«Foi o exemplo magnífico daquilo que o Concílio Vaticano II nos deixou ao propor uma relação muito ativa Igreja-mundo» – D. Manuel Clemente
Lisboa, 07 out 2021 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa presidiu hoje à Missa de corpo presente do padre Feytor Pinto, na igreja do Campo Grande, recordando a sua capacidade de diálogo e de criar pontes na comunidade católica e na sociedade.
“O padre Vítor foi um exemplo magnífico daquilo que o Concílio Vaticano II nos deixou, ao propor uma relação muito ativa Igreja-mundo, em que as comunidades cristãs longe de estarem fechadas sobre si próprias se transformam como lugar de encontro e proposta para a sociedade envolvente através dos seus membros, padres ou leigos”, disse D. Manuel Clemente aos jornalistas.
O responsável recordou que o padre Vítor Feytor Pinto aderiu “de alma e coração” ao Concílio Vaticano II (1962-1965), com “uma vida e um entusiasmo espantoso”.
“Não conheço ninguém que durante tanto tempo, em tantas fronteiras e com tanta expansão representasse esta fantástica mensagem do Concílio Vaticano II”, disse na homilia da celebração.
O padre Vítor Feytor Pinto, que residia na Casa Sacerdotal da diocese lisboeta, faleceu aos 89 anos de idade, durante a madrugada desta quarta-feira, no Hospital da Luz.
O cardeal-patriarca evocou os vários encontro que teve com o sacerdote, salientando que nunca o encontrou “esmorecido” e mesmo com problemas de saúde, era um homem de uma “vitalidade extraordinária”, muito ecuménico, que “não punha restrições nenhumas nos seus contactos, nas suas amizades”.
O que ele fez na sociedade e o que o próprio Estado lhe pediu, por exemplo no campo da saúde, e depois na defesa da vida em todas as suas fronteiras, tudo isto levava-o ao encontro de muita gente e também a acolher muita gente”.
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No final da Eucaristia, Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República realçou que o padre Vítor Feytor Pinto foi “um dos vultos” da Igreja Católica, que “mais acompanhou a viragem da Igreja do passado para a nova mensagem do Vaticano II”.
“Ele foi das figuras mais importantes na abertura à sociedade, mas também na mudança da sociedade portuguesa. É por isso que cardeal-patriarca, bispos um pouco de todo o país, reconhecem o papel único que ele teve para Portugal. Não foi só para a Igreja, foi para Portugal”, desenvolveu.
Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que o padre Feytor Pinto, “ainda no regime anterior”, lançou o ‘Movimento por um Mundo Melhor’ em Portugal que enchia o pavilhão dos desportos e “pregava uma abertura da Igreja à sociedade, à saúde, à educação, à justiça, à igualdade, à solidariedade social”.
“Começou aí um percurso que durou meio século e em que esteve presente em tudo, e, nesse sentido, foi muito importante”, afirmou o chefe de Estado.
José Manuel Pureza, deputado e vice-presidente da Assembleia da República, indicou que a sua presença na celebração mostrava a “pluralidade de correntes de opinião” em Portugal, vendo no padre Vítor Feytor Pinto “alguém que só pode ser respeitado”.
“É indiscutível que o padre Vítor Feytor Pinto foi alguém que marcou com o seu testemunho de vida, de palavra, de ação, um modo de a Igreja estar no mundo, marcado pela abertura, pelo espírito de tolerância, pelo acolhimento das diferenças. Sempre com enorme respeito, mas também com uma grande convicção”, apontou o representante do Parlamento nesta celebração.
O padre Vítor Feytor Pinto, nasceu em Coimbra, em 1932; aos 10 anos entrou no seminário e foi ordenado presbítero na Diocese da Guarda, a 10 de julho de 1955, que serviu durante dez anos.
D. Manuel Felício, atual bispo da Guarda, marcou presença na Eucaristia desta manhã em Lisboa, e observou que o sacerdote “partiu à procura do mundo”.
“Teve sempre no coração e sempre manifestava com grande apreço ter sido um sacerdote do presbitério da Guarda, que foi até ao fim. É por essas razões que estamos aqui a evocá-lo, a fazer memória e também a fazer sufrágio por ele”, acrescentou.
CB/OC