidos num projeto “humanista e humanitário” de acolhimento a quem chega de fora do país.

“A migração, para o Cristianismo, em primeiro lugar é um facto teológico, uma categoria teológica”, observou.

“Migrantes somos todos nós”, insistiu.

O CEPAC – Centro Padre Alves Correia foi a instituição escolhida para receber a Cruz do Jubileu da Caridade, promovendo uma série de iniciativas (litúrgicas, de missão e reflexão), em parceria com a Cáritas Diocesana de Lisboa.

Ana Mansoa, diretora-executiva do CEPAC, deixou uma série de interpelações que o Papa Francisco tem deixado em relação aos migrantes, sublinhando a “humanidade do indivíduo” e não o seu estatuto.

A responsável convidou a rejeitar “rótulos que desumanizam e reforçam estereótipos”, pedindo “habitação digna” e o reconhecimento das habilitações dos migrantes.

“Só é possível construir um presente melhor se todos estivermos envolvidos”, advogou.

Norina Sohail, estudante de Comunicação Social da UCP, refugiada afegã, apresentou o seu testemunho na sessão desta tarde, assumindo o “entusiasmo” com que vive esta nova fase da sua vida.

“Durante o primeiro ano foi difícil, foi muito difícil, mas os meus professores ajudaram-se muito durante este tempo”, referiu, falando em português e em inglês.

Norina Sohail está a trabalhar com mulheres afegãs, procurando ajudá-las a vir para Portugal, e publica reportagens para dar voz a essa população.

A sessão contou ainda com intervenções de Carmo Diniz, diretora-executiva da Cáritas Diocesana de Lisboa, que destacou o esforço de “acolher todas as pessoas”; Eugénia Costa Quaresma, diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), a qual convidou todos a “ampliar o bem que a Igreja faz”; e Pedro Góis, diretor científico do Observatório das Migrações, que sublinhou o “número crescente da diversidade dos migrantes”.

O encerramento do Jubileu dos Migrantes acontece este domingo, na Basílica da Estrela, às 12h00, com a entrega da Cruz do Jubileu da Caridade à Cáritas Diocesana de Lisboa.

OC

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