«A reinserção social não é um favor, é um direito», afirmou José Brites
Lisboa, 25 fev 2025 (Ecclesia) – A Associação ‘O Companheiro’, instituição de inserção de reclusos e ex-reclusos, fundada há 38 anos, inaugurou novas instalações que são “um desafio” desejado há muitos anos, o diretor-executivo afirmou hoje que “a reinserção social não é um favor”.
“Era algo que desejávamos há muitos anos, porque estávamos efetivamente numas instalações menos condignas. Eram pavilhões pré-fabricados, no centro da cidade de Lisboa, e precisávamos mesmo de encontrar uma resposta que pudesse dar uma maior dignidade às pessoas que estão a sair da prisão”, disse José Brites, esta terça-feira, 25 de fevereiro, em entrevista à Agência ECCLESIA.
‘O Companheiro’, comunidade de inserção de reclusos, ex-reclusos e suas famílias, inaugurou novas instalações, na quinta-feira, dia 13 de fevereiro, um edifício em Benfica, cedido pela Câmara Municipal de Lisboa; esta associação foi fundada pelo sacerdote luso-holandês Dâmaso Lambers (1930-2018), há 38 anos, em 1987.
“Nós temos uma residência de 29 camas, vamos aumentar quatro camas relativamente ao que tínhamos. É muito significativo porque, é uma resposta única no país, são pessoas que se viram privadas de liberdade, são pessoas que ainda estão presas, porque recebemos pessoas em saída jurisdicional, que não têm capacidade financeira, as famílias não querem saber deles”, explicou o entrevistado.
Segundo José Brites, “há um estigma, muitas vezes”, que a sociedade tem em relação às pessoas que ‘O Companheiro’ apoia e precisavam de “lavar a cara para poder dar uma resposta mais condigna”, porque “as pessoas estão muito individualizadas” e não olham para o outro com aquilo que “é a necessidade de tornar uma sociedade mais humana”.
“A reinserção social não é um favor, é um direito, as pessoas têm direito a ter esta vida mais condigna. Já foram julgadas; eles já foram condenados. Agora tem a sociedade, temos nós, que fazer algo diferente, que é dar competências a estas pessoas.”
O diretor-executivo da associação destaca que o objetivo, da Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que tem como lema ‘Para que não haja homem excluído pelo homem’, é “sempre” a reinserção “dar competências, dar aquilo que é o básico para poderem, obviamente, seguir com a vida deles em frente”.
‘O Companheiro’ desenvolve a sua ação a partir de quatro vetores – apoio à comunidade; processo para a inclusão; formação e uma escola social – e procura que seja “uma resposta holística”, dando às pessoas o que elas “precisam”, que é “estar ocupadas, formação, as pessoas precisam de amor”.
“A escola social tem um propósito que é, no fundo, trabalharmos questões que são mais vulneráveis, desde as crianças até aos mais velhos. O mundo está a atravessar, neste momento, um problema que é o envelhecimento da população, nós também sentimos isso, e precisamos, claramente, de criar respostas que sejam, de alguma forma, inovadoras, para que estas pessoas consigam sentir-se verdadeiramente acolhidas numa sociedade que, muitas vezes, esquece”, acrescentou José Brites, no Programa ECCLESIA, transmitido hoje, na RTP2.
Neste sentido, ‘O Companheiro’ procura também formar técnicos, “criar pessoas que, um dia, vão conseguir, por aquilo que é a sua formação, fazer esse trabalho”, segundo este responsável, a associação está há 38 anos na Freguesia de Benfica porque sentem-se “acolhidos”, têm “um feedback muito, muito positivo”.
O novo edifício da associação de reinserção foi inaugurado e benzido pelo patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, no dia do seu 38.º aniversário, e resultou de “um investimento municipal superior a um milhão e setecentos mil euros”; a residência masculina – com quartos individuais, duplos e triplos – tem salas de apoio, de jogos e convívio, espaços de formação e serviços de apoio social, jurídico e psicológico, refeitório e cozinha, carpintaria, e um banco de roupa.
LS/CB/OC